quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Do Amor

Os seus olhos e os meus olhos, e se eu pudesse me utilizar de sinestesias, as utilizaria todas: o que acontecia dentro de mim era um caos de sensações, e eu poderia tocar o teu cheiro, amar o teu âmago, temer o teu gosto e viver a tua alma.Os seus olhos e os meus olhos e um espaço tão curto que não seriam necessárias pontes ou construções arqueológicas que ficariam para sempre, como um herói que vence a batalha e não tem mais utilidade, sentindo apenas saudade do que foram capazes. Não seriam necessárias pontes porque a distância de um braço é móvel: entre eu e você, nossos braços se entrelaçariam e as pontes deixariam de existir. Os seus olhos e os meus olhos e as horas valsando, lentamente, enquanto eu não percebia que o tempo passando era a minha alma se espremendo, de medo de ter de ir embora. O tempo que acelerava o meu ritmo interno, meu coração batendo e os segundos passando tão rápido que eu não pude desviar o olhar, te devorando as células, te devorando essa tua luz que não cega, apenas envolve. E se eu pudesse me utilizar de metáforas, se pudesse me utilizar das grandes marcas de estilo, as utilizaria todas: o amor que eu já sabia que existia, eu, você, os meus e os seus olhos.

Nostalgia


Hoje sinto saudade
saudade de você
E saudade de nós, saudade de te abraçar!
E saudade da música
do tempo, do sol que eu achava que brilhava mais bonito
do violão, saudade da rua que andava sem buracos
e de não pensar na hora que anoitece
de não precisar esquecer
nem seguir em frente
saudade de me saber viva
mais do que ser pulsante, vivo.
E de uma alma na qual apostar o corpo
E de um corpo aonde encostar o copo
E de um amor que tenha gosto de esperança

Tenho
tenho saudade de mim

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Quem mandou as nuvens redesenharem o seu rosto?
Não consegui fingir que não me importava...

Sobre a dor

Dizem que revólver
dizem que facada
e dizem que fogo
eles dizem que isso dói
- e eu acredito! -
mas eu, que nunca apanhei,
acho que a maior dor
é esse coração batendo acelerado, acelerado,
ao ver ir embora aquele alguém,
um nosso amor,
que vai sem querer jamais ficar.
Estar sozinha
pode ser meu refúgio, quando estou fraca.
Pois nossa força só é testada
quando estamos envolvidos pelas pessoas.
Eu. Um breu.
Sou seu.

Quem teme
o escuro dos meus olhos?
Eles às vezes também podem brilhar.
Não espero mais esses dias passarem: eles estavam enrolando.
Se não passam eles, passo eu.
Atualmente, ando meio apaixonada por você
e meio apaixonada por mim...

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

- Quem era no telefone?
- Ah... era ele...
- E seu coração bateu mais forte?
- ... (Não. Claro que não. Ou bateu? Talvez... talvez tenha batido... ele queria me ver. Será que eu estou pensando nisso? Não, não bateu nada, foi só... um pouco de saudade... coisas da minha cabeça... Da minha cabeça não, da sua que me perguntou isso! Já faz tanto tempo... Passou! Mas... e isso tudo girando na minha cabeça? Não é um pouco como um coração batendo mais forte? E esse entusiasmo em vê-lo? Talvez eu sempre sinta um pouco disso, talvez porque o que eu senti por ele foi tão enorme, tão enorme que está resistindo, mesmo depois de tanto tempo... Talvez a imagem dele, a presença dele, a voz dele, talvez essas coisas me evoquem a algum lugar do passado em que eu fui mais segura... Talvez eu sinta saudade dele. Talvez eu tenha esperanças de que agora ele queira estar comigo! Bem... talvez, talvez sim, acredito que bateu um pouco mais forte sim...) Não. Claro que não!

domingo, 13 de dezembro de 2009

"Eu te conheço, e eu sei quando a sua risada não é verdadeira"

Nunca senti tanto medo. Será que você me conhece mesmo? Será que você sabe de verdade distinguir o meu tom de voz, a minha risada, será que você pôde me conhecer tanto? Eu permiti que você fosse tão perto? 
Por que você não me deixou te desvendar? Por que eu não pude desmistificar os seus traços? Você não deixou? Ou eu que não soube ir ao fundo?

sábado, 12 de dezembro de 2009

Venta, venta, venta.
E não muda nada.
Quem se importa se as árvores caírem?
Quem se importa com o frio?
Quem se importa com o breve sussurrar?
E se a chuva caísse... em frios leitos
se o vento não esquecesse de farfalhar
e fizesse o gosto da dama-da-noite
perdurar pela manhã?
Se eu me encolher ao frio, quem se importa?
Quem diria que eu só preciso de um abrigo...
quem finalmente me ofereceria um abrigo?

Ninguém.

Venta, venta, venta.
E não muda nada.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Hoje choveu
hoje choveu em mim
mas as lágrimas passaram pela minha pele
e, ao invés de evaporarem,
entraram no meu corpo, molhando até a alma
como que enxaguando a minha vida
e eu pude ver algumas das minhas cores
escorrendo pela ponta dos dedos
- não fazia questão delas! eram tristes...

Hoje choveu.
Hoje choveu dentro de mim.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Esses dias têm se sentido vazios,
como se não soubessem a que vieram.
Eu e eles, nós não sabemos conviver.
Em alguns dias - nos mais tristes -
me deito e posso ver
a minha alma escorrendo
de dentro para fora
escorrendo, escorrendo,
até só sobrar a poesia.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

"Qualquer um de nós já amou errado, já odiou errado."
Nelson Rodrigues

Eu amei errado?
Sempre soube que não saberia o que fazer quando tivesse que amar
afinal, talvez amar tenha uma cartilha
apenas alguns sábios a têm
Talvez amar seja diferente para cada um
cada um com sua própria cartilha
Quando eu deveria ser amada
não soube o que esperava: meu manual de instruções veio em branco
mas
Se o seu manual veio escrito
Se você esperou alguma coisa
Eu fiz errado? Eu estraguei tudo? Dei muito pouco? Ofereci demais?
Eu te decepcionei nas suas expectativas?
Talvez eu precise aprender a amar...
Amar direito, como mandam as leis!
Para não acreditar, ao fim,
que errei o tempo todo, que eu só errei...
Eu sei, eu sei que à primeira vista parece que está tudo bem, eu sei que os sintomas são apenas de gripe, mas aqui dentro está está doendo! Vocês não conseguem entender mas está tudo doente, tudo aqui em mim, sinto dores nos órgãos, nos ossos, nos músculos, e no meu coração... Por favor me ajudem! Me internem num lugar calmo e bonito, aonde eu possa me recuperar! Me dêem remédios fortes, anestésicos, abraços! Me dêem antibióticos, dessa vez eu quero matar essas bactérias, esses vírus, quero matá-los todos! Quero ficar em paz...

domingo, 29 de novembro de 2009

Hoje, durante a noite, acordei e tocava no rádio uma das músicas que sempre me lembrarão você, e eu não pude evitar de chorar mais um pouquinho...

sábado, 28 de novembro de 2009

Será...

será que quando permitimos que uma pessoa vá para o passado, será que é possível resgatá-la? Ou, uma vez guardado, um ser humano pode passar a ser apenas lembrança? É saudável trazê-lo de volta? Pedir para que venha, corra para mim, me procure, me abrace, ainda saberemos nos olhar? Ou estaremos apenas chacoalhando folhas de papel completamente escritas, que não podem ser alteradas?

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

- Você não entendeu?
- O quê? O que eu deveria ter entendido?
- Eu te dei todos os sinais, e eu achei que você era capaz  de perceber as coisas.
- Me desculpe, você achou coisas demais de mim e se enganou. Mas talvez eu tenha fingido não ver, porque eu tive medo. Ou talvez porque eu estive confusa, porque os seus sinais me confundem, porque eu nunca consegui entender o que estava acontecendo.
- Eu não pude te dizer porque você se machucaria.
- Não consegue ver? Eu já estou machucada. Eu já estou inteira machucada, tão machucada que eu já nem consigo esconder... Mas agora estamos na metade do caminho: aqui não tem como resolver. Você precisa me dizer o que está acontecendo, se devemos voltar e estará tudo bem - e eu estou disposta a estar bem novamente -, ou se você quer ir em frente e terminar logo com tudo isso, e é claro que vai doer para mim, mas é claro que assim eu poderei passar por cima e é claro que vai cicatrizar e é claro que eu posso me virar: eu sempre pude. Eu só preciso que você me diga, para que eu saiba como eu tenho que agir.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Ir chorando, chorando, até que alguém apague as luzes e me diga que está tudo bem, que agora já passou. Até que alguém me abrace e espere todas as lágrimas acabarem, espere eu parar de soluçar, espere a dor toda se esvair e eu poder, pelo menos por mais algum tempo, transparecer alguma alegria.


Mas logo isso tudo passa...

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

nunca precisei de nada organizado para estar bem, mas hoje não consegui parar de pensar que tudo que eu queria era que tudo estivesse no lugar certo, alinhado, facilmente encontrável, não pude deixar de crer que para a manutenção de qualquer felicidade que houvesse em mim seria necessário espaço e claridade, mas me desesperei ao perceber que o problema não era nos objetos fora de lugar: era eu, eu inteira, que estava caótica.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

E se for só isso? Um corpo que procura outro corpo, que procura o silêncio, que procura alguém, ou que procura num corpo o que não tem em si próprio? E se for um mundo que procura alguém em quem se encaixar, e se esse alguém não puder aguentar um mundo inteiro? E se for só de poesia e alguns não conseguirem entender? E se for só de pó e eu for alérgica, se for de matéria orgânica, e se se decompor? E se forem só palavras e se não fizer sentido? E se for só isso?

domingo, 15 de novembro de 2009

O ciúme é essa criança chata que me cutuca, me cutuca, até abrir uma feridinha que, apesar de sarar em pouco tempo, também sangra um pouquinho.
Não consigo me segregar em compartimentos...
Por vezes olho para ela e vejo uma praia,
em outras vejo chuva
de vez em quando a vejo no topo do Everest,
ou é de deserto
Noutras vezes vejo o sol brilhando,
com sorte posso ver tempestades de areia!
ou uma tarde amena...

Às vezes penso que dentro de seus olhos escondem-se estações meteorológicas...
To destroy myself slowly until I don't trust love anymore. To destroy the pieces of what used to be a heart until there's no faith anymore. To destroy what used to be strong until there's nothing more than water and pain.
To turn love into hurt.

domingo, 8 de novembro de 2009

Primeiro sinal.
Segundo sinal.
Terceiro sinal.

