quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Sobre a saudade

Saí para andar pelas ruas do meu bairro... para ver se encontrava nas esquinas e quarteirões, que são a minha história, um motivo paras minhas perdições. Então caminhei por todas as ruas que banhadas de sol ou de lua ou da chuva de outrora enfeitam a memória destituída de ciência ou coerência. Nos meus passos, que alternam entre o desequilíbrio controlado e o equilíbrio precário, percorri caminhos que há muito não se delineavam sob meus pés. E então concluí: aqui jaz o meu passado. Enterrado por um dos muitos prédios que eu assisti serem construídos da minha varanda - e hoje já se tornaram decrépitos, tijolos mal-empilhados sobre uma terra mal aplainada com a pintura gasta e a arquitetura obsoleta. As casas para alugar juntando pó e saudade, que foram construídas numa época outra, apesar de há tão pouco tempo, se erigiam acima da minha miséria, do meu desespero: cadê o campinho em que eu soltava o cachorro e depois tinha que sair correndo atrás para não perdê-lo para sempre? A guia mal feita, com coqueiros que impediam a passagem, agora é um calçadão feito por designers - mas também já se tornou demodê. Fugi para os refúgios de antes: Ana Carolina? Não mora mais aqui. A Helena do 24 se mudou faz tempo. André? Que André? Estou sozinha entre escombros de mim mesma. Porque então eu compreendi: eu sou esse bairro que já é uma fruta mordida oxidando em cima da mesa. Eu sou esses prédios desinteressantes aos olhos das novas gerações de compradores moradores etc. Eu sou a calçada nova que já é velha - e até o cachorro se perdeu para sempre...

Nenhum comentário: