segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Você é lindo visto assim de perto, na doce hora da noite em que todas as imperfeições são a própria perfeição, e eu tenho vontade de gravar o seu rosto na mão, para dele não esquecer jamais (apesar de...). Passeio meu dedo leve pelos lindos traços teus e você me assiste se perguntando que bicho sou eu, meio cigana e meio dona de casa (da minha casa ou do teu destino) mas você sorri sem medo e me oferece os lábios: que eu beijo primeiro com os dedos, depois com os olhos e por último também com os meus lábios prestes a morrer dessa ânsia de estar viva e te ter como a Grande Resposta, e finalmente poder apagar as respostas erradas que se fincaram tão fundo no meu quintal...
Eu te queria - até anteontem.
Eu te queria com a minha vida - até anteontem.
Eu te queria na força indubitável dos mares - até anteontem.
Eu te queria sem ver qualquer outra saída - até anteontem.

Por você eu poderia nadar o mundo a braço - mas só até anteontem.
Por você eu estava disposta ao que você dissesse - mas só até anteontem.
Por você eu refaria as maravilhas hercúleas - mas só até anteontem.
Por você eu esperaria os anos que precisasse - mas só até anteontem.

Porque ontem veio; como uma enxurrada encharcada de futuro, ontem veio. E tentando sobreviver à enchente eu descobri: a imensidão da água faz música. Quis poder dançar aquela nova música; mas não só ontem. De ontem em diante, por favor! Quando acordei hoje, tomada pelo enlevo de não querer rimar "amor" com "dor", também já não queria mais te querer.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Querido,

tenho andado com os pés no cascalho do mundo, num piso grosso e quente feito asfalto cosmopolita em tarde de novembro. Os meus pés descalços já não sentem. De vez em quando percebo que se formou uma outra bolha que eu candidamente explodo com uma agulha. Nada arde. Nada pinica. Nada incomoda. Só você ainda me cutuca o corpo como quem grita: Esteja viva!
Ainda tenho muito a te dizer:
coisas doces
coisas agridoces
coisas azedas
coisas podres.

Dentre todas as coisas, só sobra a primeira
Que eu ainda, amor.