Agora acendam-se as luzes da ribalta!
Primeiro ato,
o primeiro passo em cima do palco,
a primeira palavra que ainda não fez sentido.
O que encenaremos agora?
Podemos contar uma linda história de amor!
Ou uma trágica história de amor...
Talvez uma história daquelas que têm gosto de fim de tarde,
um amor com gosto de fim de tarde.

Segundo ato,
se já sabemos qual é a nossa história
se é que é uma história:
talvez seja apenas amor
puro, descrito em rubricas
se já sabemos disso tudo, contemos ao público:
eles esperam com alguma ansiedade pelo desenrolar
que as línguas e as mãos desembrulhem, com cuidado,
o fio condutor
Quando será o clímax?
Será que nós nos emocionaremos?
Será que nós seremos envolvidos pela luz?

Terceiro ato.
Agora nos perderemos entre as sensações
se já dissemos a que viemos,
já fizemos essa história acontecer
já vimos o amor ser encenado
- pois qualquer peça é amor sendo encenado -
agora a ribalta há de se apagar novamente
e a plateia há de ir embora
agora hão de limpar o palco
pegar os destroços
levá-los embora

O amor que esteve em cima do palco ainda está lá.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Das luzinhas de natal e o fim de um ano

Às vezes sou tão fraca! Andei sentindo medo... estou sentindo medo agora, talvez seja difícil de entender. Estou com medo do fim, e essas luzinhas de natal estão me mostrando que ele não demora a chegar! Quando enfeitam as ruas com luzinhas de natal meu coração aperta porque o ano acabou, apesar de eu ainda escrever a mesma data no caderno. Assim, terei de assumir que o tempo passou mais uma vez e talvez eu tenha ficado para trás. Em breve, terei de fazer uma nova lista - igual à que fiz no ano passado - com as coisas que desejo mudar em mim, e terei de acreditar que o fim de um ano representa renovação... mas para mim significa apenas o fim... o fim de algo que com certeza tem sido bom! E se o ano que vem de fato significar uma renovação, mas para algo tão diferente que eu considere pior? E se, novamente, eu for incapaz de me melhorar como desejei na lista? E se o ano quiser começar e eu não estiver pronta?

sábado, 31 de outubro de 2009

O meu tempo agora só pensa em você. Os meus dias agora só pensam em você. As minhas palavras agora só pensam em você, tanto quanto os meus silêncios.
Agora, o meu mundo é inteiro feito de você.
No safety around the place.
Please go away, we're evacuating the area so she can cry as much as she need.

Eu,

retórica, baseada em clichês, inútil.
(Mas eu amo, e isso já me transforma n'algo válido)
Esses óculos brilham no escuro! E, no escuro, refletem sua luz no espelho. Então poderíamos iluminar o recinto! Poderíamos iluminar um coração...
"Virar um mudo-protestante?"

Ou um mundo em silêncio...

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

o que eu não consegui falar

... e talvez no ano que vem eu não possa estar aqui, o que me desespera um pouco. Eu sinto medo de não viver esse momento novamente, não dentro desse lugar que é o meu mundo, o meu motivo. Eu sinto medo de, no ano que vem, não aguentar a barra e ter de desistir da minha maior paixão, desistir do lugar que pertenço, desistir dessa roda e dessas lágrimas e do cansaço e do caos de estar aqui. Pode parecer paradoxal, mas em cima desse palco é o lugar em que me sinto mais segura, apesar da plateia esperando, apesar de todos os erros, apesar de tudo poder dar errado, esse é o meu lugar. Não qualquer outro palco, não qualquer outra plateia. É por isso que estou chorando tanto agora: sinto medo de não conseguir seguir em frente.

sábado, 24 de outubro de 2009

Vó,

Hoje eu não pude evitar de chorar ao te ver. Não há nada mais terrível do que, afinal, perceber que o tempo passa mais rápido para você do que para mim, e que você já está tão cansada...às vezes penso que você gostaria de dormir e não voltar, até que a tosse cesse, e você possa novamente caminhar pela praia sem se sentir cansada, e que você não precise mais de todos esses remédios para que o seu coração bata normalmente. Vó, eu sou tão egoísta! Vivo apenas preocupada com os meus problemas, com a prova de matemática, e você tem tantos problemas tão mais reais e se contenta apenas em pensar em mim, talvez me ver uma vez ao mês - se tiver sorte -, em me deixar feliz... Vó, eu sinto tanto medo de não mais poder te ver, não poder te abraçar, sinto medo de você fugindo e eu percebendo que passei tantos anos fugindo de você...
Vó, você também sente medo?

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Na tua garganta, o que deveria ter sido um grito agora é esse nó te fechando, te impedindo de brigar com quem te magoa, e a dor que você pensou que seria apenas emocional, que você pensou que te apertaria apenas nos seus pensamentos, aquela dor agora está inflamada dentro do teu corpo e você não pôde brigar sozinho contra ela. Você precisa tomar esses antibióticos, que destroem um pouco da vida que existe em ti, destroem um pedaço da beleza que te envolve, mas eles ajudarão um tecido que precisa de ajuda, que precisa de apoio, e depois disso estará tudo bem...

sábado, 17 de outubro de 2009

Porque eu vivo sem tempo
e eu vivo sem paz
eu vivo ao meio
não pude ir atrás.
Eu corro em vão
tremo de medo
eu morro de frio em silêncio.

Serei eu meu próprio leão
para eu mesma me devorar
lentamente, até não sobrar mais
nada?
There was this sky
where I wrote your name
but I forgot to let it go
and now I'm still waiting
'till the day you'll come back,
and if you change your mind
please get in touch
let me know about your dreams
tell me what's hurting you
and where you'd wish to go
would you like me to go with you?
would you like to join me
writing beautiful names on the sky?

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Gilberto

"Quando eu era pequeno, não tinha medo de alma penada: quando eu perguntava o que era alma, as pessoas me diziam que era algo que ficava dentro da gente, aí eu pensava que a alma precisava de um lugar pra ficar, e o maior lugar pra minha alma era no pulmão... Então, as almas penadas eram pulmões cheios de penas! Eu imaginava isso: um pulmão cheio de penas voando! E não dá pra ter medo dessa imagem..."

domingo, 4 de outubro de 2009

Gabriel,

hoje cheguei a sentir dó de você.
Eu te admirava, te admirava tanto, mais do que a qualquer outra pessoa, porque eu achei que você tinha tudo que eu precisava, porque eu achei que você tinha a segurança que eu nunca pude ter sozinha, e se fosse com você, eu me sentia - apesar de tudo - segura. Como se você pudesse me proteger do que você mesmo fazia comigo. Agora que o tempo passou, eu percebi o quão inseguro você realmente é, e o quanto você finge ao mundo que está tudo bem.Você se camuflou nesse teu jeito a tal ponto de perder quem realmente é, enganando até a si mesmo! Por que não ser mais honesto consigo? Comigo? Com todos? Por que não admitir que você não é ultrapotente nem perfeito, mas que tem tantas fraquezas, como qualquer um?

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Faz-me fugir aos tédios da rotina!
Faz-me procurar noutros cantos sorrisos em conforto
Faz-me correr de medo
Faz-me tremer num frio de quarenta graus.

Dá-me sentido de dia
Dá-me sentidos à noite
Dá-me algo que eu ainda não sei que não posso viver sem.
Dá-me esse som que acaricia, essa voz que embala
Dá-me o que tiver a me oferecer...

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Cotidiano

Ao menos se todo esse cimento sorrisse de vez em quando!
Mas não, ele mantém-se em silêncio
não importa o que lhe ocorra
Como se fosse indiferente às passadas
desses transeuntes que o pisam para dentro do passado.
Como se os transeuntes fossem indiferentes a si mesmos
e, ensimesmados, esquecessem que suas histórias sempre pertencem a mais alguém
Como se as histórias fossem indiferentes aos donos:
elas só pensam em pagar as contas no fim do mês!
Como se o mês fosse indiferente ao próprio tempo
que não sabe até quando poderá passar sozinho
Como se o homem sozinho não soubesse ser indiferente
ao próprio silêncio, à própria dor
ao fato de ser mais um transeunte desgastando o cimento que,
assim como ele,
apenas aguenta o peso.

Paradigma

Se todos dizem que rodar o mundo significa viver aventuras, como eu poderia assumir que, dentro de um olhar, eu descubro mais que do alto as pirâmides do Egito? Se a população em massa grita por dinheiro, como eu vou dizer que só quero liberdade? Se o mundo corre atrás de relacionamentos considerados 'normais', com que coragem eu vou admitir que prefiro correr alguns riscos? Se todos querem o que todos consideram certo, como eu diria que nem tudo que consideram certo é certo pra mim?

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Áurea

- ... tudo devido aos compostos nitrogenados.
- Eu não acredito nisso, Áurea!
- E você está apaixonada, Julinha?
- Estou.
- Me diga, o que você sente quando vê a criatura, hein?
- Ah, professora, que coisa mais constrangedora...
- Palpitações?
- Sim...
- Suores na mão?
- É... sim...
- O nózinho no estômago?
- Uhum...
- Então! Quando você vê o ser amado, o seu cérebro emite alguns compostos orgânicos nitrogenados que geram todas essas coisas. Comprovado cientificamente. O que ainda não descobriram é o que faz com que esse rapaz te desencadeie todas essas reações, e não qualquer outro por aí.

sábado, 19 de setembro de 2009

(...) mas se em qualquer momento eu tentasse me decompor em palavras, com certeza falharia. Sou tão pouco que às vezes não caibo em mim.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Querido,

por favor, me desculpe. Por favor, eu não quis te magoar. Eu gosto tanto de você que não consigo sequer lidar com a sua chateação. É a você que eu quero, mais do que qualquer pessoa no mundo. Por você, eu abriria mão de qualqer motivação, abriria mão de tudo, porque te amo. Mas essa noite você se manteve tão longe de mim... você virou para o outro lado e eu achei que tinha encontrado alguém mais interessante que eu... meu amor, senti tanto medo! Fui fraca, me senti tão impotente, passei o tempo pensando que queria que fosse você ao meu lado, só você... Por que agi como foi? Insegurança... Me perdoe, por favor não desista de mim, por favor não conclua que eu não valho a pena, por favor...

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Nada como a evolução tecnológica!

Agora, se um membro do meu corpo
for destruído, despedaçado
até não restar mais nada
já inventaram diversos meios
de fingir que estou inteira:
nem percebem que me locomovo
com pernas mecânicas
ou que abraço
com braços mecânicos
ou que esses meus olhos
- que até brilham! -
são feitos de vidro
E não será surpresa
se, por acaso, descobrirem
que hoje eu vivo só com
esse meu coração de lata...

