sábado, 27 de dezembro de 2008

Dentro desse chapéu
eu quero guardar:
minha música, o teu abraço,
uma bola laranja,
a minha família, um beijo,
um lenço colorido, um caderno
e uma caneta
solidão, aquela risada
tua, minha, em nós.
Eu escolho girar
nessa roda-gigante de amor.
Eu assumo o risco e espero na fila
e sigo em frente.
Em frente e girando, sempre.
Mas que espetáculo ínfimo e paradoxalmente voluptuoso que há em alguns instantes desse breve viver em si! Em que ponto de todo esse mundo se prendem tais capítulos mais alegres ou mais brilhantes de uma história? Em que momento uma história de uma pessoa passa a ser uma história de um mundo todo? Há de existir nessa vida um vasto quê de-viver em que tudo que vale se torna uma coisa só e um longo suspiro de adeus para sumarizar todo o resto.
Chegou a tal ponto, a tal desespero que concluiu que ali era o fim da linha. Última estação, ponto final. Já tinha sofrido demais. A partir dali, o telefone estaria mudo e o rosto, virado. Nem mais uma palavra. Acabado. Se sentia arrasada e incompetente por ter deixado que a vida chegasse naquele ponto. Mas estava decicido, não daria mais nenhuma brecha para aquela situação.
"Outra coisa: se tinha alguma dor e se enquanto doía ela olhava os ponteiros do relógio, via então que os minutos contados no relógio iam passando e a dor continuava doendo."
(Clarice Lispector - Perto do Coração Selvagem)


E a dor continuava doendo.
E A DOR CONTINUAVA DOENDO.
E a dor SEMPRE continuava doendo.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Comunicado público com destinatário individual e previsível

Senhor Rapaz-que-chegou-de-repente-e-ficou-por-tempo-demais,

Nós, da administração dessa eu-lírico maluca que lhe escreve, o informamos que o senhor acaba de receber uma ordem de despejo. Infelizmente, nós não o queremos mais por aqui, pois tens feito bagunça demais com os sentimentos dessa pobre eu-lírico apaixonada. O senhor tem um mês para juntar as suas coisas aqui dentro, se despedir dos destroços que ainda sobram e partir. Se, dentro desse mês, notarmos qualquer mudança no seu comportamento, essa será sumariamente ignorada, uma vez que nós já conhecemos essas suas reviravoltas para deslumbro. Você não é mais bem-vindo. Por favor, não relute como das outras vezes, o senhor já nos deu muito trabalho e, a ela, sofrimento por demais. Está proibido de tentar qualquer reaproximação, abraço ou palavra carinhosa, se limite a ser educado com nossa menina. Entenda quão delicada é a nossa situação, o estoque de lágrimas logo chegará ao fim, e está sendo difícil recolocar os móveis no lugar e assumir o controle novamente.
Esperamos não ter problemas com o senhor, que sabe que pode facilmente encontrar outra cabeça e/ou coração para importunar e se alojar.
Agradecidamente,

Administração de uma eu-lírica maluca e perdida.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

O ar da existência

Há, então, o medo da ausência. O medo do não-estar. O medo de não estar. Há, por enquanto, um ar etéreo que é o ar que existe entre muitos tantos solavancos. Há a saudade, a saudade e um aperto e uma falta de ar dessa certeza, e há uma certeza, há sempre uma certeza triste. Na verdade, há uma coragem. Há na vida um quê de coragem, um gesto de coragem: o amor. E no fim de uma história, ou depois do fim, o medo? O medo passa. Os solavancos se esquecem. A saudade não vai embora, mas se dispersa. Acomoda. Mas e o espaço, aquele deixado antes do fim da história? O amor ocupa. O amor ocupa e cura os machucados, a dor. Ocupa o silêncio, as lágrimas e o vazio. Se existe algo mais belo do que o amor, isso está guardado para depois. Enquanto não chegamos ao fim (ou depois do fim) dessa história, o apoio está na coragem, essa força que existe e quase nunca encontra uma brecha para aparecer. Se há algo mais belo do que a coragem no amor, isso está guardado para bem depois.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Se por vezes te pareci muito incrédula ou muito loucamente apaixonada, devo admitir que às vezes ajo por impulso, numa atitude quase maquinária, apesar de sempre sonhar com vôos sem mágoa por cima de tudo que já vivi e, principalmente, da vida que me espera a seguir, uma vez que é nesse futuro que estão guardadas as maiores surpresas, vivências e tristezas, como num circo sempre aceso.
Procuraria, dentro daquele microcosmo teu no qual me perdi
procuraria, incansável, um modo de fugir
Ah, como quero simplesmente escapulir do meu desejo
Pois já nem acredito mais que vai ser encontrando a ti
que vou me achar.
Concluí que meu encontro só se dará na ausência tua
ou na minha ausência em ti.
É que existem alguns impulsos que são maiores que eu, eles simplesmente vêm, e eu gosto da sensação de estar atuando sem decidir... Há uma coisa boa em deixar apenas as mãos escrevendo as palavras, sem muita escolha. É bom. Deixar os olhos piscarem e as lágrimas caírem por impulso. É como se tudo estivesse em harmonia, e como se o ato de escrever estivesse em comunhão, sei lá, com o coração, que é um músculo independente, age por necessidade e vontade própria. Ah, que meu coração escolha a poesia pela qual bater, e um mundo inteirinho de luz dourada pra brilhar tanto que as pessoas até duvidem. Eu gosto da comunhão específica e intracelular, intramolecular da existência, que existe entre eu e tudo que represento pra mim mesma. Porque isso é o que eu considero mais puro. O encontro de mim comigo mesma.
Eu nem saberia explicar o por quê de eu estar chorando agora, ainda mais porque não é facil alguém - até mesmo eu! - me ver chorando, já que eu não sou muito dada a esse tipo de entrega. Acho que ando hipersensível ultimamente, por alguma razão que desconheço. Alguma mudança na maré que eu ignoro e absolutamente não controlo.

Composição

A sua letra que é nova
mas, para mim,
a melodia já é antiga.

domingo, 30 de novembro de 2008

Adeus

- Amanhã eu vou embora.
- Não vamos conversar sobre isso.
- Como assim?
- Eu não quero falar sobre isso agora.
- Mas se não for agora, quando?
- Nós não vamos continuar nos vendo?
- Não sei como vai ser depois.
- Como assim?
- Eu não quero voltar aqui nunca mais.
- Nem pra me ver?
- Me desculpe...
- Mas...
- É por isso que eu preciso me despedir.
- Eu não quero ter que me despedir de você. Eu quero continuar te vendo... nem que seja só de vez em quando.
- Nós vamos voltar a nos encontrar, de vez em quando.
- Então por que você quer dizer adeus agora?
- Porque talvez a gente precise disso.
- Eu não preciso. Eu não quero te dizer tudo que eu tenho pra falar. Não agora.
- Mas é agora que você tem pra falar. E talvez nunca mais.
- Mas você acabou de dizer que a gente vai voltar a se ver...
- Algum dia...
- Eu sei. Eu sei que é só algum dia e não todos os dias!
- Exatamente. Se a gente não conversar agora, talvez você jamais possa dizer tudo o que diz ter pra falar.
- Eu guardei todas essas coisas pra te dizer só no dia do adeus.
- Você ainda não entendeu que hoje é o dia do adeus?
- Claro que entendi. O que você não entendeu é que eu não quero dizer adeus.
- Eu sei... me desculpe...
- Eu não quero te dizer adeus porque não quero ver você indo embora, porque sei que ao ir, você nãp vai dar nem uma olhada pra trás pra ver que estarei chorando por sua causa. Não quero te dizer adeus porque eu tenho medo de como vai ser meu dia-a-dia sem você me apoiando, você que tem sido o meu porto seguro o tempo todo. Não quero te dizer adeus porque não poderia deixar você ir embora sem admitir que apesar de ser só meu amigo, você representa muito mais que isso, você representa o primeiro amor - seja lá o que isso queira dizer -, a primeira vez que eu senti em alguém um sentido para mim. Foi o primeiro, até hoje o único, provavelmente o mais inesquecível. Eu não quero dizer adeus porque venho pensando há tempos sobre as coisas que eu tenho pra falar e sei que, ao dizer adeus, não vou conseguir falar tudo e depois vou ficar me sentindo mal por isso. Eu não quero te dizer o adeus porque não quero te admitir o amor.
- ... nem sei o que falar...
- Você não tem que dizer nada sobre o que eu disse, porque eu não disse nada. Mas agora vá, vá embora amanhã e não me procure para se despedir. Eu não vou dizer adeus a você.
Eu queria apenas lembrar que espontaneamente não quero aceitar o mundo desse jeito, com pessoas que eu amo tanto, com tanto carinho que eu tenho guardado para usar, de repente, com certo medo de tudo o que eu não sei o que é, de tudo que eu não sei como funciona, tenho que admitir que ver o fim chegando é pior do que ele mesmo. É como uma saudade de um tempo que ainda não passou. É como se uma nova vida, diferente da que é a minha de verdade, derramasse devagar seu féu através dos olhos que não se fecham, apenas olham para o outro lado. Não há nenhum pensamento otimista aqui. Há apenas o medo de um dia escuro que chega ao fim sem que a chuva passe. Sem nem ao menos que a chuva chegue.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Pra lá deste quintal era uma noite que não tem mais fim;

