domingo, 30 de janeiro de 2011

- Roeu as unhas, foi?

- Minha vida está em tamanha instabilidade que pouca coisa se mantém inteira em mim...
Preparar-se para ser o melhor possível.

O teu silêncio que envolve, dilata as pupilas e me faz querer te fazer o bem... Quando sinto medo recorro aos teus jeitos, aos teus cheiros, e está tudo bem. Agora tantas chuvas dissolvem minh'alma e eu não sei como diminuir essa angústia. Me abraça enquanto é tempo...

Volta enquanto é tempo para nós dois.
Se eu soubesse qualquer resposta, responderia até aos que não me perguntam nada: aos transeuntes negligentes, às moscas quase mortas no batente, à aranha que agora mora no canto da entrada do mundo. A você, se chegasse perto. Difícil é quando me perguntam - e me perguntam tantas vezes! - e eu não tenho como explicar. Difícil é quando batem à porta apenas para ouvir o que tenho para dizer, o que é que decidi, e nada mudou aqui dentro. Mais difícil é quando falam, falam, desfiam opiniões por tantas horas que até meu relógio se cansa e dorme um pouco. São tantas opiniões que a cada minuto me torno uma pessoa mais confusa. Não sei... Eu não sei!

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Trechos

(...) O arrependimento é o menos lícito dos sentimentos. É quando assumimos o pecado e ainda desejamos que ele não tenha existido. Até o fim com os próprios erros!, é o que eu diria. Mas quero a redenção. Por isso não posso falar. (...)

(...) sabe quando uma pessoa supre tudo? Hoje me sobra companhia, mas nada supre minhas ausências. (...)

(...) queria tanto ver verdade nos seus olhos claros como um dia que não quer acabar... (...

(...) Quase falo. Mas ainda não é hora, vou permanecer em silêncio. Sou silenciosa, apesar de me trair com a prolixidade. A verdade é que se pudesse me superar, me manteria calada todo o tempo. (...)

(...) Quando me entrego, sinto tamanha frustração que preferia ter sido machucada no corpo, e não na alma. Cortem minha pele, mas não sejam indiferentes às minhas pequenas epifanias ou desgostos! Hoje eu gostaria de explicar meus atos falhos, mas existem palavras que eu talvez jamais poderei dizer. (...)

(...) Talvez eu não me sinta salva porque não mereço ser salva. (...)

(...) Quando o sol queima a pele de modo desigual, sabe como é? É assim que me sinto, só que na alma.
"te desejo uma fé enorme, em qualquer coisa, não importa o quê, como aquela fé que a gente teve um dia, me deseja também uma coisa bem bonita, uma coisa qualquer maravilhosa, que me faça acreditar em tudo de novo, que nos faça acreditar em todos de novo, que leve para longe da minha boca esse gosto podre de fracasso"


(Caio Fernando Abreu)


No desfilar do vento, o tempo acabou. Me desculpe, mocinha, não trabalhamos mais por hoje. Fiquei na fila da Roda-gigante. Por favor, não volte mais, não é bem vinda aqui. Até as portas que eu fechei e não sei como abrir: falhas, falhas, falhas. Ouve o pulsar da noite? A madrugada prossegue indiferente à tua boca seca. À tua garganta estúpida. Aos teus pensamentos supérfluos, que você considera tão sábios. Estes teus lábios que dissecam palavras profanas que você nem sabe o que significam. Não deseja sentir mais nada? Erga-se como algo maior do que um ato falho. Quase nascida por acaso.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Tenho de falar de.