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Inércia

Não posso ver nada dentro desses olhos. Cada um de nós tem suas próprias motivações, mas às vezes não compreendo o que estamos todos fazendo aqui. Estou sentada nessa cadeira porque eu vivo dessa paixão, é por ser apaixonada pelo encontro que me mantenho aqui, vendo todos esses corpos empurrarem o ar como quem chuta pedras, sem perceber quão precioso é isso que têm em suas mãos... seguindo em apenas porque o tempo assim impõe, porque não há outro lugar para estar... Me digam, por quê vieram? Não lhes peço que amem como eu amo, mas imploro que lutem o mínimo para que funcione! Para que o fim não seja triste como eu o estou vendo, para que essa ribalta se orgulhe de nos ver lá em cima, para que possamos acreditar que nós merecemos os aplausos no fim do espetáculo...

O cheiro da iminência

O que mais me encanta na vida não é o fato; não é o ato, mas o presságio, a vibração do ato. Me encanta o cheiro da chuva antes da chuva cair, aquele sabor doce no céu da boca, a brisa leve que me acaricia os cabelos, sussurrando ao meu ouvido a promessa dessa renovação iminente. Me encanta o último segundo antes do beijo, o olhar trêmulo que precede a entrega, o toque leve das mãos, o abraço. Me arrepia o último instante antes do adeus, o percurso da lágrima antes de cair pelas bochechas, um último suspiro precedendo a morte - ou o nascimento -, e sou inteira feita de iminências: talvez apenas por achá-las belas ou, quem sabe, por ser covarde e jamais poder terminar a ação.

domingo, 6 de setembro de 2009

Quem sou eu:

Cinco sentidos, órgãos sensoriais, ossos, carne, corpo. Rosto, pintas, cabelos, unhas. Pernas, pés, abraço. Mãos, enlaço. Boca, beijo, sorriso, abrigo. Música, vida, letras. Palavras. Sentimentos, sensações, emoções. Pensamentos, perguntas (nenhuma resposta!), permeio. Um pedaço de céu, outro tanto de raiz. Raízes emocionais. Sinais vitais, reflexos biológicos, respostas de olhar. Segredos abertos, amor - de mãe, de amiga, de família, de mulher. De cima do palco, encenação; de cima do muro, entrega. Muita alegria e muito silêncio. Às vezes, alguma dor ( e com a dor, amnésia)

sábado, 29 de agosto de 2009

Gente

Parada no semáforo, apenas espiei pela janela do ônibus: Por que esses carros correm tanto, aos montes, procurando um lugar para se esconder? Quem disse que todos deveriam sair de casa? Só porque é sexta feira? O que pensam todas essas pessoas? Aonde alojam-se os pensamentos, quando estão ociosos? Será que existe alguém que, nesse instante, olha pela janela de um ônibus lotado, assim como eu, e, assim como eu, se pergunta as mesmas coisas? Evito o olhar das pessoas aqui: e se dois olhares se cruzassem? Como lidar com esse segundo? Ficará eternamente guardado numa pasta, ou me esquecerei no segundo seguinte? Aonde vão essas pessoas se aguentando no mesmo ônibus que eu? Quais serão suas preocupações? De onde vieram? O sinal abre: o ônibus volta a chacoalhar e eu, eu continuo divagando.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Talvez eu não esteja te entendendo
porque
durante as aulas de Literatura
quando me ensinavam a interpretar
eu não prestava atenção:
estava longe
estava pensando em você.
(...) eu não consigo te decifrar: talvez, entre suspiros, consiga entender do que se trata, mas agora que estou apenas rodeada por palavras, por tuas palavras, não chego a nenhuma conclusão do que você quer me dizer. Se fosse possível, eu gritaria tão alto que você ouviria da sua casa, e dentro desse grito você compreenderia tudo que eu tenho a falar: a você, ao mundo, ao meu próprio amor. Se eu pudesse, eu estancaria todas as palavras agora. As palavras estão me confundindo. A sua linguagem me está confundindo. Talvez eu tenha feito o mesmo com você, talvez eu nunca saiba. Se eu conseguisse, correria até você agora, nesse instante, te abraçaria como sonho fazer todos os dias, te abraçaria e encostaria minha cabeça no teu peito, de modo a ouvir teu coração batendo. Você poderia, então, ouvir meus pensamentos e nós ficaríamos em silêncio, nos entendendo(...)
Junhoz: @gabisaur Hoje, no ônibus, ele poderia ter sido o amor da minha vida: na verdade, quem dormiu foi ele.
Gabisaur: @junhoz se ele estivesse acordado, quem sabe o que poderia ter sido?

o indizível leque das possibilidades : o que poderia ter sido?
Muito provavelmente:
- com licença, já tá chegando o meu ponto
- ah, sim, pode passar
- obrigada.

ele no caminho dele, eu no meu.
Mas existirá para sempre a dúvida condicional: 'se... o que poderia ter sido?'


Dalson

"Por um ponto apenas, passam infinitas retas, mas quando são dois pontos, passa uma reta só"

Será isso uma alegoria para a vida?

Diálogos num ônibus

"- Eu gosto das músicas dele, vou ver se posso ir no show na semana que vem...
- É, pra gostar dele tem que estar gostando de alguém.
- É que eu gosto de música romântica, sabe, de mulher chorando por causa de homem,
- de homem chorando por causa de mulher...
- E você já chorou por causa de mulher?
- Ah, homem não chora, mas só na frente dos outros... quando chega em casa...
- Mas é que dói, né... Dói tanto isso..."
(...)

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Ora, mil vezes viver morrendo de amor
a estancar!
Entre as escolhas que posso fazer
opto por embebedar meu travesseiro de lágrimas
e observar nos movimentos, as palavras
prefiro sentir dor, viver alucinações
a me manter no seguro.
Quero me embriagar e viver apenas do amor
viver ébria de paixão lancinante
que tenha espasmos, que seja dolorido,
que termine. Ou jamais comece.
O amor, para mim, vale a pena independente das circunstâncias
o amor será válido a partir do segundo em que nasceu
independente do que fez-se dele.
Eu prefiro que não entendam meu desespero,
que não compreendam os hematomas
que se questionem de meus motivos.
Amar, para mim, será sempre muito maior.

Do que aprendi

veja pelo meu ponto de vista: gostar de uma pessoa sempre significa criar expectativas exageradas. Todos fazemos isso, eu, ou você, qualquer um que você ver na rua sem dúvida já idealizou alguma pessoa. Saiba, a mágoa parte de nós mesmos, quando o outro não corresponde completamente nossas expectativas, e o outro nunca corresponde completamente. Sabemos que não somos como o outro imaginou, mas não há o que se possa fazer. A beleza nisso tudo está na enorme quantidade de escolhas que podem ser feitas, nós podemos escolher: podemos nos manter omissos, e nisso haverá alguma segurança; podemos, ambos, desistir disso que se considerava, e também haverá segurança; podemos fingir que nada se passa, até que passe; podemos, afinal, assumir tudo e correr alguns riscos... nós podemos tentar, quem é que vai saber se daria certo ou não sem a tentativa?

Diversidade

dentro do caderno escolar
confundem-se coisas exatas.
O que se espera que eu aprenda
ou o que eu poderia ter absorvido.
Mas o mais bonito
é que entre os exercícios de matemática
eu insisto em escrever, com canetas de cores menos sintéticas,
poesias nas quais realmente me encanto:
com elas, eu aprendo.

domingo, 23 de agosto de 2009

Num meio de caminho

Ela quis encontrar um jeito de escapar
de sua tristeza
Ora, não tinha sido ela quem disse que a tristeza é bela?
Talvez tivesse se sentindo assim por tanto tempo...
Talvez não quisesse assumir que doía
por saber que doeria sozinha, assumindo ou não.
Ela quis manter o olhar
e dizer 'veja! Eu olho por você'
que seja lá o que fosse, seria amor
Ela quis atravessar o espaço do abraço
e que todos soubessem o quanto ela sentia.
Ela quis ser mulher para ele
e ela quis encontrar amor
nele
Ela quis o mundo, ela quis a vida,
ela quis ter tudo
Tudo que nunca teve, nunca pôde ser

E no meio do caminho teve o medo
que no meio do caminho a atravessou
e no meio de uma estrada acabou
por, no meio do caminho, a estancar.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

às vezes, acordo pensando que o dia lá fora acompanha o meu coração: se me sinto bem, se me sinto feliz, o sol descobre-se e tudo brilha, dentro e fora de mim. Mas nos dias em que sinto o coração choroso, os olhos inchados das lágrimas, parece-me que essas lágrimas se hiperbolizam e a tempestade lá fora é inevitável!
Logo após pensar isso, digo a mim mesma: 'Ora, sua prepotente! Você é tão pequena e não há como o mundo te acompanhar. Ponha-se no seu lugar: afinal, você sente-se apenas um espelho do que acontece lá de cima do céu.'
E, se for isso, tenho esperado por muitos outros dias de sol.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

O terreno ao lado, depois de tanta espera, em breve deixará de ser terreno: fecharam a frente com tapume eos 'home' já vieram trabalhar. Quando eu nasci, esse terreno já era terreno, e nós, em nossa infância, o transformamos em palco de aventuras. Não precisamos de blocos nem cimentos, apenas nossos pés em cima da grama.
O terreno, contudo, também era mistério: os pais - crianças fantasiadas de gente grande -, a fim de nos pegar peças, contavam das cobras, escorpiões e outros pequenos monstors que ali viviam. Então, não dormíamos à noite, mal podendo esperar pelo dia seguinte, em que entraríamos na selva tropical para enfrentar as bestas nativas.
Hoje, vejo todos aqueles dias se destruindo, e durante a terraplanagem ainda pude ouvir as nossas risadas, agora presas na terra pisada.
Espero, então, que com todos esse tijolos construa-se uma linda casa, e que nela morem crianças que, de algum modo, percebam estar morando sobre destroços de algo que, um dia, foi mágico.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Reclamação formal por escrito

Prezado Senhor dono do meu amor,

Fiquei sonhando com você e não consegui dormir a noite inteira. E essa não foi a primeira vez. Nem de longe.
Atenciosamente.
O amor é nada mais que uma medida paliativa do coração para que a vida, pelo menos por um instante, adquira algum sentido.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Óbvio Utópico

Perdida no teu abraço,
com o rosto enterrado no teu peito
(derramarei algumas lágrimas, é verdade)
Você não poderá ver, pois estarei escondida em ti
mas também estarei sorrindo, telvez aliviada,
talvez emocionada,
completamente apaixonada.
Vou te apertar mais forte,
até você sentir meu coração batendo mais rápido.
Vou te segurar aqui, dentro de mim
e assim ficaremos até amanhecer.

Óbvio Utópico II

Você
me amando.

Óbvio Utópico III

Sentir a música
que toca no compasso
do meu coração, com o teu...

