domingo, 9 de maio de 2010

Construção

Eu, que tive medo de sentir dor
me construí como uma parede:
cobri a alma, o vazamento
as goteiras que escorriam constantes pelos meus olhos
cobri tudo com revestimento colorido
e selei com rejunte
Eu, pra não me entregar de vez,
me escondi por trás dos quadros...

Mas você não precisou de escavadeiras
ou de bombas de implosão...
Seus dedos derreteram o rejunte,
derreteram os quadros, a tinta...
E das fendas entre as pedras
viu brilhar um pedaço de mim que não lhe pertencia
você viu...
E foi embora.

Daonde hoje escorrem as mais verdadeiras lágrimas,
pois a minha alma é uma fratura exposta
na parede que você destruiu.

Um comentário:

Eduardo Espíndola disse...

quando você for reformar essa parede tenho certeza que você vai fazê-la mais resistente, mais forte, mais impermeável, mais grossa.
mas aí vai ter outra mão poderosa que vai adentrar com facilidade, indo embora depois do rombo outra vez.
e assim é até a gente virar uma fortaleza.