sábado, 20 de outubro de 2007

Sobre o luto.

Laurinha vivia a vida feliz num casamento feliz. Amava seu marido como jamais havia amado qualquer outro homem. Amava sua vida, seus lindos filhos que cresciam, logo já seriam adultos. Havia feito muito pra ter aquilo tudo, e dava muito valor a isso tudo.Seu marido era um homem maravilhoso, em todos os sentidos, ele era o príncipe encantado que toda mulher sonha, apesar de seus defeitos (afinal, quem não tem defeitos?). Mesmo em seus defeitos, Laurinha o achava incrível, e ele realmente o era, até o dia em que repentinamente sumiu. Foi embora dizendo que não a amava mais, que não a queria mais.A mulher não acreditou, achou que era apenas uma piadinha de mau gosto. Mas viu que não, viu que ele realmente tinha partido. Como aquilo podia ter acontecido? Eles se amavam tanto...Laurinha não era mais Laurinha, era Laura. Laura não sabia mais nem quem era, afinal, o que era sem ser o que sempre foi, o seu amor?Não sabia mais como era a vida sem ele, sem sua maior verdade. Não sabia mais como era dormir sem sentir seu corpo quente ao seu lado, não sabia como fazer compras sem que ele estivesse junto, a ajudando. Não sabia como agir frente a várias situações...Mesmo assim continuou vivendo, continuou seguindo sua vida da mesma forma que seguia antes daquele choque. Ia ao cinema, teatro, saía, ría (apesar de suas risadas não terem mais a menor alegria), vivia. Como se nada tivesse acontecido.Ela começou a sonhar com ele, sonhos terríveis em que acordava chorando e não podia mais dormir. Ele estava em todos os lugares, mas nada abalava sua imagem de mulher perfeita, nada abalava as máscaras que ela tinha construído a sua volta.Entrou em depressão, pensou diversas vezes em suicídio, mas continuava sendo a mesma Laurinha (Laura.) para os outros.Passaram-se anos desde o terrível dia em que ele foi embora. E ela continua sendo a mesma Laurinha(Laura.) de antes. Sofrendo em seus pesadelos, sofrendo em seus banhos com a gilette, sofrendo ao acordar, sofrendo ao levantar, sofrendo, sofrendo, sofrendo. É como se o sofrimento de Laura nunca vai se esgotar. "Por que?" ela se pergunta, "Por que eu não me solto desse sofrimento? Por que as pessoas sempre superam essas perdas, e eu continuo vivendo desse jeito?"E ela não entende que ao tentar esconder a dor, apenas a guarda mais fundo, apenas deixa que se alastre como uma doença mortal. Ela não pode entender que o luto é necessário, ela não entenderá que a tristeza só passa depois que ela se entregar pra isso, depois que ela viver isso intensamente. Depois que ela viver essa morte. Depois do luto.

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