Óbvio Utópico IV

Minhas mãos
sentiram tanto frio nesse inverno!
Elas também precisam de um ninho:
seus dedos...

Óbvio Utópico V

Olhar o teu sorriso
e encontrar alguma felicidade
para mim

Óbvio Utópico VI

Nossos lábios
se conhecendo...

Óbvio Utópico VII

Cotidiano:
você do meu lado.

Óbvio Utópico VIII

Tanto amor que eu tenho
encontrando, no teu colo,
um abrigo.

Óbvio Utópico IX

Nossos cabelos se misturando
tanto quanto nossos pensamentos
tanto quanto nossos dedos
tanto quando nossos olhos
quem sabe,
tanto quanto nossas almas...

Óbvio Utópico X

Amar.

Daniel

"Ela me destruiu, você me entende? As palavras dela foram me picotando, e agora parece que eu sou uma camiseta que ela ficou perfurando com uma agulha muito grossa, e eu estou inteiro esburacado. Cara, eu amo ela, mas eu estou rasgado no meio... Eu queria ficar com ela para sempre, mas aquelas palavras no parque acabaram comigo, acabaram..."
Então, talvez ela sentisse medo do imprevisível: e se ele, no fim das contas, mudou de idéia? Ela sabe que por ela, nada mudou, ela parou naquele dia em que concluiu que amava novamente, e continua sentindo isso. Será que os ares destruíram tudo? Será que o tempo distorceu o mundo?
Quem sabe, agora, olhando nos seus olhos, ela apenas se sentisse completamente envergonhada, de tantas coisas que já tinha dito, de tudo que já se sabia... E se ele se sentiu do mesmo jeito? E se as circunstâncias não ajudaram? E se foi só isso?

Pai,

às vezes, nós não sabemos muito bem o que esperam de nós, mas você tende a ser sempre compreensivo, o que é uma das suas qualidades que mais admiro. Às vezes somos repreendidos por fazermos tudo errado, mas eu sei que, se errar, você provavelmene vai se dispôr a me ensinar direito. Às vezes nós não conseguimos estar prontos na hora certa, tirar as melhores notas da sala, lavar a louça, às vezes somos tão egoístas que não conseguimos ver o que se passa. Pai, você não me cobra nada. Pai, você só gostaria do meu amor. Pai, você estaria contente se eu me dispusesse a ir contigo no supermercado. Pai, eu não te dou nada disso. Eu não sei conversar com você, e sinto terror do silêncio que se instaura no carro, mesmo após uma semana que não nos vemos. Pai, eu tenho medo, eu não sei lidar com você, mesmo você sendo tão simples. Pai, eu não sei nada da sua vida, não entendo suas preocupações, nem suas motivações. Eu gostaria que você entendesse que não é falta de amor: eu te amo, mas não sei agir. Eu não sei fazer com que mude. Não sei se os problemas são apenas meus, ou se talvez o seu silêncio e a sua seriedade quando estamos juntos me assustem. Pai, hoje, o que eu mais queria na vida era que você se sentisse amado, mas eu falhei. Por favor, me desculpe por não saber te dar a única coisa que você me pede.

Perguntas: insônia

Onde estará
o mundo?
Onde estarei eu
dentro disso tudo?
O que será que represento?
Será que significo algo
dentro do mundo
de alguém?

Música

Percebi, de repente, que eu só ouço músicas para momentos tristes. Talvez porque eu achasse que, ao estar alegre, o silêncio me bastasse. E agora, que eu apenas quero dançar e continuar me sentindo feliz, e tudo o que há em volta é triste?

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Posso lhe contar um segredo?
Por você, ela iria a qualquer lugar, e ela está disposta a fazer todas as coisas para te ver feliz. Ela poderia atropelar seu medo, tantas vezes quanto necessário, para estar apenas com você.
Essa garota gosta muito de você, mais até do que poderia dizer.
Talvez você não saiba, não consiga imaginar o quanto ela pensa, o quanto ela gostaria de te ter por perto.
Essa menina só te quer bem e não sabe lidar com a própria confusão...
Ela está só aprendendo.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

era que, mais uma vez, eu não conseguia parar de olhar para aquelas palavras, e ter todas as outras do mundo fugindo. Eu jamais conseguiria, agora, responder qualquer coisa ao que me disse, porque, como já devo ter dito, com as palavras eu perco.

domingo, 2 de agosto de 2009

- Mas, filha, por que você ouve tantas vezes a mesma música? Para decorar a letra?
- Não, mãe...
- Então, por quê?

Ela não entenderia. Escuto a mesma música tantas vezes à espera de que, talvez, eu entre na melodia e passe a fazer parte da canção. Ah, mãe, existem tantas coisas em mim que você não poderia entender...

sábado, 1 de agosto de 2009

Mulher

"ela tinha essa coisa genial de não suportar a vida"



Existem pessoas com poderes. Jamais se poderá saber quem é que decide quem terá qual dom, ou outro, e me encantam essas mulheres que têm algum mundo dentro de suas mãos, e o entregam a nós de tal maneira a nos envolver. Não sei nada da vida delas, de suas decepções, de sua dor, mas me perco dentro das palavras, da voz, me perco imaginando tais mulheres em vida, a imposição de sua genialidade num mundo tão pouco preparado... Mas, enfim, será que o mundo um dia estará preparado para tanta força?
E, por outro lado, por trás de tanto poder, existe a tal não-suportação do próprio mundo, da própria realidade, essa constante insatisfação com tudo. É um tal de alma que não cabe no corpo: só aumenta minha fascinação.



(Elis Regina, Clarice Lispector, Edith Piaf, mulheres geniais e incompletas a quem endereço minhas palavras)
Admito que desisti de piscar, porque as lágrimas não vão parar de cair.
E eu nem sei dizer o por quê. E eu nem sei se tal por quê existe.
Estou
aos pedaços.

Parece-me que destruiram minha pele
e o toque do mundo é áspero.

Sinto a dor física
de ter meu psicológico destruido.



sexta-feira, 31 de julho de 2009

Não sei o por quê de tanto medo, talvez algum lugar menos corajoso de mim fique me dizendo que a história se repete e eu vou sofrer tanto e de novo... Mas é mentira! Dessa vez é tudo tão diferente, e o mundo me diz que não é ao vazio que estou me jogando: até você me assegura que não!
Então eu direi ao meu pedaço menos corajoso para que me deixe em paz, e eu que me apaixone e ame você como se deve: por inteiro.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Cartas sem endereço

Querido,

1 - E se eu, tão miseravelmente triste, esse ser confuso e inconstante, tola, completamente insegura, e se eu também precisasse de uma rede para me proteger da queda? Você estaria lá?

2 - Enquanto penso, mil imagens vêm à minha cabeça, e, devo admitir: sinto medo delas. E se eu estiver me entregando ao vazio?

3 - Apesar de parecer pessimista, sou alegre e consigo ver beleza em qualquer coisa: eu poderia ser tantas coisas que às vezes até (me) assusto um pouco.

4 - Ontem, apesar da chuva, me deitei no jardim e, ao sentir o teu cheiro na grama molhada, acabei por derramar algumas lágrimas que se confundiram com as gotas de chuva, e ninguém viu.

5 - Eu sei que sonho demais, mas, afinal, sonhar é meu maior alento!

6 - Afinal, eu me pergunto se você - mesmo que somente às vezes - pensa em mim.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Nada se move. Aqui, nada muda, o silêncio reina. Como se vivesse num filme mudo, em preto e branco, sou um ser estagnado. Olhar pela janela e esperar. Quem sabe o mundo possa acontecer do lado de fora e eu, apenas uma ouvinte, sinta que vivi tanto quanto quem estava do outro lado?
Mas, depois de tanto tempo esperando pela vida, resolvo que, agora, preciso de uma revolução! Preciso que algo mude, e como o mundo não fará nada por mim, resolvo por mim mesma que não vou ficar parada, e seja lá o que for, eu tenho que mudar. Anseio levantar-me da cadeira em que o vento me prendeu: sinto amarras. Estou presa ao meu próprio tédio. Então, descubro que a revolução da qual preciso não é nada mais do que conseguir me livrar dessas correntes na cadeirae, independente do que venha depois, tenho que me livrar dos meus nadismos. Começo a me debater e, quanto mais tento fugir, mais presa me sinto. Me desespero e começo a chorar, implorando por uma mão que me puxe para a superfície novamente.
Ninguém aparece.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Na verdade, dentro dos meus sonhos,
nós dois nos amamos
tanto quanto temos sonhado amar.
Lá, existe sempre uma música que toca
e nos inspira a dançar
e dos nossos beijos
o amor torna-se algo quase palpável

Então, não sinto mais medo
de ter entendido tudo errado
e de ter construído demais durante as noites insones
ou durante as noites em que apenas sonhei.

Enfim, o maior acontecimento nos meus sonhos
é o dia em que
afinal
a vida deixa de acontecer em sonhos.

A tristeza é tão bela quanto o amor.
Toda dança traz, consigo, sua própria tristeza.
Nos pés da bailarina, existe alguma dor: voar é difícil!
Mas sua magia está na atuação.
Apesar dos rodopios e dos saltos,
fixo meu olhar nos seus olhos
que escondem os calos no calcanhar
que escondem suas decepções amorosas
que escondem sua tristeza em vida
para, com sorrisos, alegrar a quem,
igualmente triste,
vem à platéia assistir o espetáculo.

Sobre a chuva

As nuvens que estiveram embelezando meus dias
esqueceram de sentir tristeza
até o momento em que,
com um baque,
ouviu-se um relâmpago com ódio.
Elas se aproximaram com medo,
e choraram no terror.

Agora, essas lágrimas que caem aos meus ombros
são apenas medo:
medo da alegria do outro dia.
Os cientistas afirmarão que somos,
apenas,
orgânicos.
Dirão, então, que somos pedaços de carne
a apodrecer, somente.
Então, especialistas,
me expliquem a poesia!
me expliquem a levitação da bailarina!
me expliquem a magia (não as ilusões magicistas, mas a magia de um sentimento puro)!
Lhes imploro: alguém me explique, organicamente, a existência do amor!

Por favor, não me falem em química: amor não é hormônio.
Não citem a genética: não existe amor pré-receitado dentro das células.
Não digam que são instintos: meus gatos, completamente instintivos, não amam!

Quando puderem explicar,
- com ciência e sem balelas -
como o amor acontece,
eu jogo fora meu caderno de poesias inacabadas
e vou estudar biologia.

terça-feira, 21 de julho de 2009

...