"Não, não fuja não!
Finja que agora eu era o seu brinquedo, eu era o seu peão,
o seu bicho preferido!"

Hoje eu olhei pro céu e me esqueci que eu já nem tenho mais seis anos de idade, e me esqueci que parecia que ia chover porque as nuvens estavam tão cinzas e tão grandes e tão densas... Mas olhei pra cima e vi que a nuvem parecia um dragão, um dragãozão de conto de fada!
Fiquei imaginando esse dragãozão sobrevoando a cabeça de tantas pessoas inadvertidas do perigo que as seguia, mas não pelo perigo real que um dragão carrega consigo (de uma possível destruição em massa após uma baforada de fogo), mas o perigo mais sério que se pode haver entre adultos: a completa ignorância.
Aprendi em algum momento que a tristeza é a única leveza em um adulto, algo que é considerado seguro e quentinho, a única coisa não-palpável em que adultos acreditam e parecem almejar é essa coisa de ser triste, sempre igual, sempre previsível. A segurança da previsibilidade.
Eu, enquanto criança, desejava apenas ser adulta. A grande, responsável, cheia de glórias e nem eu mesma sei o que eu esperava que viesse junto com a "adultidão". Hoje olho pro mundo adulto - um mundo do qual eu nem pertenço direito - e sinto muito medo, medo de me tornar uma pessoa com essa cabeça fechada e desinteressada que os adultos têm.
Então resolvi que quero crescer brincando de ver dragões em nuvens, brincando de encontrar segredos dentro do liqüidificador, brincando de ir vivendo em paz.

:)

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Tenho a vida leve pra você levar. Pois leve contigo qualquer resquício de que você já esteve comigo, e saiba que vagar em vão não vai resolver. Você vai procurar motivos para não assumir que viu em mim algo que queria para você, seja lá o que for. Você vai embora, e deixar em mim apenas lembranças, vagas noturnas de um filme que não teve final feliz. Na verdade, nem fim eu vi nesse filme, não vi nem vivi. Mas quero que vá, vá em paz comigo e contigo, que eu fico aqui. Fico assistindo os próximos personagens bem-vindos no meu vídeo, que você encontre os seus. Que você viva leve a sua vida, e entenda que viver jamais será em vão, sem véu, meu céu.

O espelho

Resolvi aderir à causa anti-espelho. Os evito todos, todos que cruzam meu caminho: viro o rosto, viro o corpo, para jamais olhar naqueles olhares de vidro, aquele sorriso de vidro, tal corpo de vidro.
Meu problema é que espelhos me distorcem. Não a imagem, mas meu caráter. Vejo no espelho polido apenas uma imagem que não me agrada junto de um caráter distorcido, torto, uma coisa que não é minha. Não sou eu lá. Lá é apenas algo que não me pertence refletido, sem matéria, apenas imaginação.
Hoje talvez você me veja com olheiras profundas, ou a maquiagem borrada, e quem sabe depois do almoço com um pedaço de alface entre os dentes, mas lembre-se que eu não conheço aquela pessoa me imitando do outro lado de um pedaço de vidro. Eu nem gosto dela, porque ela tem olhos de vidro, um sorriso de vdro, tal corpo de vidro.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

... mas eu não sô daqui não! Eu sô é de algum outro lugar, uma terrinha minha em que eu posso plantar todos os meus sonhos e regar, e ver se crescem, se vingam. Não sou desse lugar de gente ruim, gente sozinha não. Na minha terra todo mundo é bem vindo, até quem eu nem conheço. Lá todo mundo tem o dever de ser feliz, correr atrás do sorriso, correr atrás de viver feito criança de novo. Eu num sô daqui, não quero ser daqui, e vô é procurar meu canto, meu cantinho com cheiro de terra de novo.

sábado, 8 de novembro de 2008

Corpo Humano:

Eu quis te encontrar
Perdido, desencontrado
entre as curvas complexas das minhas veias.
Rapaz, todas essas veias ou vão ou voltam do mesmo lugar
E é pra lá que você tem que ir
Não tem perigo, moço, é só seguir o fluxo.
É o que eu quis dizer.
Mas quando fui ver
você já tinha encontrado seu alvo nas minhas veias complexas
E eu não sabia onde eu estava
pois as suas veias não formam curvas:
são um labirinto.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Texto igual 1

Tenho sonhado contigo nos últimos tempos... sonhado com seu olhar penetrando o meu... devagar, célula por célula, me tomando por inteira...
tenho sonhado com suas mãos, entrelaçando-se com as minhas do modo mais suave possível, encontrando entre meus dedos o espaço perfeito para encaixar os seus... tenho sonhado com seus beijos, os beijos mais macios, os primeiros lábios que me ganharam no mundo too.
Sonhado com tua voz me ninando mesmo enquanto está só me contando uma piada...
Mas, dentre todos os meus sonhos, só consigo me lembrar de que sonho com o dia em que te terei comigo mais uma vez, com seus olhos, suas mãos, sua boca e sua voz, com seu nome e as piadas de sempre.
Me pergunto se um dia serei tua de novo...

Texto igual 2

Nossas mãos se encaixam de modo perfeito, como se os dedos pedissem para se entrelaçar a toda hora. Como se o toque fosse necessário para que nosso mundo continue gigante, girando em paz.
Nossos olhos parecem precisar um do outro para que a visão não definhe, para não parecer cegueira, escuridão.
Minha boca descobriu que precisa da tua, precisa dela junto à mim, assim como você inteiro. Assim como tudo que te rodeia;

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Sobre o tempo

Não digo pensar que ele pare
mas sei que perde a pressa
Quando você está longe
Ele olha no relógio e pensa
"Pra quê me preocupar para que a hora esteja certa?
Ela pode esperar"

E eu? Ah, eu espero.
E ele vem lento.
Quando você chega?
Ele finalmente acorda
e faz o mundo correr. E como corre!
Até o momento em que você diz
"Até amanhã!"
Mas o tempo e o amanhã param pra conversar
horas a fio, quase não chegam...
Mas eu?

Eu espero.

Clarissa

Eu acho que ela nem sabe que eu gosto tanto dela.
Eu acho que, entre todas as minhas amigas, ela é a que menos sabe que eu a amo.
Parece-me que ela tem medo que cheguem perto, então eu não me aproximo. Só aos poucos, de vez em quando, tento encontrar quem é essa menina que está sempre por perto e sempre tão longe (às vezes chego a sentir saudades...).
Ela me reprime de vez em quando, e tenho que admitir que tenho raiva quando ela tem razão, o que acontece quase sempre.
Mas o que eu mais amo nessa garota é que com ela, não são necessárias palavras. Quase nunca preciso falar para que ela me entenda (quanto ao contrário... bem... acho - e espero - que também é válido), e quando estou triste, ela não abre a boca, não fala nada para me consolar. Só me deixou claro desde sempre que seu ombro também é meu se eu precisar chorar.
Também não sei se ela sabe, mas já chorei em silêncio nos seus ombros, sem falar nada. Nem sei se ela percebeu.

Agora, lidar com o fato de que minha menina vai pra longe? Não, não quero acreditar ainda.

