segunda-feira, 16 de junho de 2014

deixe-me morrer as minhas mágoas de amor
deixe-me matar este silêncio impenetrável da noite
deixe-me tecer com mãos de artesã este manto que é também mortalha
deixe-me procurar; deixe-me procurando no escuro
deixe-me exorcizar esta esperança ancestral

deixe-me, apenas deixe-me arrancando meus cabelos e tateando o breu de mimesma porque eu ainda tento e enquanto tentar preciso sangrar essas feridas antigas e preciso que

deixe-me

de samba

Hoje faz uma semana do teu beijo roubado no meio de uma noite no meio da semana
aquele primeiro que foi como o soco (bom) na boca do estômago...
Tô tonta até agora.
Tô trançando as pernas feito bêbada...
Tô no ponto do samba.
Fechar as gavetas. Fechar os armários. Guardar as roupas. Enfileirar os sapatos. Andar na linha. Sorrir na rua. Sorrir na internet. Tomar vitaminas. Tomar ômega 3. Tomar remédio pra dormir. Limpar a casa. Sorrir enquanto. Continuar dizendo pra si mesmo: vai ficar tudo bem. Acreditar que o amor pode durar uma noite. Acreditar. Não mostrar onde a pele racha. S-o-r-r-i-r. Estancar o sangramento, Ser asséptico. Ser independente. Se convencer diariamente. Beber muito. Fumar maconha. Tampar a cólera. Tampar onde é feio. Não contar para ninguém. Sobreviver às horas. Sorrir ligeiro. Não amar demais. Não externalizar. Não odiar demais. Não dizer. Em hipótese alguma morrer.
esta lua ainda vai nos devorar. Compor o sonho. Esta lua gorda de futuro de encher marés de mover:  meus pés como ímãs na tua direção o conflito eu versus você versus a lua você já nasceu poeta e eu já nasci sozinha e a lua nesse sorriso antigo de escárnio dizendo olhem que fracasso fracasso branco limpo fracasso crescente sonhou demais apostou demais a lua também chora lá de cima

a intocável solidão da beleza
os seus segredos insondáveis
seu som
sílabas surdas te ouço emitir
a música da sua voz
a solidão das tuas ausências
do teu silêncio