- Eu esperava que ela mesma te contasse...
- Não, ainda bem que ela não contou, pois saindo de sua boca, essa história pareceria muito mais real, e a minha tristeza por sabê-la seria muito mais palpável.
-Você ficou arrasada, né?
-Mas é claro! Existem algumas realidades que têm um quê de imaginárias, porque nós jamais acreditamos que poderiam acontecer perto de nós... Tão perto de nós... Ainda mais com ele, justo com ele, que quando eu nasci já era meu amigo, e a quem eu quero tão bem! Como dói saber que pode, sim, acontecer conosco...

Surpresa!

No dia em que te conheci, jamais poderia imaginar o quanto eu iria gostar de você.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Estar com saudade é pouco!

Sinto, nos últimos dias, que me falta um pedaço.
Justo aquela parte mais bonita de mim,
meu abraço mais gostoso
bem o meu coração batendo mais rápido
o olhar que me faz sentir parte de algo bom
A minha melhor parte inventou de me deixar,
mesmo que por alguns dias.
E eu nunca me senti tão incompleta
Mas, afinal, só tenho a agradecer:
se não fosse assim,
como eu conheceria as lindas cidades do Velho Mundo?





(Para M.A.)

Viagem

Me perder dentro dos teus olhos,
mesmo que através de uma foto.

Silêncio

A poesia dentro do papel tem um poder que eu não saberia explicar. No interior de todas as palavras, mesmo as mais simples, moram monstros e, em algumas noites, um ou outro me aterroriza até que eu tenha coragem de acender a luz - para encará-lo, de uma vez por todas -, pegar o caderno e escrever sua palavra que, ali perdida, parece algo trivial, mas eu não suportarei sequer imaginá-la, por dias (às vezes por meses). E eu sei que, independente de em qual momento da minha vida, quando meu olhar cruzar novamente com este papel, e, então, com a palavra ali esculpida, eu sentirei exatamente o mesmo arrepio que senti com aquele suspiro do monstro, ao meu ouvido.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Casal discute a relação: final feliz

- E eu também sinto saudades, ok? Você não é a única!
- Eu também sinto medo...
- Eu também sou inseguro...
- Eu também não sei como agir.
- Eu também preciso de apoio...
- E eu também preciso de um tempo só para mim!
- E eu também choro!
- Eu também quero carinho...
- Eu também queria ser atraente...
- Eu também me sinto triste.
- Eu também tenho problemas.
- Eu também preciso de respostas!
- E eu também tenho o que perguntar...
- Eu também procuro o sol.
- Eu também desvio do ódio!
- Eu também te amo.
- ...

E não me importa o que dirão os psicólogos e os grandes estudiosos de comportamente moderno: para mim, seremos sempre pessoas que amam pessoas e que não sabem, pelo menos por algum tempo, como lidar com isso. Se agora é comum pessoas que tornaram sua vida "afetiva" num grande campo promíscuo, isso se dá por medo, mas elas não poderão resistir quando, mais do que um beijo num canto de balada, necessitarem um olhar cúmplice, ou quando, de repente, sentirem o coração pulsando mais forte, por alguém.

sábado, 11 de julho de 2009

Medos (em um primeiro dia de aula)

Estar perdida. Não encontrar abrigo. Sozinha numa sala com 20 desconhecidos por 5 horas. Estar com desconhecidos. Ter que me enturmar. Não conseguir controlar a situação. Não ser amada. Não ter alguém em quem olhar no olho e encontrar, lá dentro, um abraço guardado para mim. Situações novas. Não saber o que falar. Falta de apoio. Me sentir observada. Saber (ou achar?) que não estão gostando de mim. Ser prepotente. Almoçar sozinha. Não encontrar um par. Não fazer parte da conversa. Principalmente, sinto medo dessa timidez que me envolve por inteiro...

quarta-feira, 8 de julho de 2009

terça-feira, 7 de julho de 2009

Maresia

Queria dizer, dentro do teu olhar
aquilo que nós já sabemos.
Mas terei medo:
os olhos teus são um mar
que talvez tenha se colocado entre nós dois
E eu, munida apenas dos meus braços,
como vou atravessar o Atlântico?
Torço, por enquanto, que se contente
daí do outro lado
de um mar que me inunda
Com o meu amor
pois esse amor é teu
e, para estar contigo,
ele navega qualquer oceano.

domingo, 5 de julho de 2009

Conclusões óbvias II

Percebo o amor que eu sinto ao estar ao teu lado e não precisar de mais nada. Talvez, apenas um pouco menos de espaço entre nós.

Conclusões óbvias

Se as palavras me faltarem, saiba que eu as estou procurando dentro de uma sala trancada, porque ninguém nunca tem o que falar nas horas em que as palavras são desnecessárias.

sábado, 4 de julho de 2009

Aos lexicógrafos,

os grandes estudiosos das palavras e da língua portuguesa, lanço uma pergunta:
quem foi o infeliz que resolveu que as palavras "amor" e "dor" seriam construídas de tal modo a rimar?
Mas essa cidade ficou cinza, e tudo aqui me lembra você!

sexta-feira, 3 de julho de 2009

... e se você leu a minha carta com cuidado, prestando atenção, deve ter percebido, entre as linhas, que em nenhum momento eu disse que o amor acabou, apenas a minha disposição para amá-lo.
... o tempo é subjetivo e diretamente subordinado à soberania do relógio! Se não fosse esse relógio estancado na parede, nós nunca teríamos que ir embora...

quinta-feira, 2 de julho de 2009

- Ei, garota, levante já daí! Não é só porque você tá de férias que pode dormir até essa hora da tarde!
- Não, mãe, eu não estava dormindo. Estava só sonhando...

terça-feira, 30 de junho de 2009

Penhasco

E se fosse necessário apenas um empurrãozinho para, então, se jogar do penhasco?
E se esse tal de penhasco nem fosse tão grande assim? Talvez apenas cinco centímetros, o espaço entre nós dois... Um segundo seria o suficiente.
Talvez nem fosse necessário o empurrãozinho, apenas um suspiro.
Talvez se conseguíssemos ser mais explícitos?
Por que sentir tanto medo? Todo mundo já entendeu...
Infelizmente, da mais vasta lista de medos que me ultrapassam, dar o último passo é o maior.
Eu te amo.
Fato consumado, consentido, aceito.

Te amo, te amo, te amo, te amo.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Estar em paz é pouco!
A paz, eu sei, é límpida.
Vê-se através.
Eu sei, a paz leva o vento,
leva a bomba para longe de quem não tem culpa.
Eu sei, a paz é imprescindível.
Mas só em escala mundial:
dentro de mim, eu desejo o turbilhão
eu desejo estar confusa
eu desejo me descabelar
sentir medo
sentir alguma dor
Em paz, eu me acomodo
ninguém muda se está em paz consigo mesmo
e quem não precisa de mudança?
Eu preciso.
Preciso de amor
e eu nunca vi amor em paz!

Xenofobia

Eu não quero mais ser turista
dentro dos teus olhos
quero que o meu visto assista
os carimbos de moradora
trabalhadora
contribuinte
amante, amada
quero ter o passaporte guardado na mala
por jamais ter que mostrá-lo a ninguém:
nativos não mostram passaporte.
Quero uma licença de naturalização
quero que meus traços combinem com os de quem já é daí
quero que você me ame, me tenha como tua
quero que você me queira
quero viver em ti.

Desabafo

Tinha criado expectativas para o dia em que te encontrasse... Afinal, estaria revendo um grande amigo, e mais que isso, um amor que eu senti - e não foi de mentira! -, os olhos que em tantas poesias cantei, as mãos que abraçava como a um anjo, uma boca que de fato beijei, ver a ti seria reencontrar um passado que insistia em guardar sempre perto de mim.
Então, te ver, apenas mais um abraço e "vou dar uma voltinha", meu amigo já estava longe. E não é curioso perceber que eu nem o queria mais por perto?
Agora, meu querido, agora você faz parte do meu passado, e é melhor que não saia de lá, pois assim manterá sua posição imponente nas minhas lembranças: assim, - agora que a paixão por ti acabou -eu não o acharei ridículo, nem a mim, por ter te amado tanto e por tanto tempo. Agora, você tem gosto de caixa de música escondida no fundo do armário: uma música que nem é tão alegre, e eu nem faço tanta questão de ouvir.

domingo, 28 de junho de 2009

Eu vejo navios
em que velejo,
sozinha, num mar
que grita
que sacode e derruba muros
um mar dolorido
endossado por alguma estrela
que, ao cair, se cospe para dentro do meu barco
mas repouso serena
Em paz?
Não, em paz estaria apenas
se fosse ao teu lado.

sábado, 27 de junho de 2009

E eu, que agora não sei encontrar abrigo em outro lugar que não nos seus olhos? Então, estar longe de ti é apenas estar perdida...
Não sei, só que naquele momento, eu desejava que tivesse sido um beijo.

domingo, 21 de junho de 2009

Da saudade que eu sinto,

acredito que a saudade não é volátil.
A saudade, em algumas tardes, me agarra no meio da rua, e eu não tenho a quem gritar, porque, nesses momentos, eu estou envolta numa aura de dor. Mas não é que eu sinta a dor em mim: sinto-a no outro, o outro em quem penso e lembro. A lembrança no outro, sempre sorrindo, sempre ao meu redor: esse outro me envolvia do mesmo jeito que a minha saudade, agora.
Sentir saudade é um dos fenômenos que mais me encantam. Não aprendemos na escola que o mundo gira? Que os dias passam, as pessoas envelhecem, existem solstícios e equinócios nos lembrando de quão ínfimos nós podemos ser? Pois então, desconsideramos essa efemeridade toda na hora de olhar para trás e saber que existe um pouco de nós presos naquela pessoa. Naquele momento, naquele último olhar... Na última vez que eu pude te abraçar... No teu cheiro que, às vezes, aparece dentro daquela blusa que sempre me lembrará você, e, então, eu estremeço.
A minha saudade de vez em quando vai além de mim, me cobre de silêncio e eu não sei o que fazer com todo esse pedaço que me falta.
Acredito que (mesmo que por um instante apenas)
tenha visto vi nos seus olhos entrabertos
frestinhas de amor,
amor que esperava que fosse sem destinatário - ou talvez ainda destinado a mim -
para que eu pudesse sorver essa energia
como um recarregador de sorrisos
Sorrisos teus.
Querido,
eu sei que vai ser difícil me interpretar, até eu me perco no meio das coisas que falo. Tento, então, me explicar: quando não sei como agir, me escondo atrás das palavras, umas palavras meio bobas que, com certeza, colhi antes da hora. Nestas, apenas falo, mas não o sinto. Não diga que sou mentirosa, eu somente não sei contar as verdades da minha alma. Mas, às vezes, jogo toda alma que há em mim por cima da mesa, entre seus dedos, por meio de alguma brincadeira minha. Então, eu te conto a minha maior verdade e você embrulha no papel e joga no reciclável! Você logo me dirá que não sabe discernir quando eu me escondo de quando eu me jogo. Pois eu te conto um segredo: se, apesar de rindo, meu olhar te perfurar enquanto eu falo, é porque eu o digo a sério.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Venha ao meu lado
vou abrir as janelas
que estão aqui
à minha fronte
Para que nossos olhos
se iluminem
Em Sol, ou noutro
tom
E nossos laços toquem-se
de leve
Os corações?
Bem, que nossos corações
batam de mansinho...

terça-feira, 16 de junho de 2009

Naquele momento em que eu não consegui deixar de te tocar, estava concluindo que gostaria que você também me tocasse.
Na verdade, dentro dos teus olhos eu posso ver milhares de abismos nos quais, admito, pretendo me perder.
Com seus dedos, você semeou em meus cabelos fios de ouro, e, no final, tudo que eu pude fazer foi converter todo esse ouro em amor.
Dentro do abraço, eu poderia sentir o teu coração pulsando, dentro do meu peito.
Naquele beijo que você me deu, nasceu uma flor com o teu cheiro, que agora me possui o tempo todo.
Naquelas mãos se tocando, nascia um passarinho que, agora, insiste em cantar aos meus ouvidos.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Das paixões, o maior desperdício são os suspiros: são de uma poeticidade enorme, e passamos os dias apaixonados jogando-os na rua, para que os transeuntes pisem em cima, sujando tudo com cimento e ceticismo.