Contra-o-fluxo

Me sinto na contra-mão. Enquanto todos inventam modos racionais de encarar o mundo, venho ao contrário, passeando e olhando a movimentação das formigas. As pessoas acelerando partículas para simular um segundinho que aconteceu há tanto tempo que ninguém tava lá nem pra contar a história, e eu buscando um futuro no qual me apoiar! O mundo procurando mais e mais jeitos científicos de explicar o mundo e eu, procurando poesia na vida! Devo ser mesmo uma excêntrica...

Classificados: Coisas que eu procuro

Procura-se desesperadamente: óculos que possam esconder algumas realidades; um pedacinho de nuvem que me leve para algum lugar bem longe; borboletas azuis; um céu cor-de-rosa; versos; alguém que me dê o ombro para chorar (aceito comutação de ombros: os meus pelos dele(a)); o Sol; uma infância muito alegre; CDs do Vinícius de Moraes; um abrigo mais seguro; a minha solidão necessária; algumas lágrimas que deixei cair sem querer; um pouquinho mais de mim.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

E o tempo?

"Quanto tempo será que demora
Um mês pra passar
A vida inteira de um inseto
Um embrião pra virar feto
A folha do calendário
O trabalho pra ganhar um salário
Ser campeão da copa do mundo
Um dia em Saturno
Pra criança que não sabe contar vai levar um tempão
Daqui a um mês quando você voltar
A lua vai estar cheia
E no mesmo lugar"

(Biquini Cavadão - Quanto tempo demora um mês)


E um ano? Quanto tempo demora um ano inteiro?
Hoje, depois de um ano inteiro de vida, me vejo e decepciono-me. Mesmo após tanto tempo desde aquela noite, mesmo após tantas reviravoltas, tantos dias diferentes...
Sou igual, completamente igual ao que era na época! Em vários aspectos, não, eu cresci, aprendi mais um pouquinho a jogar nessa vida, conheci outras pessoas, enchergo algumas coisas de modo diferente...
Agora, quanto a você, tenho que admitir que eu não mudei. Sou a mesma pessoa, mesmíssima, te vejo com os mesmos olhos, com o mesmo friozinho na barriga, batendo os dentes como sempre... Espero você chegar e se aproximar, como fazia antes. Sinto tua presença como um calor irrompendo aqui dentro, como antes. Olho para você com vontade de chegar mais perto, como antes.
Nossa relação teve algumas mudanças, eu sei, nós até aprendemos a telepatia! Até aprendemos a nos sentir bem um com o outro...
Mas de resto, continuo te olhando com o olhar apaixonado, e você, me olhando com o olhar de um amigo, um grande amigo. E só;

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Mais uma vez;

Hoje você segurou minhas mãos e disse que tudo ficaria bem, afinal o dia sempre acaba e só o que continua aqui somos nós e uma possível lembrança de um ontem pouco feliz...
E foi só quando você (você, e apesar de todo mundo ter dito o mesmo, da sua boca pareceu tão mais real, tão mais composto pra mim...) me disse isso que eu consegui aceitar minhas bobagens todas e olhar pro mundo com meus olhos de sempre.
Agora você me domina completamente e sabe disso, você sabe sempre.
Querido, entenda que você resume muitas das coisas que eu não posso entender. Você está sempre lá quando eu penso em alguém. Você me ganhou na fofura...

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

E quando eu te encontrar de novo, sei que vou fugir. Sei que vou procurar qualquer nuvem ao meu alcance pra me perder do teu olhar. Vou rodar o quarteirão ao contrário, você não vai conseguir nem me ver. Nem me sofrer de novo.
E enquanto eu puder, vou encontrar outro jeito de viver: sem você. Sem jamais te tocar. Queria te deixar de sobreaviso, apesar de saber que você nem se importa muito. Apesar de saber que por você, tanto faz.
Se um dia eu conseguir esquecer o que você representa pra mim, talvez possa dissipar minhas nuvens e caminhar o quarteirão no sentido certo novamente. Então nos cruzaremos e quase não saberemos quem você é, quem eu sou. Talvez possamos nos conhecer de novo, nos apresentar um ao outro como se jamais tivéssemos estado juntos.
Até lá, não procure por mim. Não olhe pra porta esperando que eu entre e te abrace. Eu sei, você não se importa, mas não espero nada. Esqueça de mim.



--

A: Não sei, elas insistem em cair...
B: Quem? Como cair?
A: Minhas lágrimas. Agem sozinhas, caindo como se tivessem ficado maduras demais...
B: Posso te abraçar e limpá-las pra você?
A: Pode tentar, mas não vai conseguir estancar o choro. Mas agradeço!
B: É melhor tentar, se não fizesse nem isso, me sentiria culpado demais.
A: Mas você é o culpado.
B: Do quê?
A: Delas estarem caindo desse jeito.
B: Não entendi...
A: Choro por sua culpa, só sua. Sua culpa.

domingo, 24 de agosto de 2008

Cartas avulsas

Querido,

1. será que eu construo padrões para o resto da minha vida agora, nesse instante? Eu sei que é só a primeira vez que passo por isso, mas me pergunto: será que será sempre assim?

2. Me pego perguntando o que você sentiria se realmente lesse as cartas que te mando. Será que pena? Ou finalmente alguém conseguiria entender o como eu sinto o mundo e compreenderia quão perfeita eu poderia ser? Ou será que você se perguntaria por quê ainda não fugiu?

3. Gosto de apresentar questionamentos a você (e consequentemente a mim também), a Babi chamaria de provocações, o mundo diria que são inutilidades, para mim, nada de sério. É só que eu gosto de pensar.

4. Quando você sai, você pensa em mim? Quando você pensa em mim? Você sente saudade? O que você lembra de mim? Minha risada foi marcante? Ou foi o meu jeito de falar que te prendeu? Algo te prende em mim? Existe vida após a morte? Você lembra de mim? Você sente saudade?

5.O que rege uma vida?
Um olhar, um aperto de mão, uma casa nova, uma promoção no emprego, ter filhos, aprontar as malas, escrever poesias, fazer música, ganhar dinheiro, dizer coisas ao mundo, continuar vivendo, a falta de regência, um dia de silêncio, uma roupa de marca, a festa sábado que vem, o vestibular daqui a dois meses, uma noite mal-sucedida, um livro novo, um livro velho, um dom reconhecido, o sucesso, um amor de verdade?

Não espero resposta para nenhuma das cinco cartas.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Aula de Física

Hoje aprendi que apesar de tudo, não posso provar a ninguém que é a terra que se move,
e não o resto do universo.
Aprendi que quase nada do que aprendi eu posso provar,
aprendi como se aprende a crer em Deus, aprendi por acreditar em quem me ensinou.

Mas logo depois, aprendi que a terra se move sim! (admito, non sense)
A 1600 km/h, ligeirinho rapidinho assim!
Então eu estou sempre correndo, ligeirinho rapidinho desse jeito!

Pára! Mundo, pára que eu quero descer!
Mundinho corre rápido demais, vamos mais devagar, por favor?
Vamos apreciando a vista, vamos mais devagar?
Hoje eu queria que o dia durasse mais, mundinho, podemos ir apenas caminhando?

