domingo, 30 de novembro de 2008

Adeus

- Amanhã eu vou embora.
- Não vamos conversar sobre isso.
- Como assim?
- Eu não quero falar sobre isso agora.
- Mas se não for agora, quando?
- Nós não vamos continuar nos vendo?
- Não sei como vai ser depois.
- Como assim?
- Eu não quero voltar aqui nunca mais.
- Nem pra me ver?
- Me desculpe...
- Mas...
- É por isso que eu preciso me despedir.
- Eu não quero ter que me despedir de você. Eu quero continuar te vendo... nem que seja só de vez em quando.
- Nós vamos voltar a nos encontrar, de vez em quando.
- Então por que você quer dizer adeus agora?
- Porque talvez a gente precise disso.
- Eu não preciso. Eu não quero te dizer tudo que eu tenho pra falar. Não agora.
- Mas é agora que você tem pra falar. E talvez nunca mais.
- Mas você acabou de dizer que a gente vai voltar a se ver...
- Algum dia...
- Eu sei. Eu sei que é só algum dia e não todos os dias!
- Exatamente. Se a gente não conversar agora, talvez você jamais possa dizer tudo o que diz ter pra falar.
- Eu guardei todas essas coisas pra te dizer só no dia do adeus.
- Você ainda não entendeu que hoje é o dia do adeus?
- Claro que entendi. O que você não entendeu é que eu não quero dizer adeus.
- Eu sei... me desculpe...
- Eu não quero te dizer adeus porque não quero ver você indo embora, porque sei que ao ir, você nãp vai dar nem uma olhada pra trás pra ver que estarei chorando por sua causa. Não quero te dizer adeus porque eu tenho medo de como vai ser meu dia-a-dia sem você me apoiando, você que tem sido o meu porto seguro o tempo todo. Não quero te dizer adeus porque não poderia deixar você ir embora sem admitir que apesar de ser só meu amigo, você representa muito mais que isso, você representa o primeiro amor - seja lá o que isso queira dizer -, a primeira vez que eu senti em alguém um sentido para mim. Foi o primeiro, até hoje o único, provavelmente o mais inesquecível. Eu não quero dizer adeus porque venho pensando há tempos sobre as coisas que eu tenho pra falar e sei que, ao dizer adeus, não vou conseguir falar tudo e depois vou ficar me sentindo mal por isso. Eu não quero te dizer o adeus porque não quero te admitir o amor.
- ... nem sei o que falar...
- Você não tem que dizer nada sobre o que eu disse, porque eu não disse nada. Mas agora vá, vá embora amanhã e não me procure para se despedir. Eu não vou dizer adeus a você.
Eu queria apenas lembrar que espontaneamente não quero aceitar o mundo desse jeito, com pessoas que eu amo tanto, com tanto carinho que eu tenho guardado para usar, de repente, com certo medo de tudo o que eu não sei o que é, de tudo que eu não sei como funciona, tenho que admitir que ver o fim chegando é pior do que ele mesmo. É como uma saudade de um tempo que ainda não passou. É como se uma nova vida, diferente da que é a minha de verdade, derramasse devagar seu féu através dos olhos que não se fecham, apenas olham para o outro lado. Não há nenhum pensamento otimista aqui. Há apenas o medo de um dia escuro que chega ao fim sem que a chuva passe. Sem nem ao menos que a chuva chegue.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Pra lá deste quintal era uma noite que não tem mais fim;

"Não, não fuja não!
Finja que agora eu era o seu brinquedo, eu era o seu peão,
o seu bicho preferido!"

Hoje eu olhei pro céu e me esqueci que eu já nem tenho mais seis anos de idade, e me esqueci que parecia que ia chover porque as nuvens estavam tão cinzas e tão grandes e tão densas... Mas olhei pra cima e vi que a nuvem parecia um dragão, um dragãozão de conto de fada!
Fiquei imaginando esse dragãozão sobrevoando a cabeça de tantas pessoas inadvertidas do perigo que as seguia, mas não pelo perigo real que um dragão carrega consigo (de uma possível destruição em massa após uma baforada de fogo), mas o perigo mais sério que se pode haver entre adultos: a completa ignorância.
Aprendi em algum momento que a tristeza é a única leveza em um adulto, algo que é considerado seguro e quentinho, a única coisa não-palpável em que adultos acreditam e parecem almejar é essa coisa de ser triste, sempre igual, sempre previsível. A segurança da previsibilidade.
Eu, enquanto criança, desejava apenas ser adulta. A grande, responsável, cheia de glórias e nem eu mesma sei o que eu esperava que viesse junto com a "adultidão". Hoje olho pro mundo adulto - um mundo do qual eu nem pertenço direito - e sinto muito medo, medo de me tornar uma pessoa com essa cabeça fechada e desinteressada que os adultos têm.
Então resolvi que quero crescer brincando de ver dragões em nuvens, brincando de encontrar segredos dentro do liqüidificador, brincando de ir vivendo em paz.

:)

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Tenho a vida leve pra você levar. Pois leve contigo qualquer resquício de que você já esteve comigo, e saiba que vagar em vão não vai resolver. Você vai procurar motivos para não assumir que viu em mim algo que queria para você, seja lá o que for. Você vai embora, e deixar em mim apenas lembranças, vagas noturnas de um filme que não teve final feliz. Na verdade, nem fim eu vi nesse filme, não vi nem vivi. Mas quero que vá, vá em paz comigo e contigo, que eu fico aqui. Fico assistindo os próximos personagens bem-vindos no meu vídeo, que você encontre os seus. Que você viva leve a sua vida, e entenda que viver jamais será em vão, sem véu, meu céu.

O espelho

Resolvi aderir à causa anti-espelho. Os evito todos, todos que cruzam meu caminho: viro o rosto, viro o corpo, para jamais olhar naqueles olhares de vidro, aquele sorriso de vidro, tal corpo de vidro.
Meu problema é que espelhos me distorcem. Não a imagem, mas meu caráter. Vejo no espelho polido apenas uma imagem que não me agrada junto de um caráter distorcido, torto, uma coisa que não é minha. Não sou eu lá. Lá é apenas algo que não me pertence refletido, sem matéria, apenas imaginação.
Hoje talvez você me veja com olheiras profundas, ou a maquiagem borrada, e quem sabe depois do almoço com um pedaço de alface entre os dentes, mas lembre-se que eu não conheço aquela pessoa me imitando do outro lado de um pedaço de vidro. Eu nem gosto dela, porque ela tem olhos de vidro, um sorriso de vdro, tal corpo de vidro.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

... mas eu não sô daqui não! Eu sô é de algum outro lugar, uma terrinha minha em que eu posso plantar todos os meus sonhos e regar, e ver se crescem, se vingam. Não sou desse lugar de gente ruim, gente sozinha não. Na minha terra todo mundo é bem vindo, até quem eu nem conheço. Lá todo mundo tem o dever de ser feliz, correr atrás do sorriso, correr atrás de viver feito criança de novo. Eu num sô daqui, não quero ser daqui, e vô é procurar meu canto, meu cantinho com cheiro de terra de novo.

sábado, 8 de novembro de 2008

Corpo Humano:

Eu quis te encontrar
Perdido, desencontrado
entre as curvas complexas das minhas veias.
Rapaz, todas essas veias ou vão ou voltam do mesmo lugar
E é pra lá que você tem que ir
Não tem perigo, moço, é só seguir o fluxo.
É o que eu quis dizer.
Mas quando fui ver
você já tinha encontrado seu alvo nas minhas veias complexas
E eu não sabia onde eu estava
pois as suas veias não formam curvas:
são um labirinto.