Das borboletas

É a metáfora mais batida do mundo poético, eu sei. Mas o que eu vou fazer? Inventar um nova? Que não faça tanto sentido... Que não seja tão real... Não! Vou me utilizar das borboletas para contar, a mim mesma, que talvez eu esteja redescobrindo alguém que mexe comigo...
E eu sei que logo meu olhar estará novamente perdido para fora do quadro, assistindo essas borboletas que, delicadamente, empurram as paredes do meu estômago até que elas toquem o coração, de modo a gerar um arrepio que aperta a alma e solta um suspiro perdido...
Mas que venham as borboletas, minha alma tem estado quieta por tempo demais!

Jujuba

Somos exclusivos: nessa vida existirão para sempre milhares de pessoas que levem consigo o mesmo nome, ou inclusive o mesmo apelido. Não como eu; como nós. Você embrulhou o meu nome para presente e o entregou a mim, no berçário, e a Jujuba veio de lembrancinha. Ela é doce, açucarada, e não me importa o que os céticos dirão, ela é toda minha. Minha e tua, e de mais ninguém.
A lágrima que quase cai, apesar de não ter razão, prende-se forte à pálpebra e não importa o quanto eu pisque, torna-se concreto e você não pense que eu colei cristais nos meus cílios: são lembranças tuas que me acompanham, penduradas, pesadas, no meu olhar.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Éramos nós
sós, sem medos
sabendo, sem querer
que quando sonhamos
sonhamos em vão
gritando: avante!
Mas o movimento não se dá
a mudança desejada não se dá
não sozinhas.
Em desistência?
Jamais!
E outro grito silencia
A dor não dói
A escuridão não apavora
Nós apenas não desaprendemos a acreditar.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Do dia que não amanheceu

O mundo seguiu em frente, as pessoas saíram de casa, teve trabalho, teve escola, teve amor, teve sexo, teve divórcio, teve primeiro amor, teve último suspiro, prova de matemática, música, arte: tudo que se tem em qualquer dia normal, teve hoje.
Mas o sol não saiu. Nada, nem uma frestinha de luz. E percebi que todos já estão tão acostumados a não olhar para o céu que ninguém teve medo. Mas eu, ao olhar da janela, corri para debaixo das cobertas e esperei o dia passar, porque não poderia conviver com um dia à noite.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Névoa

Você pode me tocar. Eu não sou feita de plástico: não vivo em outro lugar. Só estou aqui, ao seu lado, e eu não tenho a menor idéia do que devo fazer. Essa é a verdade. A minha pele espera pelo arrepio, a minha mão espera pelo toque. Meu corpo também anseia. Os meus olhos esperam pelo cruzamento, em silêncio. Até a minha boca espera, um segundo, pelo menos instantâneo. Por aquilo que fica no ar. Vivemos na iminência, para sempre, e nesses dias frios eu tenho esperado, inteira, por um abraço sequer. Sem nenhuma palavra, apenas um segundo de paz, embalada ao redor de um colo que aninha.

domingo, 24 de maio de 2009

E se eu procurasse entre essas duas telas uma fresta na qual você está me esperando? Te encontraria?



Se eu, de repente, percebesse que nem sempre os olhos resolvem tudo, nem sempre a boca abre para falar o que se pensa, o toque não significa necessariamente carinho, o que da vida poderia-se concluir?
Que o pensamento é um. Que a resposta às vezes trai. Que a solidão dá medo. Que o sorriso pode ser triste. Que mãos dadas não são sempre amor, podem ser apenas um lugar onde se possa escorar. Ser triste é diferente de estar infeliz. Amar é diferente de estar feliz.
Nem sempre os olhos resolvem tudo.

terça-feira, 19 de maio de 2009






Não pense que foi um de seus beijos que fez com que essas rosas brotassem ao redor do meu pescoço. Foram os teus olhos, que de tão luminosos, permitiram a fotossíntese da roseira.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

De Mudança

Meu quarto está uma bagunça; Minha casa, uma baderna geral. A cama tem os lençóis revirados, ensimesmados em seus sulcos invadidos por tantas roupas. Meu caderno escrito tem profusas palavras esparsas que talvez um dia se encaixem. Mas, no final das contas, nenhuma bagunça se compara a esse caos absoluto instaurado em meus pensamentos, um caos físico bombeado para todos os átomos por já ter dominado até os músculos do meu coração.
Alguma ponta de esperança se inspira e pontua: logo estará tudo em seu lugar. Que eu espero esse logo, para ter tudo guardado em caixinhas facilmente encontráveis e controláveis, catalogadas e organizadas conforme relevância e cor. Guardarei apartadas algumas das lembranças que não pretendo esquecer; aquele beijo que não foi endereçado; a bailarina da caixa de música que não toca mais; luzes numa ribalta amarela; jóias de calçada; a música que vive a me esconder segredos e todo resquício de passado útil que estiver espalhado.
A primeira - e maior - caixa será destinada ao meu amor: todo o que ainda está por vir e todo o que já passou...

terça-feira, 12 de maio de 2009

Sambando

A gente sai pra desfilar a alegria,
à toa,
em qualquer quarteirão
e não me importo se você for bamba
ou já estiver bambo
de tanto riso, até
Que quem tem samba na alma
Não precisa ter samba no pé.







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(Eu tenho samba só na alma!)

domingo, 10 de maio de 2009

Das quatro paredes

Não encontro outra saída
melhor que vê-las como limitações
mas esses bobíssimos blocos são apenas
limítrofes
entre eu e o barulho desorganizado do quarto do meu irmão
e para as minhas palavras, são pontes
que vão daqui para o além-mar

Do céu





Eu não procuro o céu apenas pelos enorme milagre das cores em carnaval acima de mim. Eu imploro pelo céu porque, às vezes, o cimento é tão triste e o que me alegrava já passou, como um bloco carnavalesco, então procuro um alento, de que inclusive os maiores milagres do mundo - como as nuvens dançando - de vez em quando acabam, ou apenas terminam numa enorme - e tão linda quanto - chuva.
Você, assim, de repente, me retirando por inteiro de sua vida, primeiro as fotos no álbum, depois os recados, depois os abraços, depois o meu aniversário na sua agenda, depois aquele presente que eu te dei com medo, depois o meu cheiro, depois as próprias lembranças, e ninguém jamais poderá provar que eu fiz parte da tua história.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Quisera eu ser assim
com uma máscara que esconde
tudo o que não for alegre,
tudo o que não for só riso.
Me bastava ser bailarina
com dois passos já no céu.
Me bastava ser a mulher barbada
que nunca quer tirar o véu.
Me bastava pular do teto
e encontrar no ar tudo como apoio.
Me bastava sofrer o desatino
ou correr no picadeiro
ou lutar contra uma fera.
Me alegrava ser Branca
impostora de um mandato de prefeitura
de presidência do palco
pensando estar acima dos outros que dançam,
e cantam
e jogam
Mas, de fino, se pudesse escolher
eu queria ser Augusta
e pegar meu coração,
repartir em trezentos pedaços
e entregar nas mãos de todos
todos, todos, todos,
qualquer um que quisesse cuidar.

domingo, 3 de maio de 2009

Classificados

Procura-se, enfim, um edredom - não me importo se for usado e já tiver alguns retalhos - que me envolva quando eu estiver com frio; uma poltrona favorita; saldo inesgotável de mega abraços; dedos entrelaçados; o perfume que terá para sempre o cheiro da minha mãe; um espanador que limpe cantos especialmente empoeirados; meias coloridas; as nuvens, como sempre muito confusas; literatura; fotos desaparecidas com o tempo (especialmente aquela que imprimiu o segundo imediatamente anterior ao de dois olhares se cruzando); chocolate quente na cama, na hora de acordar; sorrisos demonstrando amor; um carrossel no qual não me considerem grande demais... basicamente, procura-se alguém disposto a dizer: "eu vou com você".

Luaral

Espero que essa noite você tenha tocado, ou pelo menos olhado para a lua que nos velava, porque em algum lugar dessa mesma noite eu pensava em você lembrando que ainda te devo essa lua, que tantas vezes te prometi em silêncio.

