domingo, 24 de agosto de 2008

Cartas avulsas

Querido,

1. será que eu construo padrões para o resto da minha vida agora, nesse instante? Eu sei que é só a primeira vez que passo por isso, mas me pergunto: será que será sempre assim?

2. Me pego perguntando o que você sentiria se realmente lesse as cartas que te mando. Será que pena? Ou finalmente alguém conseguiria entender o como eu sinto o mundo e compreenderia quão perfeita eu poderia ser? Ou será que você se perguntaria por quê ainda não fugiu?

3. Gosto de apresentar questionamentos a você (e consequentemente a mim também), a Babi chamaria de provocações, o mundo diria que são inutilidades, para mim, nada de sério. É só que eu gosto de pensar.

4. Quando você sai, você pensa em mim? Quando você pensa em mim? Você sente saudade? O que você lembra de mim? Minha risada foi marcante? Ou foi o meu jeito de falar que te prendeu? Algo te prende em mim? Existe vida após a morte? Você lembra de mim? Você sente saudade?

5.O que rege uma vida?
Um olhar, um aperto de mão, uma casa nova, uma promoção no emprego, ter filhos, aprontar as malas, escrever poesias, fazer música, ganhar dinheiro, dizer coisas ao mundo, continuar vivendo, a falta de regência, um dia de silêncio, uma roupa de marca, a festa sábado que vem, o vestibular daqui a dois meses, uma noite mal-sucedida, um livro novo, um livro velho, um dom reconhecido, o sucesso, um amor de verdade?

Não espero resposta para nenhuma das cinco cartas.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Aula de Física

Hoje aprendi que apesar de tudo, não posso provar a ninguém que é a terra que se move,
e não o resto do universo.
Aprendi que quase nada do que aprendi eu posso provar,
aprendi como se aprende a crer em Deus, aprendi por acreditar em quem me ensinou.

Mas logo depois, aprendi que a terra se move sim! (admito, non sense)
A 1600 km/h, ligeirinho rapidinho assim!
Então eu estou sempre correndo, ligeirinho rapidinho desse jeito!

Pára! Mundo, pára que eu quero descer!
Mundinho corre rápido demais, vamos mais devagar, por favor?
Vamos apreciando a vista, vamos mais devagar?
Hoje eu queria que o dia durasse mais, mundinho, podemos ir apenas caminhando?

E ao professor que me disse que eu não posso provar nada a ninguém, saiba você:
o mundo se movimenta porque eu sinto!
Aqui dentro, sinto o mundo girando!
Eu posso provar pra mim. Ah, eu posso.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Garimpo

Uma cena bonita. Um pôr-do-sol, as luzes se misturando no céu, o laranja, amarelo, o início de uma noite estrelada.
No chão, um riozinho passa no meio da paisagem. Corta os dois morros, corta o sol em dois, talvez até o mundo inteiro ao meio! Dos lados do rio, campos verdes e floridos, as flores das mais belas cores, tons e formatos. Uma cena bonita, apesar de bucólica.
Uma menina. No centro de tudo, uma menina. Sentada na beirada de uma das metades do mundo, olhando a paisagem, as cores tão lindas ofuscadas pelas lágrimas que caem engrossando o riozinho. Uma cena bonita, mesmo triste.
A menina se levanta, levanta as calças até os joelhos e entra na parte mais rasinha do rio. Lava o rosto, não vale a pena chorar agora! Agora é preciso encontrar algo que valha a pena ali dentro. Algo de precioso, algo em que se apoiar. É preciso procurar bastante, lá no fundo, para que se possa acreditar no bom.
Pega na beira do rio sua enorme peneira e primeiro joga lá em cima todos seus sentimentos. Então, coloca muito bom-senso por cima, para separar as pedras das outras coisas podem brilhar. Depois de chacoalhar sua peneira por algum tempo, joga fora as mágoas, joga fora o ressentimento, o rancore as más lembranças.
Consegue distinguir ali no meio suas preciosidades: cada riso, cada amor, todos os momentos bons, todas as vezes que tomou banho de chuva, quando ela vê o passarinho cantando e sorrindo, a natureza dentro dela. Guarda-as numa caixinha e continua olhando sua peneira. Vê ainda tantas coisas!
Percebe, são coisas boas, mas não tão boas, e coisas ruins, mas não tão ruins... O que sobrou ela devolve ao rio.
Agora ela se sente solta para continuar em paz, para seguir sua vida a partir dali.
Agora ela se sente em paz.