quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Cotidiano

Ao menos se todo esse cimento sorrisse de vez em quando!
Mas não, ele mantém-se em silêncio
não importa o que lhe ocorra
Como se fosse indiferente às passadas
desses transeuntes que o pisam para dentro do passado.
Como se os transeuntes fossem indiferentes a si mesmos
e, ensimesmados, esquecessem que suas histórias sempre pertencem a mais alguém
Como se as histórias fossem indiferentes aos donos:
elas só pensam em pagar as contas no fim do mês!
Como se o mês fosse indiferente ao próprio tempo
que não sabe até quando poderá passar sozinho
Como se o homem sozinho não soubesse ser indiferente
ao próprio silêncio, à própria dor
ao fato de ser mais um transeunte desgastando o cimento que,
assim como ele,
apenas aguenta o peso.

Paradigma

Se todos dizem que rodar o mundo significa viver aventuras, como eu poderia assumir que, dentro de um olhar, eu descubro mais que do alto as pirâmides do Egito? Se a população em massa grita por dinheiro, como eu vou dizer que só quero liberdade? Se o mundo corre atrás de relacionamentos considerados 'normais', com que coragem eu vou admitir que prefiro correr alguns riscos? Se todos querem o que todos consideram certo, como eu diria que nem tudo que consideram certo é certo pra mim?

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Áurea

- ... tudo devido aos compostos nitrogenados.
- Eu não acredito nisso, Áurea!
- E você está apaixonada, Julinha?
- Estou.
- Me diga, o que você sente quando vê a criatura, hein?
- Ah, professora, que coisa mais constrangedora...
- Palpitações?
- Sim...
- Suores na mão?
- É... sim...
- O nózinho no estômago?
- Uhum...
- Então! Quando você vê o ser amado, o seu cérebro emite alguns compostos orgânicos nitrogenados que geram todas essas coisas. Comprovado cientificamente. O que ainda não descobriram é o que faz com que esse rapaz te desencadeie todas essas reações, e não qualquer outro por aí.

sábado, 19 de setembro de 2009

(...) mas se em qualquer momento eu tentasse me decompor em palavras, com certeza falharia. Sou tão pouco que às vezes não caibo em mim.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Querido,

por favor, me desculpe. Por favor, eu não quis te magoar. Eu gosto tanto de você que não consigo sequer lidar com a sua chateação. É a você que eu quero, mais do que qualquer pessoa no mundo. Por você, eu abriria mão de qualqer motivação, abriria mão de tudo, porque te amo. Mas essa noite você se manteve tão longe de mim... você virou para o outro lado e eu achei que tinha encontrado alguém mais interessante que eu... meu amor, senti tanto medo! Fui fraca, me senti tão impotente, passei o tempo pensando que queria que fosse você ao meu lado, só você... Por que agi como foi? Insegurança... Me perdoe, por favor não desista de mim, por favor não conclua que eu não valho a pena, por favor...

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Nada como a evolução tecnológica!

Agora, se um membro do meu corpo
for destruído, despedaçado
até não restar mais nada
já inventaram diversos meios
de fingir que estou inteira:
nem percebem que me locomovo
com pernas mecânicas
ou que abraço
com braços mecânicos
ou que esses meus olhos
- que até brilham! -
são feitos de vidro
E não será surpresa
se, por acaso, descobrirem
que hoje eu vivo só com
esse meu coração de lata...

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Inércia

Não posso ver nada dentro desses olhos. Cada um de nós tem suas próprias motivações, mas às vezes não compreendo o que estamos todos fazendo aqui. Estou sentada nessa cadeira porque eu vivo dessa paixão, é por ser apaixonada pelo encontro que me mantenho aqui, vendo todos esses corpos empurrarem o ar como quem chuta pedras, sem perceber quão precioso é isso que têm em suas mãos... seguindo em apenas porque o tempo assim impõe, porque não há outro lugar para estar... Me digam, por quê vieram? Não lhes peço que amem como eu amo, mas imploro que lutem o mínimo para que funcione! Para que o fim não seja triste como eu o estou vendo, para que essa ribalta se orgulhe de nos ver lá em cima, para que possamos acreditar que nós merecemos os aplausos no fim do espetáculo...

O cheiro da iminência

O que mais me encanta na vida não é o fato; não é o ato, mas o presságio, a vibração do ato. Me encanta o cheiro da chuva antes da chuva cair, aquele sabor doce no céu da boca, a brisa leve que me acaricia os cabelos, sussurrando ao meu ouvido a promessa dessa renovação iminente. Me encanta o último segundo antes do beijo, o olhar trêmulo que precede a entrega, o toque leve das mãos, o abraço. Me arrepia o último instante antes do adeus, o percurso da lágrima antes de cair pelas bochechas, um último suspiro precedendo a morte - ou o nascimento -, e sou inteira feita de iminências: talvez apenas por achá-las belas ou, quem sabe, por ser covarde e jamais poder terminar a ação.

domingo, 6 de setembro de 2009

Quem sou eu:

Cinco sentidos, órgãos sensoriais, ossos, carne, corpo. Rosto, pintas, cabelos, unhas. Pernas, pés, abraço. Mãos, enlaço. Boca, beijo, sorriso, abrigo. Música, vida, letras. Palavras. Sentimentos, sensações, emoções. Pensamentos, perguntas (nenhuma resposta!), permeio. Um pedaço de céu, outro tanto de raiz. Raízes emocionais. Sinais vitais, reflexos biológicos, respostas de olhar. Segredos abertos, amor - de mãe, de amiga, de família, de mulher. De cima do palco, encenação; de cima do muro, entrega. Muita alegria e muito silêncio. Às vezes, alguma dor ( e com a dor, amnésia)