E ao professor que me disse que eu não posso provar nada a ninguém, saiba você:
o mundo se movimenta porque eu sinto!
Aqui dentro, sinto o mundo girando!
Eu posso provar pra mim. Ah, eu posso.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Garimpo

Uma cena bonita. Um pôr-do-sol, as luzes se misturando no céu, o laranja, amarelo, o início de uma noite estrelada.
No chão, um riozinho passa no meio da paisagem. Corta os dois morros, corta o sol em dois, talvez até o mundo inteiro ao meio! Dos lados do rio, campos verdes e floridos, as flores das mais belas cores, tons e formatos. Uma cena bonita, apesar de bucólica.
Uma menina. No centro de tudo, uma menina. Sentada na beirada de uma das metades do mundo, olhando a paisagem, as cores tão lindas ofuscadas pelas lágrimas que caem engrossando o riozinho. Uma cena bonita, mesmo triste.
A menina se levanta, levanta as calças até os joelhos e entra na parte mais rasinha do rio. Lava o rosto, não vale a pena chorar agora! Agora é preciso encontrar algo que valha a pena ali dentro. Algo de precioso, algo em que se apoiar. É preciso procurar bastante, lá no fundo, para que se possa acreditar no bom.
Pega na beira do rio sua enorme peneira e primeiro joga lá em cima todos seus sentimentos. Então, coloca muito bom-senso por cima, para separar as pedras das outras coisas podem brilhar. Depois de chacoalhar sua peneira por algum tempo, joga fora as mágoas, joga fora o ressentimento, o rancore as más lembranças.
Consegue distinguir ali no meio suas preciosidades: cada riso, cada amor, todos os momentos bons, todas as vezes que tomou banho de chuva, quando ela vê o passarinho cantando e sorrindo, a natureza dentro dela. Guarda-as numa caixinha e continua olhando sua peneira. Vê ainda tantas coisas!
Percebe, são coisas boas, mas não tão boas, e coisas ruins, mas não tão ruins... O que sobrou ela devolve ao rio.
Agora ela se sente solta para continuar em paz, para seguir sua vida a partir dali.
Agora ela se sente em paz.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Sobre o choro

Somos panela com tampa
E leite esquentando lá dentro.
Toda vez que o mundo gira rápido demais
o leite esquenta demais
e vaza.
E nós choramos.

E cada lágrima é palavra
que não tivemos coragem ou tempo ou oportunidade de dizer.
E ao caírem, molham o papel
e extravasam.
E levitam.
Até morrerem, esquecidas
ou escritas no papel, eternizadas.

Você

Entra na minha vida e se demora
não há motivo para ir embora
Você nem tem que olhar a hora!

Meu bem, temos a noite inteira
Temos a vida inteira
Hoje nós podemos acreditar em 'pra sempres'
Nem que seja só por uma noite.
Nem que seja só pela próxima meia hora
Eu já me decidi:
não quero me ausentar da vida por medo de amar.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Comentário sobre um assunto banal...

... e eu fico abismada com o jeito que as pessoas têm trocado de amor. Como se encontrassem um 'amor da vida' por semana!

Vejo todos se apaixonando e desapaixonando e reapaixonando e desapaixonando novamente em questão de segundos! Parece que não dá mais tempo nem de prestar atenção em cada detalhe referente ao apaixonante; saber exatamente o que significa um sorriso ou um olhar, saber apreciar, saborear, decorar cada palavra vinda da boca amada...

Pois eu sou uma amante à moda quase antiga: meu coração tem baixíssima rotação!





A Flávia, do http://url--indisponivel.blogspot.com/ me mandou um selo há muito tempo, e eu não soube o que fazer(!)! Primeiro selo a gente nunca esquece!
Agora, com as devidas orientações, repasso esse para a Jú do http://cadapartequemefaztoda.blogspot.com/, pra Dayane do http://palavrasdenanita.blogspot.com/ e pra Meire do http://de-fora.blogspot.com/.


Obrigada, Flávia, adorei!

domingo, 6 de julho de 2008

Sobre o fim e o começo

Não sei ainda qual é o mais difícil
Escolher as palavras no começo
Ou simplesmente não ter mais que escolhê-las, no fim.

O leque do começo.
O vácuo do fim.

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Me encontro na rua
Há poesia nesse encontro.

Quem se encontrou comigo?
Eu, ou meu eu-lírico
cheio de lirismos?

Eu.. lírico
Pois seu lírio?
Sírio. Sério.
Sorrio.

Pois se há poesia
há eu-lírico
ou teu-lírico
nós-líricos

Meu-lírico se expressa
Aqui, agora,
sou eu ou eu-lírico?
Somos a mesma pessoa?
Ou o eu-lírico sou eu
quando me dá de escrever poesias?
Meu eu-lírico não sabe responder todas as minhas perguntas.
Ele apenas sou.
Cheio de lirismo;

terça-feira, 17 de junho de 2008

Não há o que escrever
Não há nada aqui dentro para ser exposto
Não há flor, não há ramo, não há nada
Você não está por perto e tampouco eu estou

Voando longe, deixo apenas as palavras me escreverem
É uma atividade interessante:
deixar as palavras saírem
naturalmente
Não tenho que ler a última linha.
Pronto, eu não tenho que fazer sentido.
Porque hoje não há sentimento.
Hoje não há estrela lá fora,
hoje eu não existo integralmente,
mas me sinto tão mais completa que o normal.
Assim, escrevendo as palavras sem escolhê-las

Não sei da qualidade do texto
mas sou eu sem pensar demais
sem muitos paradigmas
Hoje queria te beijar e estar com você,
mas não quero mais falar sobre isso.
Porque não agüento minha situação em relação a você.

Odeio segundos vazios
odeio o ódio e odeio odiar.

Hoje quero ter o sol dentro de mim
Hoje quero entrar em mim
Hoje quero esquecer do resto.

Hoje não quero palavras conexas.
Hoje não há palavras.
Hoje não há o que escrever.

Errei...

Tenho que admitir que eu não sei mais me controlar
não sei controlar o que te sinto
E não há nada mais triste do que saber que errei
Ah! Sim, errei mais uma vez

Errei ao te querer por perto
Errei ao pensar que dessa vez não me apaixonaria
Errei ao sentar ao seu lado
e aceitar o seu papo.
Errei ao acreditar que dessa vez seria diferente.

Não foi. Você me tem na palma da mão novamente
Você me tem inteira, quando quiser, mais uma vez.
Você me tem morrendo de ciúme sempre que olha pra ela
Não queria sentir tanto ciúme...
Odeio sofrer por te amar tanto,
Odeio sofrer tanto.

Sigo errando ..............Errei por te amar
Sigo errando ..............Errei por te admitir ao meu lado
Sigo errando ..............Errei por querer estar ao teu lado
Sigo errando ..............Errei por nos dar mais uma chance
Sigo errando ..............Eu errei demais
Sigo errando ..............E sigo errando.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

12/06

Pronto. Não preciso de ninguém aqui hoje.
Eu posso ficar só, pois tenho tudo que preciso para estar feliz.

Tenho a minha música,
que me embala, me balança a alma.
Tenho a minha tortinha de nozes.
Aliás, acho que se não fosse essa tortinha
hoje não seria tão completo assim!

Tenho o Sol, brilhando, aquecendo,
tenho o vento, balançando meus cabelos e as páginas de poesia
Tenho essa grama na qual estou sentada
macia, me acaricia...
E só.
Tenho a mim mesma, quase auto-suficiente.
Uma companhia, é claro, seria bem vinda,
mas só, sozinha, aqui, já estou muito, muito feliz!


(E para quem tem alguém sentado ao lado, meus sorrisos :)

terça-feira, 10 de junho de 2008

- É que a gente só quer se encontrar, né...
- Se encontrar aonde?
- Na gente mesmo, se encontrar com a gente mesmo!
- Eu quero mesmo é me encontrar rico lá na cidade alta!
- Não, isso todo mundo quer! O que eu tô falando é de saber quem a gente é, né...
- Eu sei quem eu sou! João da Silva, 25 anos. Sei tudo a meu respeito, tudinho tudo mesmo!
- Não, Joãozinho, tô falando de poesia, tô falando de olhar um céu bonito e se ver lá dentro, olhar e ver, de vez em quando, sabe?
- Sei não, dona moça, eu acho que você tá é caducando!
- Um dia cê vai me entender, seu João! Começa a olhar mais pro céu, um dia cê vai se ver lá dentro, e vai é começar a pensar... pensar na vida, nas coisas da vida... Aí cê vai compreender do que eu tô te falando hoje... Cê vai perceber que o sol de vez em quando até sorri pra gente!
- Não dá pra ver se o sol sorri mesmo, a gente não consegue olhar muito tempo, o sol brilha demais...
- É disso que eu tô falando! Do sol brilhando tanto, mas tanto, que você só vê os sorrisos dele... E o vento venta tanto vento que lembra os dias de criança brincando na rua, e ficar tudo sujo de terra de tanta alegria... Um dia cê vai me entender, Joãozinho.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

- Filha, ontem fez sol?

- Claro, pai! Ontem teve primeiro neblina, e depois o sol, ficou até que quente, se a gente comparar com os outros dias!

- Puxa vida, eu nem vi!

