segunda-feira, 4 de agosto de 2014

e quando você me olhou de frente teve medo: e recuou apavorado com palavras doces e vazias. Você teve medo porque viu meus seres. Me viu loba ferina de garras de dente de corpo com fome do seu corpo de te devorar de ser devorada com sede da sua língua vibrando de desejo de urgências da pele na pele desse instinto de unha na carne que você ria e fingia que não entendeu quando meu corpo lobo te deixava claro - deixava claro.  E você viu: eu, corsa acuada debaixo da cama pedindo para você me deixar entrar, pra você me dizer elogios sinceros (porque eu na verdade ainda não sei como eles soam), pra você suprir minhas ausências e dormir comigo na noite da lua sangrenta (que é sempre noite de tragédia e me assombra...). Você enxergou minhas cicatrizes e aposto que se perguntou se foram causadas pelas minhas unhas ou de outrem. E quis fugir enquanto eu loba te despia eu corsa te implorava porque tudo em mim depositou em você uma esperança. Que eu te deixei ver, a despeito do meu usual casaco fechado, desdenhando do que seria razoável, porque quando me dei conta te amava de um jeito doce e ingênuo e queria: queria que você visse meus segredos no fundo da noite e achava infantil que aquela lua pendurada pintada de vermelho nos estava abençoando, nos regendo como a uma sinfonia que termina bem; quando na verdade ela se ria de escárnio. E a resposta foi não.

Foi assim:

nós dois
atravessando a noite
a espalhar nossas memórias
em cima da cama