segunda-feira, 27 de junho de 2011

O corpo que dança

Um corpo: músculo, ossos, articulações.
Movimento. Alma.
O corpo é um ritmo todo. Uma música toda: veias. Co-ra-ção-ção-ção...
O ranger, o esfregar, o baque surdo.
Um corpo que dança levita, se entrega.
Não somos pouca coisa. Temos uma coluna de ar voando, voando.
Posso esticar, comprimir, torcer.
Um corpo que dança é elástico.
É peso. É pele.
Dois corpos: são.
Os nossos corpos quase-tocam.
Os corpos que dançam são uma coisa só.
Dois membros de um grande corpo.
Estica-me. Repuxo-te. Envolvo-te. Laceia-me.
Fluxo. Abro o corpo pra você passar.
Você me segura. Somos um.
Dois corpos que dançam são.
São.

domingo, 26 de junho de 2011

Insânia

Existe uma foto sua pendurada na minha parede. Sorríamos muito. Existe cumplicidade? Será que é verdade que podemos dividir nossa alma com alguém? Será que isso existe ou é só manipulação? Será que existem relacionamentos verdadeiros? Será que é possível sentir algo muito grande por alguém e ver sentido nesse sentimento por muito tempo, sem jamais se indagar sobre sua autenticidade? Será que isso que nós construímos é amor?? Tenho duvidado muito. Tenho duvidado com todas as minhas forças. Será que essa coisa gigante que sinto por você é amor? Em pleno século XXI, estou a tempo de me perguntar: e se isso for algum tipo de loucura, delírio etc? E se eu tiver criado tudo dentro da minha cabeça? E se eu estiver louca?! Mas nós sorríamos juntos na foto pendurada na parede. Me lembro bem desse dia, fui só para te encontrar. Será que em algum momento você viria só para me encontrar? Isso é piração minha. Eu sei que eu sou a doida da história. Por isso não te encontrar mais. Nunca mais. Porque esse amor me mata. Na minha cabeça. Sorríamos muito e era feliz estarmos juntos. Era muito feliz. Hoje você é indiferença. Indiferença, me repito. Indiferença! Minha vida vai ter que tomar outros rumos. Sem você.  Sim, devolva o Neruda que você me tomou e nunca leu. Preciso ver com clareza. Será que o amor é um bicho arisco que nos ataca nas nossas fragilidades e aos poucos nos vai mutilando, decepando, amputando? Será que o amor tem bicado meu fígado todos os dias, esperando ele se recompor?

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Um Manifesto: Pessoalidade, sem poesia.

Você disse que eu mudei por isso? É essa a minha tão enorme mudança?? Eu vou te falar por que é que eu mudei: agora lavo minhas roupas; me sinto sozinha e choro no escuro do quarto; ninguém me espera à noite para perguntar dos meus dias; eu vejo em você a vida que eu tinha e ela não faz mais sentido, entende? Minha vida não faz mais sentido! Todos os anos que eu fui. Fui? Fui o quê?! Morreu. Agora se não há comida passo fome e meu dinheiro não é infinito; fui furtada dentro de casa e minha mãe nem ficou sabendo, não havia quem me prometesse que vai ficar tudo bem; sinto vontades de chorar e ninguém nem sabe; perdi um amor verdadeiro porque, com todas as palavras, sou fraca. Perdi uma grande amizade por opção, mas me arrependo todos os dias, me machuco toda vez e não há como voltar atrás. Moro a 120km de onde eu moro. Não sei a que lugar pertenço. Ir aos lugares de passado me dá a maior tristeza que já experimentei. Ainda não sei o que significa voltar. Eu morro de medo, mas não posso simplesmente me trancafiar. Estou sozinha e aprendendo a ser. - e vejo tudo incrível! - Sem me martirizar, acho que uma bobagem dessas não significa nada.

Imperativo

Sou eu quem tem que ir embora. Não há imperativos. Eu saio. Eu saio. Aprontarei essas malas, não quero te encontrar. Dói demais pra mim. Me digo 'otária, estúpida' e o mundo ri. O mundo ri, dizendo 'criança. fraca' e fraca sou. Preciso ir embora. Dói demais. Eu vou lá entender os motivos. Acho que isso é amor, mas que droga de amor é esse?? Não quero te ver nunca mais. Me machuca. Sou eu quem tem que partir. Eu vou. Eu vou. Tenho sentido tanto medo de perder. Vou perder tudo. Mas você me dói. Terei de ir. Sem imperativos, você pode ficar. Eu parto. Minha alma se parte em mil. O teu pedaço ficou inteiro. Não há outro jeito. Terei de abandonar. Tudo. Terei de dizer adeus. E esperar essa tristeza que é te ver ir embora. Não vejo outra saída. Não há

