terça-feira, 30 de junho de 2009

Penhasco

E se fosse necessário apenas um empurrãozinho para, então, se jogar do penhasco?
E se esse tal de penhasco nem fosse tão grande assim? Talvez apenas cinco centímetros, o espaço entre nós dois... Um segundo seria o suficiente.
Talvez nem fosse necessário o empurrãozinho, apenas um suspiro.
Talvez se conseguíssemos ser mais explícitos?
Por que sentir tanto medo? Todo mundo já entendeu...
Infelizmente, da mais vasta lista de medos que me ultrapassam, dar o último passo é o maior.
Eu te amo.
Fato consumado, consentido, aceito.

Te amo, te amo, te amo, te amo.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Estar em paz é pouco!
A paz, eu sei, é límpida.
Vê-se através.
Eu sei, a paz leva o vento,
leva a bomba para longe de quem não tem culpa.
Eu sei, a paz é imprescindível.
Mas só em escala mundial:
dentro de mim, eu desejo o turbilhão
eu desejo estar confusa
eu desejo me descabelar
sentir medo
sentir alguma dor
Em paz, eu me acomodo
ninguém muda se está em paz consigo mesmo
e quem não precisa de mudança?
Eu preciso.
Preciso de amor
e eu nunca vi amor em paz!

Xenofobia

Eu não quero mais ser turista
dentro dos teus olhos
quero que o meu visto assista
os carimbos de moradora
trabalhadora
contribuinte
amante, amada
quero ter o passaporte guardado na mala
por jamais ter que mostrá-lo a ninguém:
nativos não mostram passaporte.
Quero uma licença de naturalização
quero que meus traços combinem com os de quem já é daí
quero que você me ame, me tenha como tua
quero que você me queira
quero viver em ti.

Desabafo

Tinha criado expectativas para o dia em que te encontrasse... Afinal, estaria revendo um grande amigo, e mais que isso, um amor que eu senti - e não foi de mentira! -, os olhos que em tantas poesias cantei, as mãos que abraçava como a um anjo, uma boca que de fato beijei, ver a ti seria reencontrar um passado que insistia em guardar sempre perto de mim.
Então, te ver, apenas mais um abraço e "vou dar uma voltinha", meu amigo já estava longe. E não é curioso perceber que eu nem o queria mais por perto?
Agora, meu querido, agora você faz parte do meu passado, e é melhor que não saia de lá, pois assim manterá sua posição imponente nas minhas lembranças: assim, - agora que a paixão por ti acabou -eu não o acharei ridículo, nem a mim, por ter te amado tanto e por tanto tempo. Agora, você tem gosto de caixa de música escondida no fundo do armário: uma música que nem é tão alegre, e eu nem faço tanta questão de ouvir.

domingo, 28 de junho de 2009

Eu vejo navios
em que velejo,
sozinha, num mar
que grita
que sacode e derruba muros
um mar dolorido
endossado por alguma estrela
que, ao cair, se cospe para dentro do meu barco
mas repouso serena
Em paz?
Não, em paz estaria apenas
se fosse ao teu lado.

sábado, 27 de junho de 2009

E eu, que agora não sei encontrar abrigo em outro lugar que não nos seus olhos? Então, estar longe de ti é apenas estar perdida...
Não sei, só que naquele momento, eu desejava que tivesse sido um beijo.

