quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Ela está com a alma roída até o osso. Eu te pergunto: até onde você tem a coragem de ir? Até onde você pode ver suas escaras e feridas, que ainda não cicatrizaram, sem desmaiar de nojo ou remorso? Te previno: esta moça está arredia feito bicho ameaçado e quando você chegar, faceiro, querendo festa, ela vai te arreganhar os dentes e tentar morder (torça para a lua ainda não ter virado). Você encara? Você deixa a habitual covardia de lado? Depois de morder e depois de cuspir impropérios e de mostrar: você me roeu aqui, aqui e aqui, olha!, e isto aqui é o sangue e isto aqui é o pus inflamado da minh'alma e que me sobrei braseiro somente, dos gestos interrompidos e de tudo o que podia ter sido mas não foi. Depois de querer também te corroer com o mesmo ácido que você derramou sobre a pele quente dela e de esgotar esta raiva ancestral, se você tiver a coragem de ficar: a loba vai se desaguar em corsa e aí vai ser mais doído de ver, porque enquanto a loba guincha, grita e arranha num espetáculo de crueldades, a corsa desaguada é a dor pura e silenciada da noite, escondida entre camas e cobertas, entre palavras doces e lágrimas que ninguém nunca viu nem verá - e ela, corsa acuada, balbuciará de seus esconderijos: é tarde demais?

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