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Mutante

- ... e aí ele me disse: "Nossa, como você tá mudada!"
- e isso não é bom??
- não! claro que não... os que me amavam amavam a pessoa que eu fui, e não quem eu sou. Me entende? eles não amam quem eu sou.
- e daí??
- daí que eu tenho sentido tanto medo de perder, tanto, tanto...
- mas garota, você está crescendo
- e crescer é perder? as coisas que eu construí? as pessoas que eu abracei forte, tão forte que era pra ser um coração só?
- crescer talvez seja perder.
- é tão difícil... eu tinha algo a que me segurar. e aos poucos não há mais. tenho me sentido tão sozinha. às vezes no banho eu deixo a água escorrendo, sabe a água escorrendo quente por todos os poros? eu queria poder esfregar, esfregar tudo, passar sabonete em tudo o que eu vivi, e o que eu vivi não foi pouca coisa,  eu queria poder usar uma bucha com força na minha alma e merecer novamente um amor que já tive. tenho me sentido tão perdida, sabe? perdida no mundo.
- mas você merece ser amada! talvez esteja se tornando uma mulher e isso é merecer amor.
- já viveu isso? se olhar no espelho e, com alguma repulsa, afirmar 'mas isso aí não sou eu!' e então terrivelmente se perguntar 'mas o que é que eu sou?' e não há resposta... já viveu??
- talvez todos vivam um dia.
- esse bicho triste, sem cor, eu não sou esse bicho medroso que faz escarcéu da própria dor. eu sou uma mulher que sofre em silêncio, e sempre fui. sempre, sempre. eu não quero ser esse bicho rancoroso que tenho sido. eu não tenho nada pra me segurar de pé.
- mulheres aprendem a se apoiar nas próprias patas como um bicho que quase voa!
- eu não quase vôo... só quase caio. quando o sol queima a pele de modo desigual, sabe como é? é assim que me sinto, só que na alma.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Me ajuda a ver com clareza. Tenho pedido insistentemente. Me falta sanidade às vezes, me falta abrir os olhos para aceitar o que nos ocorre. Preciso de ajuda para olhar. Não há luz dentro desse espaço; não há caminhos outros e nem 'o' caminho. Preciso da tua mão me segurando de pé, estou com medo. Me ajuda a enxergar. Pelo amor de Deus, lhe imploro. Me ajuda. Me salva dessas faltas. Desespero? Preciso encontrar alguma resposta. A batalha é árdua. Me ajuda. Me empresta o teu ombro pra que eu possa me dissolver. Eu preciso tanto, tanto... Tem me faltado luz luz luz. Tem me faltado muito. Tenho sentido muito medo. Tenho sentido tantas crises.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Fiquei

Fiquei pensando e repensando a ausência tua. Fiquei pensando e repensando como certas coisas não suprem a falta amputada de outras. Fiquei pensando coisas das quais tenho medo de falar. Enquanto caminhava fiquei pensando que gostaria de ser livre, livre. O bicho mais livre do universo... Mas então concluí que estar muito livre é estar muito só. E de solidão já me bastam essas tardes em que caminho sob o sol divagando, divagando...

Insônia I

(Um homem, uma mulher e uma vela)

MULHER - O que a gente faz?
HOMEM - Quando?
MULHER - Quando essa vela apagar? O que a gente faz?
HOMEM - A gente se entrega: primeiro um ao outro; depois, juntos, à escuridão. E então poderemos fechar os olhos e dormir.
MULHER - Mas eu tenho medo do escuro...
HOMEM - Mesmo se eu te segurar tão perto que você vai estar quase dentro de mim? Mesmo enquanto eu ficar te contando as minhas historinhas bobas bem baixinho, até você pegar no sono?
MULHER - O problema é que eu nunca pego no sono.

(Apagam a vela)

quinta-feira, 9 de junho de 2011

As Cartas

(deve ser lido em tom de sussurro)

As cartas que eu ainda não escrevi estão todas descritas no meu corpo. As minhas cartas se escrevem conforme  passeio pelas ruas, conforme eu silenciosamente percorro comprimentos, cumpro ordens, compro papel e tinta; as minhas cartas estão escritas na minha pele: cada curva é uma vírgula que ainda não virou pausa. Cada movimento é uma palavra: dissuado; persuado; me esquivo, rodeio, estico, rodopio. Minhas cartas são escritas conforme te observo os olhos, conforme sinto medo, confiança, saudade... As cartas de adeus se escrevem quando teus olhos não mais, e então são todas feitas de água, a água do corpo do meu corpo sem o corpo teu.

domingo, 5 de junho de 2011

A rosa no copo verde:
não se dissolveu durante o fim de semana, mas ainda não abriu as pétalas...
(queria tanto ver a segunda cor escondida lá dentro!).
Acho que esqueci de deixar a janela aberta... Quem sobrevive sem ar?
Ando como um gato que perdeu o rabo: sem coragem.





Sem equilíbrio.