segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Querido,

esta ferida ainda sangra.
sangra sempre que é domingo, sempre que é de noite e eu não consigo dormir, sempre que ontem foi sábado e você estava lá.
Querido, essa ferida jorra. O sangue escorre e eu corro a tampar o corte... não há band-aid que aguente.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Aquele beijo que ela me deu em silêncio foi um presente de despedida, um amuleto para eu carregar na minha Grande Viagem - e eu carreguei. Não sei, cara, não sei o que aconteceu! Foi muito rápido, como se ela tivesse se dado conta: é agora ou nunca! E quando eu fui ver estava entre os dedos dela, o meu cabelo na mão da moça, a minha mão instintiva na cintura dela. Um amuleto, como quem diz "vai, mas volta". Um primeiro beijo que nascia já sendo o último. Foi um daqueles momentos, sabe?, de encontro. Eu quase vendi a passagem no Mercado Livre. A Grande Viagem. Tarde demais, saca? Tarde demais, cara. E aquela menina, meio imatura, meio criança, mas ela me dava vontade de cantar! Ela me dava vontade de aprender música, que era pra ela dançar na minha mão. Mas não aconteceu nada disso. Ela me olhou - uma canção agora! - no fundo dos olhos - o que é um acorde? - e me disse - pianissimo - Boa viagem. Eu não vou mudar de endereço.

domingo, 8 de setembro de 2013

Querido,

essa semana eu dancei para você. Eu dancei para você no Theatro Municipal. Iluminado; só para você.
Quando começou, eu não soube como ia ser: uma coreografia improvisada... fiquei torcendo para você gostar dessas coisas. E de me ver nesse lugar, preste a me jogar no abismo. Você gosta?
Tudo o que eu queria era te mostrar o ar se movendo pintado com as cores do meu corpo. Te mostrar que a história podia ser outra... muitas outras! Compassos, piruetas, fluxo, e você sentado na primeira fileira do Theatro Municipal. Eu tenho tantas coisas pra te falar. Meu corpo não deu conta de todas elas. Eu dancei e chorei para você ver. Você viu? Você viu a minha raiva e a minha culpa? Viu quando eu supliquei por perdão? Já não sabia se estava dançando ou orando... e precisei dançar aquele último dia: foi a hora que você devia ter vindo, subido ao palco para me dar o último beijo e me mandar ir como quem suplica: fique.
Mas não veio.
Quando a música acabou e eu abri os olhos afogados das saudades, não tinha você na plateia; e nem tinha plateia; e nem tinha Theatro Municipal; nem nada. Só um corpo deitado no chão, repleto de silêncio.