terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Lembrete

Estou prestes a subir no ônibus sujo sem banheiro nem ar condicionado, com as malas repletas de passado, toda sorte de passado, desde rifa de felicidade até embalo de bala de menta para antes do primeiro beijo. Em cada mão um pedaço de papel com um endereço diferente: quem eu fui e a identidade que ainda estou para assumir. Cada pé dum lado do tempo-espaço. Regida por constelações que o dia não apaga, e o motorista desse ônibus que não dorme há três dias mas vai me levar para 'lá'. E aqui, suspensa entre o passado e o inesperado, sou terra de ninguém. A trincheira imóvel onde acumulam-se os corpos de ambos os times. Aqui, suspensa entre a coragem e a marcha-ré, te olho com teus olhos doces que me dizem adeus implorando para que eu volte, desenho com os lábios, sem fazer som algum: torce por mim, agora que eu já não torço mais, reza por mim à noite para o teu Deus, agora que já não acredito em nenhum, e guarda uma foto minha, uma recordação, porque talvez quando você me vir novamente, descendo do ônibus, talvez você não me reconheça mais...

4 comentários:

Anônimo disse...

Te leio sempre e sempre, mas nunca antes tinha parado pra compartilhar contigo o quanto gosto da tua escrita.

Esse é um dos melhores textos que eu já vi por aqui. De uma profundidade que me encantou esses elementos usados pra tocar lindamente nessa coisa da transição.

Um beijo!

Eduardo Espíndola disse...

http://www.songmeanings.net/songs/view/3530822107858743467/

Gustavo Faria disse...

Puta que pariu Junhoz, que texto foda!

Que texto foda...

Gislaine Fernandes disse...

Perfeito!
Me faz um bem enorme ler seus posts!
Isso que é coragem para fazer uma transição!
beijos