domingo, 11 de maio de 2014

Ainda sobra muito sangue pra sangrar em quintas feiras como essa em que a sua presença é uma bala cravada bem no plexo solar em que o seu silêncio é uma faca fina desfiando a minha pele de cima a baixo no corte mais transversal eu posso me afogar no choro eu posso espernear gritar mas nada alivia essa angústia da tua presença e do teu silêncio nenhuma palavra arranca a bala do fundo do peito nenhuma canção de ninar aplaca essa palavra que ecoa dentro da minha alma: fracasso. Talvez você pense nisso tudo e talvez a minha presença te seja um incômodo mas você não morre eu morro morro porque isso fracasso rejeição sou insuficiente sou pouco eu sou muito pouco não te serve não sou impossível o suficiente não sou mistério suficiente não sou nada o bastante para ser escolhida ou sou tão pouco que posso servir de brinquedo para o teu silêncio e esse teu olhar cruel que me procura no meio da multidão e esse sorriso cruel que diz você é pouco para mim como uma bala rachando o osso da angústia atravessando a carne que não parou de sangrar até agora o sangue escorre e pinga no chão eu limpo e sorrio pra você e tento ser linda e tento descobrir o que um dia te fez vir até mim e quero que isso brilhe pra você se arrepender mas é um brilho morto e você sabe e me olha com dó através da multidão eu sei eu sei das minhas escaras visíveis eu sei das cicatrizes ainda vermelhas eu sei dos olhos inchados eu sei desse gosto de desesperança eu sei que você vê isso e sei que para você tanto faz
mas você veio a despeito de toda honra de uma honestidade sacra a despeito do que é razoável você veio e me remexeu como uma criança cutuca o formigueiro para vê-lo por dentro desse mesmo jeito minhas entranhas abertas você com uma vara cutuca as entranhas se contorcem você feito criança ri de prazer você cutuca mais bagunça mais ri mais me olha com dó e vai embora a chaga aberta sangrando você vai embora com os seus amigos e dali a uns dias me manda uma mensagem qualquer um sorriso qualquer um olhar qualquer através da multidão eu me contorço eu me remôo eu me destilo em sangue em pus em lágrima e você nem fica sabendo com todas as palavras e nunca pensa em mim quando deita sua cabeça e pega no sono

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