quarta-feira, 23 de abril de 2014

Eu quero chorar por cada palavra dita que você não ouviu. Eu quero morrer por cada boca que não foi a tua, por todo esse tempo - por toda essa vida - em que estive à tua espera. E digo isso porque a tua espera foi sangrenta e dilacerante, feita da matéria da minha carne em cotidiana tortura: que me ria embriagada para ser voraz e selvagem a quem não fosse você, e mistério e desejo e curiosidade. Mas torturada pela minha própria unha afiada eu dormia encolhida e suplicante, nada além de um filhote perdido. Eu quero voltar atrás pelos anos em que a sua ausência desconhecida me movia para o corpo dos homens que não me amavam e por cada gozo seco que já veio à terra porque você ainda não.
Existe, assim, algo em mim que se mortifica pela tua vinda, porque só depois dela a leviandade exposta como uma chaga pôde sangrar. Arrependimentos, súplicas de um amor que foi sempre negado, sempre e novamente negado à exaustão enquanto você não vinha. E na vinda tua um desespero mortal: que seja a resposta! Que me salve dessa intangível solidão! Que me busque onde quer que eu tenha me perdido e que me mostre a verdade. Que o sua vinda traga o tempo da verdade.

(15.03.2014)

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