É com tristeza que concluo, então, que o futuro não é a coisa que eu mais quero na vida.
Meu Deus, o futuro não olha pro céu! O futuro não presta atenção em nenhuma coisa grandiosa como o dia após o outro...
Primeiro, a surpresa do céu, do Sol, do mundo. Depois, o aconchego do dia-a-dia.
Depois, o costume. O hábito. Apaga-se qualquer informação banal do cotidiano. Assim, feito poeira que a gente limpa com flanela de cima do armário;

Futuro, não te quero!
Não assim, por favor...
Quero a surpresa do mundo lá fora, quero essa surpresa pra sempre na minha vida...

Um desabafo a um amigo que jamais lerá isso.

O amigo diz à amiga, chateada por não ter um namorado, a seguinte frase:

"Melhor não ter uma pessoa assim do que ter e perder..."

Claro, esse amigo passa atualmente pelo fim de um relacionamento importante, tem sofrido com isso. Claro.
Passei os últimos dias pensando nessa frase... Então, meu amigo, será que é melhor mesmo?
Então é melhor jamais saber o sabor da fruta apenas porque uma hora ela vai acabar?
É melhor não experimentar pelo medo do fim?!
Meu amigo, qual relacionamento não acaba? Qual relacionamento não traz sofrimentos?
Nem as ligações de sangue são à prova de bala... Até os átomos, minúsculos, podem ser separados - e as conseqüencias, como sempre, são explosivas! - e todo mundo tem que lidar com isso...
Você preferia jamais ter conhecido a sua namorada? E jamais ter vivido com ela o que viveu? Aprendido com ela tudo o que aprendeu?
E todas aquelas tardes em que você acreditou não precisar em mais nada, além da sua garota ao seu lado? E aqueles beijos?
Não valeram a pena?

Não valeram a pena, meu querido?!
Agora que acabou e só há sofrimento, talvez você não entenda...
Mas na minha opinião, é claro, melhor é mergulhar, mergulhar de cabeça nos relacionamentos - puxa vida! De qualquer maneira, uma hora vai acabar... E vai haver sofrimento, e coisas boas e coisas ruins. E aprendizados, muitos.

Agora, olhe ao redor. Milhões de opções pra sua vida continuar... Sua garota fará o mesmo, novas portas, novos momentos... Te prepare, querido, te prepare que o mundo te espera demais...

domingo, 1 de junho de 2008

A valsa

Um-pra-lá, um-pra-cá.
Um-pra-cá, um-pra-lá.
Dois-pra-lá, minhas mãos enlaçando teu pescoço.
Dois-pra-cá, duas tuas mão em volta da minha cintura
O piano toca uma música para nós dois
Umpralá e um palco todo iluminado por nosso movimento
Doispracá e mais nada além de você e eu.

Enterro meu rosto nos seus ombros: entregue a você.
Minhas bochechas ruborescidas e eu, agradecendo por você não estar vendo
Lá fora, o frio cortante.
Mas aqui contigo, o mundo é agradável, quente.
E só com você tudo é tudo de bom.

Umpralá você consegue ouvir?
Umpracá desculpe, ouvir o quê?
Doispralá meu coração batendo mais forte...
Doispracá mas na verdade, nossos corações estão no mesmo compasso!
Nossos corações colados batem juntos,
e já nem sei mais onde eu termino
e você começa.

Rodopiamos por nosso palco amarelo.
Eu rio: nervosa que estou.
A música cessa.

Não! Não me solte!
Fique aqui comigo...
Se você for, o que de mim continua comigo e contigo?

Outra música começa.
Voltamos a rodopiar.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Saída discreta pela porta dos fundos

Sua alma jamais caberia no corpo
Era pequena demais, ou talvez muito grande!
Se alimentava de solidão,
Não passava de ninguém;
Não há descrição, não há características a ela
Mas não era infeliz,
apenas confortada em sua posição insignificante,
pois era assim que devia ser,
as coisas para ela seriam sempre assim.
Talvez apenas porque jamais soubera como seria a vida diferente.

Mocinha, te esperava uma outra história
esperava que encontrasse outro modo de viver
Não deu tempo:
demorou demais!




(Poesia baseada num livro muito bom, leiam se lhes interessar: A Hora da Estrela, de Clarice Lispector. O livro é milhões de vezes melhor que a poesia ;D)

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Mas eu, perdida de mim mesma,
segurei aquele sonho nas mãos, como conchinha. Apertei forte - "não fuja, sonho bom!" - contra o peito. Quis abraçar
aquele sonho bom. Quis dividir meu sonho com todo mundo,
ninguém veio.
Quis escrever o meu sonho bom. Quis que todos lessem.
Ninguém soube lê-lo.
Representei meu sonho na praça pública - da República!
As pessoas passavam por mim e, desconfiadas, davam-me as costas.
À noite, deitada no jardim, tentando enchergar as estrelas - tantas luzes nessa cidade! -
encontrei você,
que disse que sonhava o mesmo que eu.
Vi em cada olho teu uma estrela, minhas estrelas.
Então sonhamos juntos, nossos sonhos bons...

Mas eu...

Eu não te faria sofrer como ela faz,
eu não te magoaria constantemente como ela...
Não! Perfeita eu não sou!
Me fizeram com falhas, defeitos, como qualquer um
Mas jamais te machucaria propositalmente,
Propositalmente, não!

Não como ela faz,
ela te faz tão mal e você continua insistindo...
Enquanto isso,
infelizmente te espero,
te espero e asseguro que se um dia você me der tal chance,
propositalmente, não...

terça-feira, 13 de maio de 2008

...

Você abre os olhos.
O vê ali, na sua frente. Hmm... Seria tão bom estar mais perto dele.
"Não!" Alguém grita;
Você olha ao redor. Não há ninguém além daquele rapaz e da sua vontade de encostar nele.
Encostar nele seria tão bom... Abraçá-lo, talvez beij...
"Não!" gritam novamente.
Você se pergunta se não está ficando louca. Não há mais ninguém...
Quase volta às suas divagações, mas a voz volta:
- Ei! Sou eu, não me vê? Seu passado muito próximo...
Olha para cima e vê a si própria. Mas não como você é hoje. A sua imagem flutuando ao seu redor tem a maquiagem borrada, se veste completamente de preto, acabrunhada, entristecida.
"Mas essa era eu? Quando?" você se pergunta. A resposta vem pronta:
- Não se lembra mais de mim! Cicatrizou, então, hein?! Mas do garoto ali, você se lembra... Pois foi ele que te causou esse passado tão desagradável!
E então, a lembrança... Primeiro, um momento igual a esse que você vive nesse momento: você e ele, só vocês dois. É claro, o encantamento e a paixão em seguida. Tudo tão bom...
Depois - meu Deus!- , a noite acaba, o sol nasce, ele sai de perto. Ele vai embora, mas a paixão fica.
Nem mais um olhar, nem mais um sorriso. Muitas, muitas poesias, muitas lágrimas, e o tempo passando.
Aos poucos, você e ele se reaproximam, talvez uma amizade seja possível! Paradoxalmente, você e a sua imagem do passado se afastam.
Você se convencendo que passou, agora vocês são só amigos, mas seu passado já sacudia de leve a cabeça...
- Você não passa de uma lembrança! Dessa vez é tudo diferente! - você responde ao seu passado.
- O que é diferente? Você não aprendeu nada!
- Claro que aprendi... Dessa vez é diferente...
- Pois você vai ver... Hoje sou só um passado meio apagado, mas amanhã eu serei teu futuro! Você não aprende mesmo...

terça-feira, 6 de maio de 2008

Diálogo

“Quando a luz dos olhos meus
E a luz dos olhos teus
Resolvem se encontrar,
Ai que bom que isso é, meu Deus,
Que frio que me dá o encontro desse olhar!”
(Vinícius de Moraes – Pela luz dos olhos teus)

Ele: Ei. Vem cá.
Ela: Que foi?
Ele: Vem cá!
Ela: Cá onde? Cá onde está?
Ele: Sim, cá onde estou. Vem.
Ela: Por que você tá me chamando?
Ele: Te quero aqui, cá onde estou.
Ela: Mas eu não posso ir.
Ele: E por que não?
Ela: Não posso me chegar aí. Não posso...
Ele: E por que não pode?
Ela: Tenho medo de te ver tão de perto.
Ele: Não mordo não. Vem cá.
Ela: ...
Ele: Eu tô com dor de cabeça. Me abraça?
Ela: Não era só estar perto? Pronto, estou aqui! Mas abraçar? Você tá é querendo me ver apaixonada de novo!
Ele: Mas eu só quero um abraço. Assim, um braço seu por cima do meu ombro, agora o outro... Com meus braços em volta da tua cintura... Fácil, assim. Agora eu coloco minha cabeça no teu ombro. Apoia tua cabeça no meu ombro!
Ela: Quer me apaixonar de novo. Me fazer sofrer de novo!
Ele: Só um abraço... Hum... Você tem um cheirinho bom...
Ela: Pronto. Te abracei, dei tudo que você me pediu. Posso ir embora antes de te olhar nos olhos?

