sábado, 31 de março de 2012

Medeia

Assisto aos sonhos nossos sendo postos à prova: e falhando...
No reflexo o olhar treme. Embarga a voz. Falha o ar.
Não!
De novo não!
Enxuga essa água. Dela fazer-se-á grande represa, teu Trono ao Mar.
Controla esse corpo
Segura o teu choro.
És mulher e és bem mais que isso.
"Ninguém vai sambar na minha caveira!"
De novo não.
Deixo os filhos se degladiarem até a morte e assino embaixo:
mas eles já estavam mortos!

sábado, 24 de março de 2012

Diálogo das Flores Mortas

- Não é que sinto saudades da sua companhia; sinto falta de saber que você com certeza me ama.
- Mas desta vez não tenho dúvidas e o meu sentimento é o mais genuíno de todos: eu não te amo mais.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Eu, Ariana, filha dos meus pecados e mãe das minhas dores. Me apresento assim a ti, crua como os deuses escolheram; mortífera como nunca antes; autodestrutiva de unhas - ou garras - afiadas; mortal, inegavelmente mortal. Me mostro assim como se falasse a língua dos bárbaros e me lavasse na lava fúnebre dos vulcões. Eu não quereria me conhecer, não fosse o fato de que me sou. Não pedirei que não tenhas medo de mim, pois sei que meus dentes arreganhados assustam. Mas também sei amar, voluptuosa e candidamente. Peço apenas, então, que tenhas coragem de vir. De colar o teu corpo no meu corpo triste e inconsolável e me prometer que eu não sou assim, que tu já descobriu o meu Grande Segredo, que tu já descobriu que eu também sangro... Que tenhas a coragem de cuidar de mim mesmo se a Lua virar e eu quiser morder e chorar ou descer pro mar, a brincar de Ismália... Imploro que tenhas a coragem de vir me ver.

Querido,

Preciso do seu silêncio: antes dele eu não existia. Antes de conhecer a tua ausência ainda me faltava algo; algo do que sentir falta. Me perdoe se lhe pareço confusa, mas esta é a minha maior e mais imediata descoberta: eu não existo sem a falta de ti. Não sei nada da sua pessoa e é justamente esse ignorar-te por completo que me faz continuar, caminhar na insegurança do teu terreno incerto. Tu és pleno na minha imaginação e pleno mistério no dia-a-dia e se te escrevo cartas é porque não quero!, não quero transcender o esse teu portal. Eu não quero descobrir a tua fisicidade. Eu não quero descobrir o teu cheiro. eu te quero assim: interrogação e mistério. E é esse o homem que eu escolho amar.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Inventei uma história de amor

Eu amo os seus olhos que assim vistos de baixo parecem ainda mais sábios... eu amo os seus olhos que são da cor da lua e que quando eu te vejo, muito de perto, lacrimejam como se você estivesse procurando A Grande Resposta dentro de mim (como se eu pudesse ser A Grande Resposta, talvez). Eu amo o cheiro de Dama-da-noite nesse jardim onde te encaro e não sei como te provar que te amo acima de todas as coisas. Amo as tuas mãos que brincam com os meus cabelos como se eles fossem os meus pensamentos - e amo a tua calma ao bagunçar meus pensamentos. Eu amo o teu jeito, o teu trejeito todo, completamente teu, eu amo o modo como você mistura o ar ao passar, como se houvesse música... como se os anjos tocassem alfaias só para você viver de batuque... Deixa, tu deixa o meu coração ser a tua alfaia?