sábado, 24 de dezembro de 2011

Da guerra fria

Silencioso como um vazamento nuclear
silencioso como o horizonte na Lua

Vim sambando por fora e gemendo por dentro
vim de lantejoula pra provar que brilharia mais -
nunca mais.

Na boca do estômago, as explosões caladas:
quem eu era quis ser melhor do que quem me tornei
quem me tornei quis vazar por todos os lados e
faltou espaço!

Me torno um lixão de novidades
estratosféricas
tristes de passado morto
que não quis morrer...

A deserta guerra das palavras estacionou
dentro do peito meu
e destruiu todo o pouco que restava.

O amor comeu minha guerra?
Do amor nasceu minha guerra.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Vermelho

Acreditando que pintar o cabelo de vermelho seria suficiente para que me tornasse mulher novamente - pois tudo o que se passou me foi tirando minha vontade de, até que me tornei este corpo indiscutivelmente humano, mas indistinto -, merecedora de receber amor mais uma vez... comprei produtos, tintas; pintei: e ao me olhar no espelho soube que era ridícula; alaranjada pelo instantâneo desbotar. A fêmea falsa e incompleta de antes, mas mascarada por uma tintura vagabunda. Afrodite, que me olhava com pena do Olimpo, desceu e me disse que o fogo não basta estar nos cabelos: meus poros, sim, em brasa. Me disse que pouco importava o sangue do batom. Mas um toque pelando, cheio de mistério e desejo. O fogo tem de estar nos meus olhos, queimando os que me olham; para me tornar mulher, o fogo precisava realmente estar me consumindo. De dentro pra fora.