quinta-feira, 28 de junho de 2012

Caixas Pretas

O chão do ator é todo riscado pelas mesas e cadeiras imaginárias que insiste-se em arrastar.
"O nosso problema é que vivemos dentro de quatro paredes pretas..."
O chão do ator é sempre molhado pelo suor de corpos que não temem a escuridão - mesmo porque as paredes são pretas para que dali surja a qualquer momento uma ideia pra se imaginar - e que não temem o silêncio - já que pintamos de preto as paredes do nosso corpo também, para que dali surja a qualquer momento uma ideia para pintar no espaço... Não escorregamos! Não nos esquivamos de nada.
Dentro de alguns negros metros quadrados, nós somos a luz.

domingo, 3 de junho de 2012

Joaquim,

talvez seja a ideia da morte. Porque sempre que alguém nasce nós também pensamos na outra ponta, e a cada natal lembra-se da velha avózinha que fazia os melhores biscoitos e há tempos nos deixou com o gosto da farinha na boca, com o cheiro dos colos e travesseiros mais macios do mundo no corpo e com a certeza de que Deus é mais feliz porque lá em cima está experimentando sua incrível companhia...  Talvez seja porque nem todas as sentenças são terminadas com ponto final, mas aos que bem compreendem a língua esse sinal não é tão necessário... não é que eu queira me explicar, Quim, mas sinto vontade de chorar por todas as palavras que não escrevi. Tenho a impressão de que cada uma delas é uma parte de mim que morreu; que tem morrido sem qualquer chance de escapar. Eu queria te levar para o mirante e tomar chocolate quente enquanto a noite chega, mas essa é uma palavra que eu não escrevi. Sequer falei. Não é que eu queira me explicar, meu amor, mas te ver nascer e te reencontrar bambo das pernas me faz chorar. Eu queria que a minha presença fosse um enorme abraço para você, que te esquentasse e te fizesse crer na sua avózinha que passeia pelo céu,  mas parece-me que estamos sempre à distância de um braço...

http://www.youtube.com/watch?v=dPfgRN4cyXU