quinta-feira, 28 de abril de 2011

Querido,

ontem chorei. Chorei de soluçar, dentro do escuro de um ônibus que metaforicamente me trazia até você - jamais poderei te atingir. Fones de ouvido e eu estava sozinha. Completamente sozinha, não fosse pela tua presença - jamais consigo me livrar de ti. Por acidente, ouvi as nossas músicas e me transportei para quando estive dentro de você: não coube mais em mim.
Querido,

você já teve a impressão de estar assistindo o tempo? Por vezes me pego distorcendo o vento, como se pudesse retornar... Não entendo muita coisa do futuro: o que há de ser? Sinto medo do passado. E se eu ficar presa no vago das lembranças? Querido, muitas vezes me sinto a raposa fugidia que não se permite cativar pelo novo: não quero experimentar do mundo, me sinto apavorada com a ideia de estar me abandonando ao vazio. Mas o campo-santo dos pretéritos também é vazio: o que não é mais simplesmente não o é. Apenas eu posso ser, mas não quero. Eu não quero ser a encarnação de um passado do qual não mais pertenço.
Para toda vez que o amor vier
... nos permitamos!

domingo, 24 de abril de 2011

segunda-feira, 18 de abril de 2011

É lógico que você talvez sinta minha falta: nunca lhe deixei faltar nada. Nos dias frios eu abria mão do agasalho só para não te ver tiritando ao relento. Se houvesse chuva, eu queria ser tanto teu guarda-chuva quanto a companhia para rodopiar sob o aguaceiro... se você estava triste eu passava por cima de mim para te secar as lágrimas. Todo mundo sente a falta dos seus servos fiéis. Você sente a minha falta, como um senhor sente a falta de um servo fiel, mas você não sente saudade, como um amigo sente saudade de seu grande companheiro.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Querido,

você me escreveu bilhetes carinhosos e delineou coraçõezinhos coloridos nas pautas do meu caderno. Você me descreveu uma amizade que beirava a fraternidade, como se eu fosse para ti tão preciosa que você se disporia a abrir mão de si para cuidar de mim. Você desenhou palavras belas, com cores e sons específicos, sempre brilhantes, como quem promete luz quando meus dias fossem tristes. Palavras, palavras, palavras... desenhos, desenhos, desenhos! Você me fez crer que poderia ser meu irmão, meu porto seguro, um cais para's minhas lágrimas... mas era tudo aquarela: na chegada da primeira chuva, a primeira gota d'água já pôde derreter cada palavra enganosa, cada coraçãozinho dissimulado, cada cor falsa. E você também fugiu, acho que com preguiça de assumir a responsabilidade que havia assumido - com tinta solúvel demais.


(Mas para mim não é assim que são irmãos.)

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Querido,

não sou perniciosa nem fugidia. Não mereço esses belos adjetivos designados às mulheres de olhar felino. Tampouco disponho dos olhares felinos. Parece repetitivo, mas eu realmente estou mais pra corsa do que pra gata. Sou simples, de uma simplicidade que você talvez não compreenda. Sou simples, mas com algumas sutilezas: sou silente quando séria e berrante no resto do tempo. Sou expansão para muitos e contração para pouquíssimos. Vou um pouco além do que aparento, e sinto muito mais medo do que você acha. Vou um pouco na contra-mão: enquanto as felinas se enovelam em mistério e vão se mostrando devagar, eu me exponho de prima e, aos poucos, desapareço. E, afinal, também é uma forma de ser.

Da sua saudosa.