terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Lembrete

Estou prestes a subir no ônibus sujo sem banheiro nem ar condicionado, com as malas repletas de passado, toda sorte de passado, desde rifa de felicidade até embalo de bala de menta para antes do primeiro beijo. Em cada mão um pedaço de papel com um endereço diferente: quem eu fui e a identidade que ainda estou para assumir. Cada pé dum lado do tempo-espaço. Regida por constelações que o dia não apaga, e o motorista desse ônibus que não dorme há três dias mas vai me levar para 'lá'. E aqui, suspensa entre o passado e o inesperado, sou terra de ninguém. A trincheira imóvel onde acumulam-se os corpos de ambos os times. Aqui, suspensa entre a coragem e a marcha-ré, te olho com teus olhos doces que me dizem adeus implorando para que eu volte, desenho com os lábios, sem fazer som algum: torce por mim, agora que eu já não torço mais, reza por mim à noite para o teu Deus, agora que já não acredito em nenhum, e guarda uma foto minha, uma recordação, porque talvez quando você me vir novamente, descendo do ônibus, talvez você não me reconheça mais...
De pedra. Sim, de pedra, não me pergunte mais nada. Não quero me perder noutro monólogo triste sobre perder a esperança, porque talvez seja pecado matar a esperança de outrem. E eu não veria problema algum em me demorar algum tempo explicando por que é que a esperança sempre carrega ônus maior que bônus, e que lembramos melhor das quedas do que dos vôos... Mas por agora não me diga mais nada: e eu me aterei à sua pergunta. Esta pia é de pedra.

Fantasias escapistas

Assim, quando você me olhar e eu te parecer dúbia, extremada - mas inerte -, saiba que há muito me perdi entre corpo e realidade. Existe um equilíbrio tão ínfimo (do qual não sei fazer parte) que bota o universo numa redoma, aguardando a queda da última pétala. Enquanto tudo é posto em prática e eu fiquei para trás, reinvento tudo isso. Escapo pela tangente, a um fio de me agarrarem para que eu volte à superfície. Mergulho... e escuto a Grande Paz do oceano, infinito, denso. Há música tocando aqui dentro. Quando você me olhar mas eu não estiver aqui, não me chame. Eu estarei dançando balé no fundo do universo.
... você me deixou para mais tarde e como eu soube que não haveria mais tarde senti aquele já volto como um soco na boca do estômago, o nocaute perfeito para qualquer desejo meu de me manter aqui. De repente haveria fogo e aquela orchestra do juízo final retumbando sobre os ouvidos aterrorizados, e ainda se alguma porta se abrisse... mas não. A orchestra, o fogo e apenas uma pomba perdida, em paz apesar do caos. E o fogo que consumisse a pomba como se fosse apenas som, aquele pequeno punhado de vida em decomposição, sem nada que a segure no mundo. E eu, como a pomba, atrás de um alento qualquer, consumida na paz, dicotômica com o caos interior.

Agônica

Já que no fundo, no fundo tanto faz estar ou não estar, partir ou continuar sob os carinhos afetuosos do edredom... Agora olho para a vida, as escrófulas da realidade - sem o preciosismo antigo dos que folheiam o passado a ouro, por mais que por dentro tudo seja orgânico e esteja apodrecido -, olho para tudo e sei, com certeza sei, tanto faz. E quando hoje não sou peça-chave para nenhum quebra-cabeça, eu sei. Mas não quero. Por isso não te procurar para falar de todos os detalhes da minha parnásica existência. Por isso nunca te contar dos cortes profundos que escondo debaixo da pele. Porque, apesar de não querer, eu sei que tanto faz.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Vai que a felicidade anda gratuita por aí... Quem sou eu pra negá-la? Sou nova demais para desviar dos teus raios como quem olha para o chão, e não nos olhos! Agora que quero tanto, tanto me sentir parte de algo maior, agora que eu quero crescer do meu jeito, te encaro e digo: venha!

Venha em sua infinitude e em tudo o que pode me fazer bem. Estou pronta para ser feita feliz como nunca...

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Querido,

me oferece um colo enquanto ainda é tempo: para que eu possa repousar os olhos num ponto fixo, permitindo que as lágrimas escorram... Me permita esquecer que pequei, que a culpa disso tudo é minha, me deixa achar que está tudo bem! Que voltamos aos nossos dias... Me dá uma chance de me redimir, apenas oferecendo o colo para que eu chore a tua perda... Um suspiro de saudade agora. Eu sentia tamanha paz ao teu lado. Quem explica o que se deu em mim? Outro suspiro, este de arrependimento.
Ainda estou me conhecendo, sabe? (Te incomodo me deitando aqui?) Então, ainda não sei direito como funciono, não sei o que aconteceu. Sou ingrata e menos constante do que imaginei que seria quando chegasse a hora. Estou pouco acostumada a ser amada. De repente - insiro mais um suspiro triste - me vi tão confusa... Fiz errado, me antecipei e fui te cortando, cortando tanto que duvido merecer o perdão.
Me deixa, por agora, apenas me deixa deitar no teu colo para chorar as lágrimas da tua perda?