domingo, 21 de junho de 2009

Da saudade que eu sinto,

acredito que a saudade não é volátil.
A saudade, em algumas tardes, me agarra no meio da rua, e eu não tenho a quem gritar, porque, nesses momentos, eu estou envolta numa aura de dor. Mas não é que eu sinta a dor em mim: sinto-a no outro, o outro em quem penso e lembro. A lembrança no outro, sempre sorrindo, sempre ao meu redor: esse outro me envolvia do mesmo jeito que a minha saudade, agora.
Sentir saudade é um dos fenômenos que mais me encantam. Não aprendemos na escola que o mundo gira? Que os dias passam, as pessoas envelhecem, existem solstícios e equinócios nos lembrando de quão ínfimos nós podemos ser? Pois então, desconsideramos essa efemeridade toda na hora de olhar para trás e saber que existe um pouco de nós presos naquela pessoa. Naquele momento, naquele último olhar... Na última vez que eu pude te abraçar... No teu cheiro que, às vezes, aparece dentro daquela blusa que sempre me lembrará você, e, então, eu estremeço.
A minha saudade de vez em quando vai além de mim, me cobre de silêncio e eu não sei o que fazer com todo esse pedaço que me falta.
Acredito que (mesmo que por um instante apenas)
tenha visto vi nos seus olhos entrabertos
frestinhas de amor,
amor que esperava que fosse sem destinatário - ou talvez ainda destinado a mim -
para que eu pudesse sorver essa energia
como um recarregador de sorrisos
Sorrisos teus.
Querido,
eu sei que vai ser difícil me interpretar, até eu me perco no meio das coisas que falo. Tento, então, me explicar: quando não sei como agir, me escondo atrás das palavras, umas palavras meio bobas que, com certeza, colhi antes da hora. Nestas, apenas falo, mas não o sinto. Não diga que sou mentirosa, eu somente não sei contar as verdades da minha alma. Mas, às vezes, jogo toda alma que há em mim por cima da mesa, entre seus dedos, por meio de alguma brincadeira minha. Então, eu te conto a minha maior verdade e você embrulha no papel e joga no reciclável! Você logo me dirá que não sabe discernir quando eu me escondo de quando eu me jogo. Pois eu te conto um segredo: se, apesar de rindo, meu olhar te perfurar enquanto eu falo, é porque eu o digo a sério.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Venha ao meu lado
vou abrir as janelas
que estão aqui
à minha fronte
Para que nossos olhos
se iluminem
Em Sol, ou noutro
tom
E nossos laços toquem-se
de leve
Os corações?
Bem, que nossos corações
batam de mansinho...

terça-feira, 16 de junho de 2009

Naquele momento em que eu não consegui deixar de te tocar, estava concluindo que gostaria que você também me tocasse.
Na verdade, dentro dos teus olhos eu posso ver milhares de abismos nos quais, admito, pretendo me perder.
Com seus dedos, você semeou em meus cabelos fios de ouro, e, no final, tudo que eu pude fazer foi converter todo esse ouro em amor.
Dentro do abraço, eu poderia sentir o teu coração pulsando, dentro do meu peito.
Naquele beijo que você me deu, nasceu uma flor com o teu cheiro, que agora me possui o tempo todo.
Naquelas mãos se tocando, nascia um passarinho que, agora, insiste em cantar aos meus ouvidos.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Das paixões, o maior desperdício são os suspiros: são de uma poeticidade enorme, e passamos os dias apaixonados jogando-os na rua, para que os transeuntes pisem em cima, sujando tudo com cimento e ceticismo.

Das borboletas

É a metáfora mais batida do mundo poético, eu sei. Mas o que eu vou fazer? Inventar um nova? Que não faça tanto sentido... Que não seja tão real... Não! Vou me utilizar das borboletas para contar, a mim mesma, que talvez eu esteja redescobrindo alguém que mexe comigo...
E eu sei que logo meu olhar estará novamente perdido para fora do quadro, assistindo essas borboletas que, delicadamente, empurram as paredes do meu estômago até que elas toquem o coração, de modo a gerar um arrepio que aperta a alma e solta um suspiro perdido...
Mas que venham as borboletas, minha alma tem estado quieta por tempo demais!

Jujuba

Somos exclusivos: nessa vida existirão para sempre milhares de pessoas que levem consigo o mesmo nome, ou inclusive o mesmo apelido. Não como eu; como nós. Você embrulhou o meu nome para presente e o entregou a mim, no berçário, e a Jujuba veio de lembrancinha. Ela é doce, açucarada, e não me importa o que os céticos dirão, ela é toda minha. Minha e tua, e de mais ninguém.
A lágrima que quase cai, apesar de não ter razão, prende-se forte à pálpebra e não importa o quanto eu pisque, torna-se concreto e você não pense que eu colei cristais nos meus cílios: são lembranças tuas que me acompanham, penduradas, pesadas, no meu olhar.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Éramos nós
sós, sem medos
sabendo, sem querer
que quando sonhamos
sonhamos em vão
gritando: avante!
Mas o movimento não se dá
a mudança desejada não se dá
não sozinhas.
Em desistência?
Jamais!
E outro grito silencia
A dor não dói
A escuridão não apavora
Nós apenas não desaprendemos a acreditar.