Ele: Qual o problema dos olhos?
Ela: Não é problema. É paixão.

domingo, 4 de maio de 2008

O chão (não) amparou

O prato caiu!
O chão amparou.
O Gato caiu!
O chão amparou.
O cabelo caiu...
O chão amparou!

Tudo, tudo no mundo que cai
o chão amparou

Mas teve um dia
Você foi embora
meu mundo caiu
o chão afundou,
desapareceu
virou abismo
Não acho mais um chão
só queda
só queda.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

'Espero a chuva cair...'

Olho o céu e nem sei mais o que vejo
Se vejo o Sol ou o seu
o Seu sorriso solitário
Não sei se é sombra ou nuvem
ou chuva

Não sei se o que sinto na pele
é sal, sol, ou o Seu
o seu sorriso solitário
Penso ser apenas chuva
mas que chuva é essa?!

Talvez seja o Sal solitário,
ou talvez um pote de sorrisos seus
todo um sol pra mim...

terça-feira, 29 de abril de 2008

Mariana

Me diga, meu amor, já regou sua saia hoje?
Pois vá correndo, querida, ou suas flores começarão a murchar!
Quero te ver linda hoje, seu aniversário
Você e as florzinhas da sua saia.

Claro, papai.
Vou regar todas as flores da minha saia,
quero vê-las brotando novas logo...
E você me verá crescendo, crescendo com minhas florzinhas...

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Sobre os sonhos

Quando eu sonho com você
Na verdade tudo está acontecendo de verdade
Mas ninguém tem que saber
É só o meu segredo de sonho...

quinta-feira, 24 de abril de 2008

A metade que deixei cair

Naquela tarde talvez ensolarada
não me lembro muito bem!
Naquela tarde meio escura
só sei que deixei uma metade minha para trás
Não sei que metade era,
se era minha ou sua metade de mim.

Só sei que sou sombra
Só sei que sou solidão
Hoje só sei que não sei, não sou.

Mas te vi numa paisagem
e você acenava
E vi em você um pedaço de mim
Um pedaço de mim no seu sorriso
Um pedaço no seu paletó
Um pedacinho enorme meu se enrolava nos seus olhos castanhos
E em cada movimento seu me encontrava um pouco mais.

Você se virou e foi embora,
E deixei cair a metade da minha metade que tinha sobrado...

terça-feira, 22 de abril de 2008

Teclado tenta se suicidar

A verdade é que eu deixei ele cair
Mas se eu assumisse isso não poderia conviver com a culpa
Então já o imagino de braços abertos,
gritando,
"ELA NÃO ME AMA, VOU ME MATAAAAAAAaaa..."
E quando eu fui ver, ele sobreviveu,
mas não funciona tão direitinho como antigamente...
E eu percebi que eu o amo...
Pobre teclado...

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Desabar

Desabei.
Chorei,
chorei de soluçar.
Não pela sua ausência nos meus braços.
Não por estar nos braços dela.
E sim pela sua presença
Sua presença insistente nos meus pensamentos,
Sua presença onisciente, quem sabe infinita.
Presença melancolicamente assustadora.

Tinha um parquinho no condomínio...

E lá todas as crianças se juntavam pra brincar.
Até que teve o dia que ninguém mais foi no parquinho.
Só o João. E a Maria.
E eles sentaram no chão e contaram histórias,
e inventaram reinos só dos dois,
com seus cavalos e reis e rainhas e princesas.
Cada balanço do parquinho ia e vinha nas invencionices de duas crianças que conversavam pela primeira vez.
E a gangorra era a sala de jantar com seu banquete mais colorido.
E enquanto João e Maria corriam em volta do parquinho,
nascia nos dois algo diferente,
um novo medo.
Um novo beijo.

E depois desse dia, nunca mais nenhum dos dois voltou ao parquinho.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Sobre a poesia

Mas a minha poesia
é só mais um jeito de explicar
todos os porquês das minhas indagações.

segunda-feira, 31 de março de 2008

A menina e seu jardim

A menininha morava em sua casinha no fim da rua, e no fundo de sua casinha havia um jardinzinho.
O jardinzinho da menininha era todo colorido, e sua pequenina dona o amava mais do que qualquer outra coisa na sua vida.
A graminha do jardinzinho era toda verdinha, e em todos os canteiros havia florzinhas de todas as cores bonitas do mundo.
O vestidinho da menininha combinava completamente com seu jardinzinho, cheio de flores estampadas, flores brotando em todos os bolsos, e meiões de cores diferentes em cada pé. Sapatinhos vermelhos com um botão preto, como joaninhas. A menininha usava um chapéuzinho azul, da cor do céu. Ali também brotavam muitas flores.
Um lindo dia a menininha olhava pela janela de seu quartinho e viu um rapazinho passando ali na frente de sua casa.
O rapazinho se vestia de preto.
O rapazinho andava para baixo, como olhar baixo, o passo lento, triste.
Mas o rapazinho olhou para a menininha, e ao olhar para ela, sorriu de leve.
Daquele sorriso nasceu uma flor. Talvez a flor mais linda que a menininha já tivesse visto.
O rapazinho foi embora. A flor ficou.
A menininha correu até a rua, pegou a flor e a plantou no meio de seu jardinzinho.

Hoje a mocinha passa metade de seu tempo olhando a flor mais bonita plantada no meio do jardim, e a outra metade, olhando pela janela de seu quarto, que agora ficou pequeno demais para seus suspiros.

domingo, 30 de março de 2008

Sobre a traição

Ele ia te abraçar
mas errou de corpo
errou de braço
errou de laço
errou o perfume
abraçou como a um cristal
abraçou uma outra mulher
e parece que foi proposital.

sexta-feira, 28 de março de 2008

O seu sorriso

É como se um mundo novo se abrisse
cada vez que você sorri
É como se o Sol saísse
e as estrelas brilhassem um pouco mais
É como se as nuvens se dissipassem em um segundo
O suficiente pra eu poder respirar mais um pouco.
Cada vez que você sorri.

:)

Óculos novos

A armação é roxa e laranja
E o formato dele deve ser menos quadradão
Eu acho que meus novos óculos
vão me ensinar a enchergar o mundo
ver um pouco mais;

Sobre a violência

É que está escrito nos seus olhos
toda brincadeira reprimida
e aquela lágrima que caiu e ninguém jamais percebeu
ainda tenta se libertar de algum jeito em você.
E você acha que é nos outros que vai se soltar.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Dilatando olhos.

Meu querido, fomos ao médico. As vezes a gente precisa, né, de um cuidado especialista. As vezes a gente precisa de alguém que diga que nós precisamos mudar a dieta, aumentar os abraços, aprender a olhar, e é incrível, a gente só acredita se tiver diploma preso na parede.
Esse médico nosso é médico do olho.
Pingou umas gotinhas mágicas e disse "Agora você vai ver tudo que ainda não tinha visto". Fiquei com um medo! Como assim ver tudo, doutor?
Só sei que na hora ardeu. Depois embaçou tudo (Como que eu vejo tudo que eu ainda não tinha visto com o olho assim, embaçado?!). Depois me deu uma zonzeira, uma tontura que só. Depois todas as luzes do mundo me incomodavam. Depois assentou. O olhinho dilatado com a nossa realidade.
Vejo tudo. E o que é o tudo?
Vou te passar o número de um médico do olho muito bom, você vai ver tudo!

sábado, 22 de março de 2008

Para construir uma felicidade.

