segunda-feira, 22 de julho de 2013

Agora, meu amor, você bota essas camisas de volta na mala e pega o primeiro ônibus para São Paulo; e quando você chegar em São Paulo corre para a casa dela e se ajoelha e pede perdão pelos anos que vocês perderam enquanto você dormia aqui e fala assim para ela você é o meu amor você é o meu amor acima de todas as coisas; e quando ela te encontrar desse jeito, todo dela, vai te receber assim de braços abertos e vai até pedir desculpas, que a culpa da Grande Separação era dela, etc etc etc e você ajoelhado e abraçado no ventre dela vai dizer eu já nem lembro mais de qualquer coisa e nem vai lembrar mesmo... faz isso, coração, e nunca pergunte por mim. Eu não guardo ressentimento e nem vou fazer macumba se você esquecer alguma peça de roupa aqui. Do amor que eu te dei não vou cobrar juros. Mas você não olha para trás quando estiver indo embora, pelo amor de Deus, para não lembrar de mim assim tão solitária. Amor livre, os jovens da sua cidade dizem? Amor livre é o cacete, eu nunca fui sua e isso nunca foi amor. Basta. Arruma tuas coisas e vai deitar na cama king size dela. Você vai caber melhor lá e eu vou poder me espreguiçar na minha cama de solteiro. Eu vou chorar como se deve, meu amor, e vou espernear quando for tudo muito triste, mas não vou guardar ressentimento algum. Não cobro juros não. Não cobro nem as juras que me fez no fundo da noite. Não cobro nada, só peço que não se esqueça de nada por aqui e nunca, nunca se pergunte de mim quando estiver ao lado dela. Sê misericordioso.