segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Querido,

parece banal, mas não é: estou com saudade. O quê? Como assim? Eu explico: parece banal porque muitos já disseram isso antes, para você ou não, de modos inclusive mais belos; mas não é banal porque agora, aqui, na boca do lobo, eu pensei em você: como se o flashback da minha vida, no momento de me entregar ao abismo, fosse a imagem tua. Irônico? Curioso? E eu senti saudade... de quê? Eu me pergunto, de quê? Do teu mistério. Do que te ronda. Da tua presença agridoce. Do amor que eu sou capaz de sentir. E por isso te escrevo, porque essa saudade não cabe mais nos limites do meu corpo e eu preciso conseguir dormir.

Nina,

sabe?
Eu também tenho vontade de gritar! Gritare gritare gritare!
Acontece que o grito não sai. Por isso não podem tocar o plexo solar: ele guincha de angústia. E assim é o meu corpo: uma dor incoberta, secreta, implodida. Eu sou o grito implodido da noite. Eu sou a própria noite - e por isso quando faço barulho todos se assustam. Eu sou a noite calada - e as minhas estrelinhas queimam em silêncio, onde nenhum pode ouvir - podem apenas ver a luz e creem ser indolor. Acontece, menina, que eu não sou indolor! Tenho o plexo em chamas, como as estrelas da noite. Minha alma arde e eu sinto raiva, impotência, medo... mas você não sabe, porque eu não te contei. Pois bem, agora digo. Eu também tenho cortes incuráveis.

sábado, 6 de outubro de 2012

Qual é a distância segura de um abraço? Como não enterrar minha cabeça entre os seus braços e deixar que você me leve para o teu mundo? Se eu realmente desejasse estar de mudança para os seus labirintos, mas e se para você tudo não passar de um pega-pega entre braços e cintura? Até onde podemos ir? Onde é mais seguro: dentro ou fora de você? Eu fico me falando "honestamente, minha filha, onde é que você quer chegar com isso?"
E a resposta que me dou é sempre a mesma: não faço ideia!

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

- Por que tão silente?
- Os fantasmas estão num sono leve, muito leve... mesmo se sussurrasse tudo o que desejava te dizer, eles acordariam. Depois de ditas, as coisas se tornam reais. E quem é que cantará as canções de ninar aos meus fantasmas?
(...) você tem a gana de salvar o mundo com as próprias mãos, minha filha, e por isso anda assim: fodida, destrambelhada, sem lugar para se apoiar. Você tem essa arrogância de aspirar a salvar os outros, como se esse seu sorrisinho impotente fosse realmente capaz de ajudar alguém. E eu te digo: não! Não é o suficiente! Esse gosto amargo de cigarro não sai da boca. Você precisa se salvar antes. Ou enquanto. (...)