quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Querido,

escrevo apenas porque sei que você nunca vai ler esta outra carta, sempre endereçada mas nunca entregue. Com o passar do tempo tenho pensado menos em você, como pessoa, e mais em tudo o que foi - e é - como acontecimento. E nos tratando como acontecimento, consigo honrar com mais respeito os nossos tratos que nunca foram feitos, mas que tácitos calaram bocas que se desejavam e aquela sede de toque que não se saciava, apesar de. E desse gesto, que um dia julguei interrompido mas que hoje compreendo, desse gesto nasceu um bicho calmo, com o gosto do fundo do mar, um bicho lúcido, que acha a paz na ternura de um encontro que nunca se deu. Cantando baixo as canções que um dia teriam sido nossas, embalo este amor prematuro... até ele cair no sono novamente.

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