Olhe o passarinho. Olhe as estrelas. Olhe o mar. Olhe as pessoas.
Enchergue além do que se vê. Enchergue o sentimento por trás de um sorriso. Ou de um tapa.
Entenda esse sentimento. Compreenda o sofrimento, alegre a alegria.
Viva o agora.
Esqueça o ontem. Esqueça tudo que te magoa. Esqueça quem não merece ser lembrado. Esqueça tudo que te limita. Esqueça o amanhã.
Invente uma realidade nova. Invente um segredo novo (Não se esqueça de que esses são invencionices!) Invente um momento novo. Invente um outro ideal. Invente uma palavra nova.
Pare de usar verbos no imperativo. Pare de roer as unhas. Pare de exagerar, seja lá no que for. Pare de correr tanto. Pare de ignorar os outros.
Tente abraçar alguém que nunca abraçou. Tente sorrir para todos. Tente estender a mão para uma pessoa que não espera essa ajuda. Tente não sentir ciúmes. Tente ouvir Vinícius de Moraes. Tente perceber que o mundo é tão maior.
Abra novas portas. Abra os olhos.
Diga todas as palavras bonitas que encontrar. Diga todos os "eu te amo" que sejam necessários. Diga "bom dia" aos vizinhos. Diga "Olá" para quem é novo no grupo.
Pergunte se está tudo bem.
Se preocupe com os outros. Se preocupe consigo mesmo.
Evite ser egoísta. Evite ser negligente. Evite ser chato. Evite falar demais. Evite sumir de si mesmo. Evite mentir.
Encontre em si algo que goste muito. Encontre nos outros todas as qualidades.
Construa algo que seja bom não só para você, mas para todos a sua volta.
Construa a felicidade em qualquer chão que pisar.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Como escrever uma poesia:

Pegue todas as palavras bonitas
sobre determinado assunto
e junte-as do modo que melhor lhe agradar.
Separe-as em versos e estrofes,
sem separá-las de si mesmas.

Escreva tudo o que lhe vier à mente
e verá que depois fará sentido.
Nem que seja só para você.

terça-feira, 18 de março de 2008

Vestidinho da princesa

E quando eu me sinto só
eu visto aquele vestido de princesa e vou brincar
brincar de princesiar pelos reinos do meu infinito
brincar de talvez encontrar um príncipe de algum infinito outro
brincar de talvez correr por pradarias verdes com esse tal príncipe,
só por diversão,
só pra imaginação não parar de me acolher quando mais preciso.

terça-feira, 11 de março de 2008

Casal discute a relação

Mas nos seus rostos sérios
está escrito:
Fechados pra manutenção.

Não!

Não!
Não se aproxime desse jeito
nunca mais
Se mantenha longe
Se mantenha afastado
Não converse comigo!

Eu não estou preparada para te ter
por perto mais uma vez
O seu sorriso ainda mexe comigo
Seu olhar assim, tão perto
ainda me faz lembrar
Suas mãos ainda me fazem lembrar.

Você ainda me faz lembrar.

Mas você insiste em vir
sorrir
olhar
lembrar.

E eu sinto ciúme!
Meu deus, eu sinto ciúmes.
MORRO de ciúme.

E você nem é meu.
E você nem liga.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Etiqueta.

Ei, moço! A sua etiqueta está aparecendo!, quase digo em um momento de loucura. Na fila do supermercado, o rapaz está apressado na minha frente.
A etiqueta da camiseta dele estava aparecendo, e eu apenas olhando praquele "M" escrito, quase arrumando pra ele, tamanha era a minha agonia.
Acho que seria pisoteada por um rapaz apressado.
Pobre rapaz, tão ansioso, inexpressivamente injuriado. Pobre moço, se você só arrumasse essa etiqueta, as coisas já estariam melhores!

domingo, 9 de março de 2008

Pois é;

Admito:
dessa vez você quebrou as minhas pernas.
Dessa vez olho para os lados e não encontro mais ninguém,
posto que você (que estava junto de mim) resolveu ir embora!

Mas é claro, minha amiga
a culpa não é sua!
Não posso me zangar contigo.

Mas saiba:
quebraste minhas pernas.

Sobre as palavras

Não me acaricie como elas
Não me bata como elas
Não se entregue a mim tão delicado quanto elas
Não tente ser melhor que elas

Não há ninguém que possa se comparar a elas.

quinta-feira, 6 de março de 2008

Faltou a luz.

É que quando chove
os postes ficam tristinhos
pois não poderão bater palmas iluminadas.

Sobre os cabos do computador;

A gente não os vê
mas estão sempre ali, entrelaçados
se amando como ninguém aqui.

Menina Solitária

Você olha para ela e sente pena
Dó, dó por ela ser tão sozinha.
A menina anda por todas as ruas da pequena cidade no interior de seu coração,
ela e seus loucos pensamentos,
suas pequenas e desvairadas mordaças imaginárias
Seu olhar perdido, sempre pensando em alguém que não está ali

Você olha para ela e sente pena,
mas o que você não sabe é que ela te olha com a mesma pena
pois não consegue imaginar vida com tanta gente ao redor
tantas cobranças,
tanta pressão, tanta hipocrisia,
tanto sofrimento!
E ela se pergunta se você escapa da solidão.

Você escapa da solidão?

Félix

Hoje ouvi teu nome num miado de gato de rua, e senti aquela saudade apertando o joelho (é que saudade em mim aperta joelho), e lembrei de como você era o meu melhor amigo,
e se eu estivesse triste você viria e me abraçaria daquele seu jeito, daquele jeitinho que só você sabe fazer, enquanto todos os outros se afastariam, provavelmente com medo das minhas lágrimas.
Mas você vinha e as limpava do meu rosto e depois disso se deitava no meu colo e dormia, arrumando todas as bagunças com o seu calor de solidariedade.
E quando eu estava feliz, podia te apertar o quanto eu quisesse que você não ia reclamar, só ficar ali, torcendo pra que toda a minha alegria estravasasse pelo infinito.
Você era o meu pedacinho de céu, mas agora é um pedacinho de céu de todos nós, você está sempre lá me mandando um olá.

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Mais um.

E quando a gente acaba percebendo que se iludiu?
E quando só o que nos resta é a percepção de que talvez as coisas não sejam assim, tão lindas como a gente sonhava.
Talvez você não seja tudo que eu sempre quis
e talvez eu nunca saiba se o é ou não!
As coisas ficam difíceis, conforme o tempo vai passando.
E algumas realidades não são tão graciosas quanto a gente sonha.

Não sei de nada.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Ovo de codorna

Pois é, meu querido ovinho... O seu caminho até aqui foi muito, muito fácil! Do frágil corpo de sua mamãe codorna, para as bandejinhas confortáveis, e das bandejinhas para o fogão...
Tudo muito fácil! Agora está aqui, quieto e calmo na minha frente, e só o que tenho que fazer é descascar-te calmamente... Vou te limpando dessa camada de segurança que o envolve...
Não tenha medo! Mas já vou te contando o seu futuro: Vai ser mastigado por uma pessoa que nem te conhece (não tanto quanto eu), nem se interessa por quem você é.
Será engolido, deglutido. Então vem a pior parte: o estômago. Ah, sim, o estômago... Imagine um monstro, um grande monstro cheio de líquidos corrosivos, cheio de movimentos bruscos, cheio de destruições. Não tente resistir... Vai ser destruído completamente. Já não saberá mais se é você mesmo ou se agora já se misturou com a alface, o arroz, o feijão e todas as outras vítimas (fatais) de tal ser.
O resto do seu futuro... Não, meu querido, pra você não há futuro, a partir daí você realmente já não é mais nada.
Não quero te amedrontar. Mas espero que esteja preparado.

Tecendo momentos.

Ah, quero abraçar-te e estar contigo, quero elogiar suas roupas e me estirar ao teu lado, pra que enxergues comigo qualquer detalhe no tecido todo azul do céu, cada estrelinha bordada à mão desse momento igual.
Quero dizer teu nome e me arrepiar ao te ouvir falando baixinho o meu.
Quero abrir os braços e te encontrar na minha frente, te encontrar de braços igualmente abertos, para mim.
Quero te encontrar em cada olhar, em cada segundo da minha existência crer que há um pouco de você em mim.
Quero nunca ter que dizer adeus.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Aflição de você

E agora, como é que eu convivo com essa aflição enorme que é gostar tanto de você?
E que situação mais desagradável!
Nem tenho como te olhar nos olhos, ou te abraçar apertado pra sentir se seu coração também bate mais forte!
E se você na verdade não gostar nem um pouco de mim? E se não quiser nem tentar gostar de mim?
Não sei se um dia vou saber, já que nas poucas vezes que te vejo, tenho tanta vergonha que não consigo nem ao menos dizer um "olá"!
Você também não fala comigo. Nem olha. Não sei de mais nada, mas não queria mais essa aflição.
Nunca mais.

