sexta-feira, 24 de abril de 2009

Ora, mas qual não tem a magia de uma primeira experiência? Nós aqui, nesse leito que não é de morte, tampouco um berço de talvez uma nova vida, mas apenas o sempre mágico palco amarelo a nos vigiar, em silêncio. Já estivemos aqui em cima, já vivemos vidas inteiras sobre essa madeira cansada de gemer as nossas passadas, já nos abraçamos e choramos um pouco, dançamos as músicas que ninguém jamais ousou cantar, até que em poucos segundos essas cortinas que nós já conhecemos tão bem se fecharam, e ninguém pôde agüentar a ansiedade de, por um instante apenas, espiar por debaixo desse pano vivo, para olhar a platéia que não quer ir embora.
Que eu tenho eu lírico, sei que tenho. Mas não sei onde ele se esconde, nos dias assim como hoje, em que o sol não saiu, mas também não choveu. Você não passou por mim e eu mal passei. O bife na geladeira não fritou, porque ninguém sequer se dispôs a comê-lo. O sorriso quase sorriu ao mesmo tempo em que uma lágrima quase caiu, mas sem querer estacaram-se ambos, e um rosto ficou mudo. Em dias como hoje, em que eu poderia cantar tantas coisas, apenas espero, espero até que alguém se defina um pouco mais para eu então voltar a cantarolar.

sábado, 18 de abril de 2009

Sobre o poeta

O poeta é aquele que consegue,
num toque entre o papel e a caneta
eternizar numa poesia todos os resquícios do mundo
que ainda vivem, apesar de tudo.

Eu não sou poeta,
não faço poesia.
Sou menor, faço só poesinha.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

O mais curioso é que o próprio conselho que eu dava ao mundo, sem nem saber se eu de fato acreditava no que estava falando, funcionou e de repente eu percebi que foi só dar um tempinho ao meu tempo que passa, passa assim, acabou.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Querida Rita,

quando você disse que, enfim, esse seria o fim, eu concluí que muito provavelmente o meu fim também estaria chegando. Afinal, como eu seguiria escrevendo cartas se quem me ensinou a escrever cartas não manda mais nenhuma? E como eu poderia sequer pensar em falar sobre passarinhos se os seus passarinhos agora são calados, e a música, e os arrepios, e talvez a minha timidez, ou a sua, tudo assim, perdido dentro de um site abandonado? Eu sei que você nem sabe da minha existência, mas eu odeio a idéia de não ter uma heroína a quem recorrer quando eu não tivesse sobre o que escrever, ou sobre o que pensar, ou sobre o que dialogar comigo. E você, Rita, pra mim você é uma das maiores, uma das melhores, e o mais incrível é que nós dividimos as mesmas tardes, você em algum lugar aqui perto, olhando pro céu e pensando as coisas mais lindas, pensando as poesias que, então, alegram as minhas tardes, dispostas no horário de servir no seu blogue de notícias estarrecedoras. Rita, por favor, termine logo o seu livro pra que eu também te carregue dentro da bolsa, e então volte ao blogue e me dê sempre notícias boas sobre passarinhos.




(à espera do livro de Rita Apoena, mas conheçam o blogue mais mágico de toda a internet: http://ritaapoena.zip.net/index.html)

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Resposta

Querida amiga,

não é óbvio que eu penso em você? É claro que penso... e também sinto saudades, se você quer saber. Sim, eu também gosto de você, e se não gostasse não voltaria sempre a ver se você entrou na lista dos aprovados. Não usam sempre aquele terrível lugar-comum de que a gente não manda no próprio coração? Pois é, não tem jeito, não consigo te colocar pra dentro daquele pedacinho mais aveludado do meu, não importa o quanto tente. Saiba, eu sinto muita dó de te ver sempre esperando na ante-sala, mas nós sabemos que você não vai passar de lá. Não é necessariamente que eu não queira, é só porque eu não consigo acender as estrelas nos meus olhos por você, não consigo. Minha amiga, saiba que eu te quero bem, muito bem. Você não merecia sofrer tanto, ainda mais por essa criança boba que eu sou, e você é tão maior... você merece tanta coisa...