Apelo

Talvez você não conheça a minha história, tampouco a dos meus olhos - e veja bem, nem tudo está escrito neles, pois muito se perdeu ultimamente nas lágrimas que deixei evaporar. Muito provavelmente você jamais percebeu o que de fato se passava comigo durante todo esse tempo. Não se sinta mal: eu não quis que você soubesse. Não quis que pensasse que, enquanto meu amigo, devesse me consolar. Eu tinha outros planos.
Eu quis manter o meu mistério para que você também se sentisse inseguro. Saiba: a insegura sou eu. Eu não tenho mistério nenhum, sou toda feita de medo. Então, eu te imploro: de coração, dessa vez não me despedace.
Aquela música tocando numa mesa de almoço servido, e as moças em silêncio, com lágrimas nos olhos. Uma música calando bocas que falam tanto e, de repente, pararam para pensar num passado que nem se tem muita certeza de que passou. Tal música única com pelo menos três interpretações diferentes em uma só mesa de almoço em silêncio. De tudo que se pôde saber daqueles três minutos que passaram calados, a minha única certeza é de que todas as lágrimas que quase caíram entre as três moças falavam de amor.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Ora, mas qual não tem a magia de uma primeira experiência? Nós aqui, nesse leito que não é de morte, tampouco um berço de talvez uma nova vida, mas apenas o sempre mágico palco amarelo a nos vigiar, em silêncio. Já estivemos aqui em cima, já vivemos vidas inteiras sobre essa madeira cansada de gemer as nossas passadas, já nos abraçamos e choramos um pouco, dançamos as músicas que ninguém jamais ousou cantar, até que em poucos segundos essas cortinas que nós já conhecemos tão bem se fecharam, e ninguém pôde agüentar a ansiedade de, por um instante apenas, espiar por debaixo desse pano vivo, para olhar a platéia que não quer ir embora.
Que eu tenho eu lírico, sei que tenho. Mas não sei onde ele se esconde, nos dias assim como hoje, em que o sol não saiu, mas também não choveu. Você não passou por mim e eu mal passei. O bife na geladeira não fritou, porque ninguém sequer se dispôs a comê-lo. O sorriso quase sorriu ao mesmo tempo em que uma lágrima quase caiu, mas sem querer estacaram-se ambos, e um rosto ficou mudo. Em dias como hoje, em que eu poderia cantar tantas coisas, apenas espero, espero até que alguém se defina um pouco mais para eu então voltar a cantarolar.

sábado, 18 de abril de 2009

Sobre o poeta

O poeta é aquele que consegue,
num toque entre o papel e a caneta
eternizar numa poesia todos os resquícios do mundo
que ainda vivem, apesar de tudo.

Eu não sou poeta,
não faço poesia.
Sou menor, faço só poesinha.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

O mais curioso é que o próprio conselho que eu dava ao mundo, sem nem saber se eu de fato acreditava no que estava falando, funcionou e de repente eu percebi que foi só dar um tempinho ao meu tempo que passa, passa assim, acabou.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Querida Rita,

quando você disse que, enfim, esse seria o fim, eu concluí que muito provavelmente o meu fim também estaria chegando. Afinal, como eu seguiria escrevendo cartas se quem me ensinou a escrever cartas não manda mais nenhuma? E como eu poderia sequer pensar em falar sobre passarinhos se os seus passarinhos agora são calados, e a música, e os arrepios, e talvez a minha timidez, ou a sua, tudo assim, perdido dentro de um site abandonado? Eu sei que você nem sabe da minha existência, mas eu odeio a idéia de não ter uma heroína a quem recorrer quando eu não tivesse sobre o que escrever, ou sobre o que pensar, ou sobre o que dialogar comigo. E você, Rita, pra mim você é uma das maiores, uma das melhores, e o mais incrível é que nós dividimos as mesmas tardes, você em algum lugar aqui perto, olhando pro céu e pensando as coisas mais lindas, pensando as poesias que, então, alegram as minhas tardes, dispostas no horário de servir no seu blogue de notícias estarrecedoras. Rita, por favor, termine logo o seu livro pra que eu também te carregue dentro da bolsa, e então volte ao blogue e me dê sempre notícias boas sobre passarinhos.




(à espera do livro de Rita Apoena, mas conheçam o blogue mais mágico de toda a internet: http://ritaapoena.zip.net/index.html)

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Resposta

Querida amiga,

não é óbvio que eu penso em você? É claro que penso... e também sinto saudades, se você quer saber. Sim, eu também gosto de você, e se não gostasse não voltaria sempre a ver se você entrou na lista dos aprovados. Não usam sempre aquele terrível lugar-comum de que a gente não manda no próprio coração? Pois é, não tem jeito, não consigo te colocar pra dentro daquele pedacinho mais aveludado do meu, não importa o quanto tente. Saiba, eu sinto muita dó de te ver sempre esperando na ante-sala, mas nós sabemos que você não vai passar de lá. Não é necessariamente que eu não queira, é só porque eu não consigo acender as estrelas nos meus olhos por você, não consigo. Minha amiga, saiba que eu te quero bem, muito bem. Você não merecia sofrer tanto, ainda mais por essa criança boba que eu sou, e você é tão maior... você merece tanta coisa...

segunda-feira, 30 de março de 2009

Ora, mas o que mais eu poderia fazer? Procurar a mídia para gritar o teu nome em horário nobre? Mandar fazer outdoors com as minhas declarações e espalhá-los na cidade, para que você sempre se lembrasse? Mandar cartas, ou te ligar todos os dias, ou talvez ainda aparecer de surpresa na porta da tua casa implorando por um abrigo nos seus braços? O mais você esperava que eu fizesse só pra você não se esquecer de mim? E no fim, tudo que eu tenho a oferecer é quem sabe um trecho em um poeminha que me remeteu teu cheiro mandado de surpresa, assim, nessa tarde de domingo.
Eu não tenho certeza - e isso é porque eu nunca tenho certeza - mas acho que talvez, se você olhasse um pouco mais devagar, com um pouco mais de cuidado, prestando mais atenção, talvez visse que quando eu suspiro, não são lágrimas que viraram ar, são só alguns dos risos que quase saíram, mas por tão pouco ficaram entalados no céu da boca, até se dissparem, lentamente, entre um gole d'água e outro.
Querido,

você já se esqueceu da cor dos meu olhos? Pois eu admito que não mais me lembro do som do teu riso.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Dor de garganta

Aqui
um fecho, um nó
pra não sair um som
nem um dó
as palavras que saem
cacos de vidro: pinicam
machucam.

E menos uma garganta pra gritar ao mundo qualquer palavra de poesia.

quarta-feira, 25 de março de 2009

domingo, 22 de março de 2009

O amor veio
e destruiu toda a razão de um ser
ao mesmo tempo que, devagar, o despia
pra deixar bem claro ao mundo qual seria
lá no fundo,
debaixo da carne
debaixo da veia
debaixo da pele e da boca
debaixo do mundo
qual era a sua essência.

Ah, amor destruidor,
amor construidor.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Ao enluarar
varei-me em lobo
que vareja um grito
e, no atacado, distribui seus olhares.
Corro, corro enlouquecida
em busca de retribuimento qualquer
e nas viagens, em silêncio,
me escondo rapidamente quando
assim, por acaso,
qualquer presságio de mal
me procura nos vãos

E em vão quase me encontra:
tangencia, e eu uivo
quem me encontra não vê
apenas sente, pois então sou desmembrado farrapo
Mas me levanto e desprendo do medo
posso escolher me manter estática,
ou seguir atrás o mundo que me falta
E, ingênua, escolho continuar me procurando
nas margens dos lagos, do nosso desatino,
ou nos olhos de outro enluarado.

sábado, 14 de março de 2009

"Quem vai pagar o enterro e as flores
se eu me morrer de amores?"

(Vinícius de Moraes)

domingo, 8 de março de 2009

Querido Felipe,

... mas é claro que eu não esperava voltar para casa me sentindo desse jeito! Cheguei lá com meu coração na boca da esperança de te ver e você talvez descobrir que me ama!
Mas... te ver? Não sei o que eu queria, mas senti antipatia. Afinal, quem é esse cara que vive só de contar vantagem, com seu ego inflado lá na orelha? Quem é você para falar desse jeito comigo? Como é que eu me deixei deitar nas suas mãos? Permiti que você estivesse no poder e você se divertiu até não ter mais como.
Não posso dizer que PASSOU e eu não te amo mais. Caramba, você foi importante: essencial. Mas talvez eu tenha mudado. Mudado muito, e você não estava lá. Meu Deus, o que eu sinto por você não é pequeno. Vai além de mim. Mas hoje eu descobri que é errado me dar tanto sem ter absolutamente nada em troca. Não queria que você necessariamente me amasse, apenas que me respeitasse sem jogar comigo.
Sabe, talvez tenhamos que aceitar que nos degradamos e provavelmente nossa confusa relação esteja começando a se decompor, mas eu não quero jogá-la no formol. Somos fracos, não somos? Eu sei e assumo.
Agora, não posso dizer quão efêmeras são essas minhas sensações de hoje. Quantas vezes não me decidi que não queria mais nos levar e você, lá de longe, percebeu e deu um jeito de se assegurar de que a idiota aqui continuasse completamente algemada? Inúmeras. Pode ser que essa seja só mais uma dessas, mas pode ser que agora eu queira agir de outro modo: não quero mais oscilar entre expectativa e decepção.
Meu amor não agüenta apanhar tanto. Hoje eu percebi que preciso de mudanças.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Tia Linda

"Cê já tá terminando os estudos, né filha? Segundo ano falta só um pouquinho, aí cê já tá livre né? Que outro dia veio aí um rapaz que já entrou na faculdade e ele me deu um abraço tão grande aqui! É legal, né, pra mostrar que a gente gosta das pessoas! Daí eu falei se ele tava bem e ele me disse "tô tão feliz tia!" e eu disse "Graças a Deus! Deus te abençoe filho!" e ele foi embora. É tão bom ver as pessoas assim, completas, né? Bom, deixa eu voltar pro meu trabalho..."

Lucas - Capitalismo e amor

"Quando chegou aqui no mundo não tinha papel nenhum, não tinha dinheiro, né. O que tinha? Tinha só o amor"

segunda-feira, 2 de março de 2009

"Não faz disso esse drama, essa dor
é que a sorte é preciso tirar pra ter
Perigo é eu me esconder em você.
E quando eu vou voltar?
Quem vai saber!
Se alguém numa curva me convidar,
eu vou lá
que andar é reconhecer
Olhar...
Eu preciso andar um caminho só
Vou buscar alguém
que eu nem sei quem eu sou..."

(Primeiro Andar - Los hermanos)


Eu também não me entendo, eu também não sei. Não costumava ser tão confuso, e agora é só poeira: poeira que eu mesma levantei com os meus passos exagerados. Eu não sei mais falar de amor, eu não sei mais falar de alegria, eu não sei mais falar sobre o tempo. Eu talvez não saiba mais. Eu agora vou é esperar minha poeira abaixar, e as coisas pararem de não fazer sentido de uma vez por todas! Ou só por um breve hiato de lucidez.
"Eu não sei não, Jú, por que é que não se põe as bananas na geladeira. Eu não sei se fica bom, mas nunca pus, provavelmente porque a minha mãe também nunca colocou, e a mãe dela também não, e a anterior nunca teve uma geladeira, então a gente não põe, né."