A vida arde um pouco. Para mim, a vida é quase cítrica. Arde sem arder, no fundo da garganta. O problema é quando há a vida em cima do corte. O limão na ostra. Os meus cortes se contraindo ante a vida. Quase cicatriz: dor. Assim, com minhas feridas abertas, exponho-me à vida. E então arde tanto que eu me contorço. Não é balé. É vida.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Querido,

não sê tão veemente. Sou boa, apesar de tudo... Erro tanto, meu amor, que muitas vezes também me mutilo atrás de perdão. Sou uma daquelas pessoas que nem sempre pensam muito no que fazem. Escrevo a lápis desejando um dia poder apagar tudo. Pena que as lembranças não são como palavras. Lembranças são cicatrizes na parede da alma: duplamente irreparáveis. Não vou me explicar. Sou de difícil interpretação. Ouço músicas de amor mas por vezes o refuto, desejando apenas lascívia. E então peco. Quem me redime? A loba arranhada. A gata morta. A pomba livre. Minha própria essência. Por isso peço que não me condene. Ainda não.
A tua ausência grita. Você não está aqui: palavras profusas em silêncio. Como não pudesse escapar dos medos que me arrebatam, olho para os lados e tudo tem o seu cheiro. Dúvida: será alento ou repelente? Seu cheiro me acalma - mas isso é segredo. O seu cheiro na minha pele é ausência. Grita nos meus poros. O seu riso no meu ouvido é ausência. Grita num labirinto sem saída. Teu hálito na minha boca é ausência. Grita através das minhas cordas vocais. O teu toque na minha mão é ausência. Grita tão alto que me arranho toda para te calar. Os meus arranhões escrevem o seu nome no meu corpo... Seu nome escrito no meu corpo é ausência.
Quero escrever um texto comedido, que preze pelos bons costumes da literatura. Quero escrever um texto que peça licença para entrar, que não se demore e, ao acabar, agradeça a compreensão do leitor. Gostaria de escrever com métrica metódica, a fim de talvez respeitar a etiqueta. Mas as palavras vêm em profusão, aparecendo sem sequer olhar para os lados antes de atravessar a rua. As minhas palavras rebeladas estão fazendo piquete na porta. São violentas, ásperas, inóspitas. Você não gostaria de ouvi-las: não fazem sentido. Não têm bom gosto nem bom-senso. Hoje as minhas palavras são caos.
Vou trazer teu rosto estampado no peito como um relicário.
Baco. Me escuta, homem
de linhas duras, mas tênues.
Pouca coisa me segura ao que sou.
Meu amor que é teu.
Responde por mim quando me perguntas
se quero partir.
Nunca.

A noite da grande paz, da grande paz dos seus olhos.

Deitados os dois, esperando o mundo parar de rodar. O que se sente é a Grande Paz. No emaranhado dos nossos cabelos, dos nossos cheiros,dos nossos dedos, delineia-se um sentimento novo. Entrega. Você não me teme. Eu só quero te descobrir mais e mais. Eu ouço tua respiração. Nosso coração no mesmo compasso. O que se ouve é a Grande Paz. Música. Você tão perto que é quase eu. Aqueles dois corpos que eram um, pois dividiam o mesmo espaço, o mesmo pensamento e, quem sabe, a mesma alma. Tudo o que há no mundo é a Grande Paz.
Sentes medo, bicho? Está escondido como quem pecou e não há a quem recorrer, ou meio de obter redenção? Então é só isso, bicho? Apenas medo... Vê bem, bicho, tudo é mais do que isso. O teu medo não cabe a mais ninguém. Quando você sentir isso, lembre que existem bilhões de seres como ti sentindo a mesma coisa. Portanto nenhum deles vai se importar muito.

Não chore atrás da porta agora.

Não se esconda debaixo da cama. A tua percepção de mundo é tão incompleta, as verdades tão fugidias, as utopias tão fugazes. Ser, você não tem nome. É criação de algo que não pode explicar. Coisa animada, não está vivo. Bicho estúpido, instintivo, privado de senso de ridículo, de vergonha, privado de tudo o que te torna

humano?


(Fraqueja, bicho.)
(...) Um silêncio tão denso que se torna palpável, um quase-medo das forças que regem a escuridão, uma respiração entrecortada (jamais saberemos se essa respiração nos pertence ou não...), todos os pensamentos postos em banho-maria desfilando sobre os nossos olhos que não sabem se estão fechados ou não - tudo se mistura no escuro... (...)