As não-regras

Ela não tinha aquele saudável hábito
de respeitar as leis
via prazer em burlar todo tipo de regra.
Por isso ficou sozinha.
Sem amigos, sem parceiros.
Sem ninguém.

Inventou (sozinha) aquele jogo que se joga solitária.
Cujas regras podem ser quebradas...
Podem não. Devem!

E lá vai a menina sozinha
jogando sozinha
o jogo dos solitários;
sem regras nem limites.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Ilusões apaixonadas dentro de uma barraca flutuante;

"Is this love, is this love that I'm feeling?"

Ela se deita no chão frio de sua barraca da cor da água fria que caía a sua volta. A música que tocou no vizinho era Bob Marley. Ela não tinha sono e via todas as luzes se apagando e ela ali, sozinha.
A música a tomava por inteiro na solidão da barraca, e a chuva que caía a fazia flutuar, levitar, voar pra tão longe quanto seria possível naquele instante. Todos os sons foram calmamente cessando, até que tudo o que sobrou foi o som de sua própria respiração e o Bob Marley no vizinho ("is this love, is this love, is this love that I'm feeling?") respirando junto com ela.
Não. Havia mais alguém ali, uma terceira pessoa além dela e do Bob Marley. Uma pessoa nova, diferente. Ele.
Ah, ele estava ali com ela, e ela não sabia mais o que pensar ou dizer para ele. Logo ele, que não era para ser ninguém, nada além de uma conversa divertida, uma companhia nada palpável, quase totalmente virtual. Logo ele lhe estava roubando o sono!
Agora ele se senta na sua frente, encolhe as pernas compridas, afasta os cabelos de cima dos olhos e a olha.
- Por que você está aqui? - ela lhe pergunta, com os olhos úmidos.
- Porque você quis que eu estivesse aqui!
- Não! Eu nunca quis que você estivesse aqui dentro de mim! - ela responde, agoniada.
- Por que você não quer admitir que é isso, justo isso, que você mais quer agora, nesse instante?
Bob Marley cantava mais suave agora. Até ele queria ouvir aquela conversa.
- Eu... eu não vou admitir nada! Eu não quero te admitir aqui na minha mente...!
- Então eu vou embora. - ele já esticava novamente as pernas compridas demais.
- NÃO! Fica mais um pouco... Eu tenho medo dos escuros de quando você vai embora! Eu... gosto tanto de você...
Mas ele já tinha ido. A barraca agora era cor de terra, e a água entrava pelas paredes de seda fina. Os vizinhos agora bebiam e gritavam e davam risadas estridentes. Nada mais flutuava, nem voava, nem nada. Era só uma barraca encharcada com uma menina solitária lá dentro.
O som de Bob Marley diminuía, quase acabando... "This must be love."

...

Você acaba de começar a me irritar
com sua insistência em achar que sabe tudo,
com suas certezas,
com suas filosofias.

Você está me irritando com esse seu olhar,
e quando você me diz
"como você é dissimulada!"
Você nem me conhece!
Você (só) acha que sabe quem eu sou.

E eu, que gostava tanto de você
que tinha medo de te decepcionar
percebi, de repente,
que foi você quem me decepcionou!
Fingindo saber quem eu sou,
você me decepcionou.

Despretencione-se, rapaz!
Você não é o rei do meu mundo.
Você não soube me conquistar!
Você nem sabe o que se esconde em mim...

E achou que era sua!
Achou que por você eu me ajoelhava.
Só sua...
E eu entendi que você não é nada.
Ninguém.
Você, rapaz, me decepcionou.

Essa é pra você;

Não sou perfeita,
meu corpo não é como eu queria que fosse.
Meus olhos são muito juntos,
e meu nariz é grande demais.

Aliás, sou é cheia de defeitos:
insegura, anciosa, instável, desastrosa, escandalosa, tímida.

Só queria que você enchergasse em mim
tudo de bom que eu não consigo ver.
Queria que você me abraçasse e me disse
que sou linda.
Desejo que você faça o que só você sabe fazer,
me sentir mais mulher
me fazer mais amada.

Se só você encontrasse em mim
o meu sorriso não é tão ruim assim
o meu olhar tem sentimento só por você
o meu pensamento é só em você.

Se você só não ignorasse
que te abraçar é meu maior desejo agora
E te olhar nos olhos
E saber que riremos juntos quando nosso
olhar se encontrar...
Já é mais alegre que qualquer coisa.

Só se você soubesse
que pra mim você é Sol quando faz sol,
E é chuva quando chove.
Pra mim você é vento quando venta.
Pra mim você é mar na maresia.

Se você me visse como sou por dentro
e se ao me ver por dentro
Percebesse que pra você também sou mar,
também sou chuva, vento, sol.
E o que mais for.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Sobre as fotos;

Andei olhando as fotos. Todas as minhas fotos.
Incrível como elas conseguem imortalizar apenas um segundo de nossas vidas,
e ao mesmo tempo guardam tantas lembranças!
Olhei aquela em que eu abraçava aquela minha amiga, e chorava tanto!
E me lembrei das sensações daquele momento...
Do choro, do abraço, dos contextos,
da cortina amarela que se fechava.
Ou aquela em que eu estava pulando numa piscina.
Digo, não pulando, mas tinha um pé no chão e o outro já estava voando...
Como congelar um segundo tão único?
No próximo, eu estaria pulando, e depois, estaria molhada dentro da piscina...
Provavelmente gritando sobre como a água estava gelada.
As fotos são coisas curiosas...

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Not again : /

Justo quando o que ela sentia por ele
Se dissipava, se desfazia,
Ela se percebeu sorrindo enquanto conversava com ele.
Sorrindo como quando conversava com ele, antigamente!!
Mas agora o susto:
o ele não era mais o mesmo!

Tudo era igual:
Conversavam por horas,
sobre todo tipo de aleatóriedade.
E ela, sorrindo de lado.,
pra que ninguém percebesse a satisfação.

Pronto,
tudo de novo.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Enfim, livre.

Bebeu daquela água doce
que é a alegria da solidão.
Sentou-se à beira da pedra branca
esculpida no topo da montanha mais alta
Deixou o vento bater-lhe no rosto.
Os cabelos voavam, esvoaçavam, e da ponta de cada fio
caía uma lágrima de orvalho.
E em cada lágrima de orvalho,
escorria um pensamento nele.

Quando se levantou da pedra branca,
Esculpida no quintal do Imaginário,
Sentia-se mais leve,
E a pedra que era branca
Agora tingia-se de escarlate
das lágrimas dos pensamentos nele.

Pois ela chutou a pedrinha escarlate,
que rolou ribanceira abaixo.
Ora! Era só um morrinho!

E voou feito pomba,
pardal, macieira,
rumo a um único destino:
liberdade!

domingo, 6 de janeiro de 2008

Eu sou do tamanho que sou,
nem maior, nem menor.
Eu sou do tamanho que você me vê,
nem maior, nem menor.

Portanto, não me diminua.
Pois isso eu não suporto.
O que eu penso, digo e faço
é sim válido.
E eu sou pra ser levada a sério,
não sou piada ambulante,
não sou palhaço
e não estou aqui só pra você dar risada.

Mas por outro lado
(pelo amor de deus!)
não me aumente,
não me vista de ouro e não me ponha num pedestal.
Pois não sou deus, não sou rainha.
Não me encha de expectativas,
eu vou te decepcionar.
Não quero te decepcionar.
Não vou fingir que sou quem não sou,
e saiba que se me endeusar,
podes desistir de mim,
não vamos funcionar.
E saiba!,
Não mereço pedestal.
Não mereço auréola.
Não mereço templo, nem santuário, nem igrejinha, nem capela.

Entenda que sou isso que você vê.
Nem mais, nem menos.