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

E então, quando eu estiver bem longe,
não vou nem querer mais delinear os borrões de quem eu fui.
Quero ser outro alguém.
Eu renuncio da minha liderança:
não quero mais reinar em mim. Deixo esse reino para quem o quiser levar.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Eu

quero não olhar pra trás, procurando um cantinho quente no qual me esconder, um abrigo de plástico que me pareça aconchegante, por fingir não ser tão frágil quanto eu.
quero que os dias passem, mas não passem como se fosse só um passeio: os desejo vividos, não espanados.
quero que a chuva venha, mas eu possa ser forte o suficiente para ficar daqui debaixo da água sem eu mesma me desaguar.
quero que a noite caia, mas eu tenha luz.
quero que a lágrima caia, mas haja alguém que me ajude a secar.
quero que o sol não queime: aconchegue.
quero fechar os olhos e dormir e, ao sonhar, esquecer que posso cair da cama.
quero não ter mais a necessidade de ter alguém do lado, me enchergar auto-suficiente de vez em quando.
quero não ter, quero ser.

Condicional

Se eu tivesse corrido e gritado e pulado e te dito tudo, hoje não estaria aqui, como estou?
Se nós tivéssemos nos dado uma chance, será que hoje eu acreditaria um pouco mais no amor?
Se você não fugisse, com medo, ou desacreditando, ou não sei por quais motivações, talvez nós dois tivéssemos nos conhecido melhor?
Mas se você realmente me quisesse, teria fugido?
E se eu realmente o quisesse, será que teria agido do jeito que agi?
Se fosse diferente, hoje seríamos diferentes?


Já não foi. Já não somos.
Querido,

eu acho que talvez essa seja a minha hora de ir embora. Talvez agora eu tenha que aprender o desapego pra me livrar de uns fantasmas que andam me perseguindo. O que você acha?
É que eu não sei muito bem mais como é que eu sei viver. Eu não sei mais o que é que eu tô esperando de você, ou de mim, ou de qualquer um.
Eu sei que hoje eu passei um dia à deriva, à espera de que alguém precisasse de mim, que alguém me quisesse por perto. Com o celular ao lado o tempo todo, para que qualquer um me ligasse a qualquer momento, nem que fosse só para dar um 'alô'. Mas o telefone não tocou.
Ninguém me procurou.
E eu só percebi que ando meio carente, meio querendo dar atenção, carinho, talvez algumas risadas...
Logo passa.
Querido,

hoje, andando na rua, pensei ter te visto. Eu fiquei ali olhando à espera do teu olhar, mas seus olhos em nenhum momento se desgrudaram do chão. Você passou por mim empurrando o chão e foi embora. Tive um impulso de correr atrás de você e te abraçar, do mesmo jeito que eu fazia, você se lembra? Mas eu percebi que hoje as coisas são tão diferentes...
Voltei para casa atordoada. Será que o amor sobrevive tanto tempo? Já fazem anos desde que tive você, mas hoje, ao te ver, me senti exatamente como da primeira vez, naquele dia no nosso banco. Meu coração não quis desacelerar até agora, como que me forçando a te escrever. Será que ele adormece, mas jamais morre? Não pense que eu estive sozinha ou sem amor por todos esses anos, eu amei, conheci novas pessoas, como todos no mundo seguem em frente. Mas te ver... Ora, e eu nem tenho certeza que era você! Talvez fosse outra pessoa que me despertou você! Talvez o meu coração estivesse só procurando um novo apoio, ou uma desculpa inventada para te escrever novamente...
As vezes eu sinto medo de que o amor possa ser, de fato, eterno. Você pensa nessas coisas?
Você, nesses últimos anos, chegou a pensar em mim pelo menos alguma vez?
Para você foi tão grande quanto para mim?

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Problema Ambiental

Porque ao chegar
você
desarmoniza meus ecossistemas
e me deixa inteira desigual
Eu não sei mais aonde pretendo ir
ou se quero só voltar logo pra casa
Não sei de quem quero companhia
(se não da sua)
ou se só quero ficar sozinha.

Nada mais está em equilíbrio:
não há uma única célula que saiba a que veio
e eu estou no meio de uma queimada interna
o aquecimento corporal é inevitável!
Minhas partículas se agitam
e eu quase mudo de estado físico.

Mas quando você vai embora
deixa meu mundo em pedaços
cada resquício de gelo que ainda existia
derrete
e eu
transbordo.
Não há mais pedra sobre pedra.

Ainda bem que você demora a voltar
porque então eu tenho tempo
de me reconstruir.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Ao vendedor de flores que quis ensinar seus filhos a escolher os seus amores

Podemos escolher as flores, encará-las todas numa enorme floricultura e pegar apenas as mais bonitas ou as que provavelmente durarão mais tempo. Podemos escolher entre as infinitas cores guardadas em cada pétala. Tirar do bolso uma lupa e examinar, em detalhes, rosa por rosa, gerânio por gerânio, margarida ou girassol, ou qualquer outra. Podemos, finalmente, optar por não ficar com nenhuma, se a conclusão for de que nada vale a pena.

Agora, moço, o amor a gente não escolhe. Não dá pra decidir a quem ou como amar, dependendo da conveniência, do humor, não dá. Moço, amor a gente ama e pronto. Não tente ensinar ninguém a amar, porque você vai falhar. Entendo que queira proteger seus filhos da dor, mas ela vai vir em algum momento, odeio dizer isso, mas você vai falhar.
A maravilhosa
- ou terrível! -
Capacidade do ser humano
de se acostumar

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Poesia desregrada

Eu não sei escrever sonetos
Com rimas emparelhadas
- meu Deus, nem rimar eu sei! -
ou a métrica detalhista

Eu não sei escrever em versos alexandrinos
Não reconheço a retórica poética
Não consigo utilizar os modelos pré-receitados

Eu escrevo porque sinto
E o que eu sinto não vem
em pacotes de dez sílabas poéticas

O que eu sinto estravasa
é maior do que eu
Meu amor escolheu a poesia desregrada
para me contar do seu tamanho.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Ode ao amigo, comigo

Não sei me definir
Mas vou poder dizer
ou agradecer a quem me quer bem
Porque em cada olho meu brilha uma Olívia
E em qualquer hora mora Bruna
Graziela é minha rima rica
As palavras do vocabulário são Thaís
Num silêncio cúmplice sou Clarissa
Se sou infinitamente companheira, tenho João Pedro sempre
Quando canto queria ser Natalia
No meu desejo pela felicidade também.
Só Caio numa cruzada
E um sorriso de Ana me encanta
Se posso ser sarcástica e fofa ao mesmo tempo
encontro Carolina
Posso ser engraçada - mas sempre muito mais que isso!
Então tenho meu Gabriel, mistério e cativo
Ou mais Gabriel, quando assumo minha esquisitisse e fofura
ímpares
Quando a presença de espírito me visita
me vejo Victor ou Beatriz
No melhor abraço do mundo sou eu, mas sou Tadeu
Num 'olá' simpático sou Luis
Nas poucas vezes que me vejo bonita
Gabriela vem ao espelho
E posso ser tudo isso, tudo e mais um pouco
Porque tenho vocês e os levo comigo para todo lugar
(E vocês também me têm, infinitamente)





Inspirado no (como sempre) maravilhoso texto da Meire, do http://de-fora.blogspot.com/!
:)

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Fita de Cetim ou Capitão Ausência

Queria embrulhar o mundo para presente: dessa vez, era amor de verdade! Ela sabia que o era e queria dar todo o seu mundo por tal grandioso amor. Comprou metros e metros de cetim de várias cores para enfeitar uma vida enfeitada. O cetim acabava, mas jamais o amor, então voltava ao armarinho para comprar mais.
Mas seu amado se fazia o próprio Capitão Ausência, saía e na volta a entregava algumas migalhas de seu carinho. Saía e por vezes não voltava, apesar de se manter sempre perto o suficiente para aquecê-la e se aquecer de todo seu sentimento. E o cetim continuava sendo comprado, até o dia em que, debulhada em lágrimas, percebeu quão sozinha estava com seu amor e tanta fita comprada no atacado. Ninguém ao seu lado.
O cetim não acabava, mas lá embaixo estava sepultado seu amor infeliz.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Sobre o beijo

O beijo ocorre quando
duas almas resolvem
brincar
de pega-pega.

Metalinguagem

A poesia
escorre
dentro de mim

Sobre o bolso

Havia tanto pano sobrando
que se decidiu:
De hoje em diante esses fiapos serão porta-ar
E assim foi.

Sobre a música

A música começou a existir
a partir do momento
em que alguém percebeu
a delicadeza do barulho da chuva batendo na porta.

Sobre o fim

O ciclo
acaba.

Sobre a morte

Só assusta pelo nome

Porque, afinal, é um toque de Deus

tanto quando no nascimento.

Sobre o violão

Me guarda tantos segredos
quanto o seu próprio silêncio.
E, de uma vida por todas,
PRECISO te decifrar.

Sobre o lençol

É o limiar
entre o que eu era antes de me deitar
e agora.

Sobre o fim de um ano

Dura apenas um segundo
porque no próximo
- surpresa!
já é "Sobre o começo de um ano"

Sobre o mundo

Curioso:
ele é mais confuso que eu...
Aqui dentro há pouco a se aproveitar
Eu tenho certeza de que, mesmo se você remexer bastante
Não encontrara nada que te apetece
Portanto, vamos abrir mão de tanta procura um pelo outro:
Você vai se arrepender depois, eu sei.
E eu estarei mais vazia,
ou mais satisfeita
- leia-se farta!
de tanta frustração

É claro: nós poderíamos tentar!
Talvez você descobrisse que gosta de remexer
e encontrar mais solidão.
E talvez dessa vez dessa vez eu encontre alguma alegria em dividir
um pedaço do meu nada com alguém.

Mas como sei que não vai dar certo, te peço:
por favor, vá embora. Encontre alguém que lhe valha a pena.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Resoluções de Ano(s) Novo(s)

É claro que daqui pro fim desse ano eu não vou conseguir fazer tudo isso, mas são as mudanças que vejo necessárias em mim para toda a vida, então, a minha lista vale até para sempre. Ou até eu mudar de idéia.

Aprender: a dar sem esperar receber de volta; lidar com a decepção; lidar com o futuro e, principalmente, com o passado; desapego; amar sem medo; dor; aceitar o corpo, ou não aceitar e fazer algo para mudá-lo; fazer algo para mudar; olhar, simplesmente; sorrir para todos; conviver com a tristeza sempre apregoada à existência; não aceitar a tristeza apregoada à existência; tomar sol sem me queimar; poesia; ser humilde nos desejos; me desligar de tudo, de vez em quando; escrever com algum valor literário; admitir as minhas fraquezas; parar de procurar um Amor; melhorar a vida de alguém; dar valor ao que eu tenho; assumir a culpa; assumir alguma responsabilidade; crescer; organização; dizer "eu te amo" para quem realmente amo, e somente para essas pessoas; não cutucar feridas; não fazer coisas que me façam sofrer gratuitamente; procurar, nesse turbilhão, o que represento; desaprender a fazer essas listas de fim de ano.