quarta-feira, 28 de abril de 2010

Torturante

Não abra essa porta. Proíbe-se a entrada de estranhos no recinto. Por favor, não insista.

Pois que entremos pela porta escura, num lapso do vigia.
Entremos num quarto branco, brilhante, limpo, cujo sabor cítrico agrada aos sentidos. Você quase teria vontade de se manter lá dentro, não fossem óbvios os motivos escusos de tanto cuidado.
Encoste a porta com cuidado e não feche os olhos ao que está por vir. Não faça barulho. Não queremos que te descubram.

Olhe ao canto. Verá um balde azul, cheio de água. Verá um rapaz ajoelhado, molhado pela cintura. Perceba que seu rosto se mantém impassível. Perceba que seus olhos estão secos, apesar da água. Não comente com os seus amigos. Não conte a eles como um rapaz não muda de ideia em um lapso de tortura.

Agora veja: essa garota em pé ao lado do rapaz. Essa garota sou eu. Sou eu quem chora com uma dor lancinante, apesar de ter assumido a postura da torturadora. Eu seguro o rosto do rapaz nas mãos, veja como eu estou triste! Enfio-o no balde, e o ar me foge aos pulmões, quanto mais lhe mantenho afogando.

Eu, que não suporto mais a asfixia, levanto-te e me perco dentro dos seus olhos. Secos.

me ame. pelo amor de deus, me ame. mude de ideia, eu valho a pena. me ame novamente.  POR FAVOR, MEU AMOR, VOLTE ATRÁS, LHE IMPLORO, POR FAVOR ME AME DE NOVO.

Os olhos secos.