segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Isto não é uma crônica

Éramos só nós dois naquela cama king size, aliás, muito maior do que os nossos corpos, e eu me deitava de sutiã lendo um livro qualquer, Dostoievski, Lispector, Diderot sei lá; enquanto ele fingia que me olhava. Ele estava dormindo, só isso, de olhos abertos ou não, dormindo. Eu soltei os meus cabelos e fiz assim com o braço, para parece mais selvagem. Mais perigosa. Uma risada seca agora. Selvagem? Perigosa? Patética, é claro. Eu estava patética. Livros, cigarros, cabelos soltos. Um ângulo esquisito com os braços. E o homem dormia... Toquei sua pele atrás de um carinho qualquer e ele achou que vamos transar. Transamos e eu só queria que ele não passasse de um personagem fictício de uma história que eu ia escrever, porque assim ele jamais dormiria fingindo me olhar; mas era um homem, real, acenderia um cigarro agora e eu ainda assim, cabelos soltos e ainda virgem, de uma inocência sobre-humana.

2 comentários:

Marcus Di Bello disse...

De tudo que já li seu, esse foi o que mais gostei. Precisei comentar.

Jacinto disse...

C.A.R.A.L.H.U.D.O.