quinta-feira, 29 de maio de 2008

Saída discreta pela porta dos fundos

Sua alma jamais caberia no corpo
Era pequena demais, ou talvez muito grande!
Se alimentava de solidão,
Não passava de ninguém;
Não há descrição, não há características a ela
Mas não era infeliz,
apenas confortada em sua posição insignificante,
pois era assim que devia ser,
as coisas para ela seriam sempre assim.
Talvez apenas porque jamais soubera como seria a vida diferente.

Mocinha, te esperava uma outra história
esperava que encontrasse outro modo de viver
Não deu tempo:
demorou demais!




(Poesia baseada num livro muito bom, leiam se lhes interessar: A Hora da Estrela, de Clarice Lispector. O livro é milhões de vezes melhor que a poesia ;D)

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Mas eu, perdida de mim mesma,
segurei aquele sonho nas mãos, como conchinha. Apertei forte - "não fuja, sonho bom!" - contra o peito. Quis abraçar
aquele sonho bom. Quis dividir meu sonho com todo mundo,
ninguém veio.
Quis escrever o meu sonho bom. Quis que todos lessem.
Ninguém soube lê-lo.
Representei meu sonho na praça pública - da República!
As pessoas passavam por mim e, desconfiadas, davam-me as costas.
À noite, deitada no jardim, tentando enchergar as estrelas - tantas luzes nessa cidade! -
encontrei você,
que disse que sonhava o mesmo que eu.
Vi em cada olho teu uma estrela, minhas estrelas.
Então sonhamos juntos, nossos sonhos bons...

Mas eu...

Eu não te faria sofrer como ela faz,
eu não te magoaria constantemente como ela...
Não! Perfeita eu não sou!
Me fizeram com falhas, defeitos, como qualquer um
Mas jamais te machucaria propositalmente,
Propositalmente, não!

Não como ela faz,
ela te faz tão mal e você continua insistindo...
Enquanto isso,
infelizmente te espero,
te espero e asseguro que se um dia você me der tal chance,
propositalmente, não...

terça-feira, 13 de maio de 2008

...

Você abre os olhos.
O vê ali, na sua frente. Hmm... Seria tão bom estar mais perto dele.
"Não!" Alguém grita;
Você olha ao redor. Não há ninguém além daquele rapaz e da sua vontade de encostar nele.
Encostar nele seria tão bom... Abraçá-lo, talvez beij...
"Não!" gritam novamente.
Você se pergunta se não está ficando louca. Não há mais ninguém...
Quase volta às suas divagações, mas a voz volta:
- Ei! Sou eu, não me vê? Seu passado muito próximo...
Olha para cima e vê a si própria. Mas não como você é hoje. A sua imagem flutuando ao seu redor tem a maquiagem borrada, se veste completamente de preto, acabrunhada, entristecida.
"Mas essa era eu? Quando?" você se pergunta. A resposta vem pronta:
- Não se lembra mais de mim! Cicatrizou, então, hein?! Mas do garoto ali, você se lembra... Pois foi ele que te causou esse passado tão desagradável!
E então, a lembrança... Primeiro, um momento igual a esse que você vive nesse momento: você e ele, só vocês dois. É claro, o encantamento e a paixão em seguida. Tudo tão bom...
Depois - meu Deus!- , a noite acaba, o sol nasce, ele sai de perto. Ele vai embora, mas a paixão fica.
Nem mais um olhar, nem mais um sorriso. Muitas, muitas poesias, muitas lágrimas, e o tempo passando.
Aos poucos, você e ele se reaproximam, talvez uma amizade seja possível! Paradoxalmente, você e a sua imagem do passado se afastam.
Você se convencendo que passou, agora vocês são só amigos, mas seu passado já sacudia de leve a cabeça...
- Você não passa de uma lembrança! Dessa vez é tudo diferente! - você responde ao seu passado.
- O que é diferente? Você não aprendeu nada!
- Claro que aprendi... Dessa vez é diferente...
- Pois você vai ver... Hoje sou só um passado meio apagado, mas amanhã eu serei teu futuro! Você não aprende mesmo...

terça-feira, 6 de maio de 2008

Diálogo

“Quando a luz dos olhos meus
E a luz dos olhos teus
Resolvem se encontrar,
Ai que bom que isso é, meu Deus,
Que frio que me dá o encontro desse olhar!”
(Vinícius de Moraes – Pela luz dos olhos teus)

Ele: Ei. Vem cá.
Ela: Que foi?
Ele: Vem cá!
Ela: Cá onde? Cá onde está?
Ele: Sim, cá onde estou. Vem.
Ela: Por que você tá me chamando?
Ele: Te quero aqui, cá onde estou.
Ela: Mas eu não posso ir.
Ele: E por que não?
Ela: Não posso me chegar aí. Não posso...
Ele: E por que não pode?
Ela: Tenho medo de te ver tão de perto.
Ele: Não mordo não. Vem cá.
Ela: ...
Ele: Eu tô com dor de cabeça. Me abraça?
Ela: Não era só estar perto? Pronto, estou aqui! Mas abraçar? Você tá é querendo me ver apaixonada de novo!
Ele: Mas eu só quero um abraço. Assim, um braço seu por cima do meu ombro, agora o outro... Com meus braços em volta da tua cintura... Fácil, assim. Agora eu coloco minha cabeça no teu ombro. Apoia tua cabeça no meu ombro!
Ela: Quer me apaixonar de novo. Me fazer sofrer de novo!
Ele: Só um abraço... Hum... Você tem um cheirinho bom...
Ela: Pronto. Te abracei, dei tudo que você me pediu. Posso ir embora antes de te olhar nos olhos?

Ele: Qual o problema dos olhos?
Ela: Não é problema. É paixão.

domingo, 4 de maio de 2008

O chão (não) amparou

O prato caiu!
O chão amparou.
O Gato caiu!
O chão amparou.
O cabelo caiu...
O chão amparou!

Tudo, tudo no mundo que cai
o chão amparou

Mas teve um dia
Você foi embora
meu mundo caiu
o chão afundou,
desapareceu
virou abismo
Não acho mais um chão
só queda
só queda.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

'Espero a chuva cair...'

Olho o céu e nem sei mais o que vejo
Se vejo o Sol ou o seu
o Seu sorriso solitário
Não sei se é sombra ou nuvem
ou chuva

Não sei se o que sinto na pele
é sal, sol, ou o Seu
o seu sorriso solitário
Penso ser apenas chuva
mas que chuva é essa?!

Talvez seja o Sal solitário,
ou talvez um pote de sorrisos seus
todo um sol pra mim...